For there to be an end, there must be a beginning.

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Me lembro de uma manhã fria, estávamos no meu antigo apartamento quando começou a chover. Estava tudo perfeito. Eu ainda era chefe da patrulha, Carol estava aos meus braços e lá fora caía água como se fosse a última vez que chovesse. Carol estava despertando, ela sempre fazia um som quando acordava. Ela mexeu a cabeça no meu peito e resmungou algo, logo levantou a cabeça e me encarou, os olhos inchados e as bochechas avermelhadas. Ela limpou os olhos e subiu até meu travesseiro, encostou no nariz na minha orelha e ficou assim por longos minutos até que adormeceu novamente.

Está frio.

Minha lancha corria pelo mar, meu sinal com policial Collins foi cortado, agora ela estava me guiando através do rádio do barco. O vento batia em meu rosto e me fazia sentir muito frio. Mais uma vez a pele esbranquiçada e gélida de Carol veio a minha mente. A falta de pulsação e seu abdômen sem subir e descer como sempre. As bochechas sem o tom rosado e a boca roxa. Meu rosto queimava junto das lágrimas que desciam por ele.

— Acorde, por favor.
Me lembro de dizer repetidas vezes.

Ela estava no banco de trás, deitada. Eu corria o máximo que podia, mas a quebra das ondas me atrasava. Collins repetia algo que agora eu não conseguia me concentrar. Carol precisa viver.

— Day, você precisa aceitar isso.
Não. Não há o que aceitar.

Ao chegar na costa consegui avistar uma equipe médica. Junto estava Leonardo. Eu não desliguei a lancha quando carreguei o corpo desfalecido e duro no colo, corri pela água tentando me manter calma e de pé junto do corpo dela, estava tão pesada.

— Acorde, meu amor. Por favor. Temos tanto a viver....
Eu repetia enquanto tentava correr com seu corpo em meus braços.

— Deixe com a gente agora.
Ouvi quando senti o peso de seu corpo sair de meus braços e ir para dentro da ambulância. Corri para entrar, porém fui impedida por Leonardo.

— Agora é com eles. Eu sinto muito.
Ele me abraçou, minha cabeça se encaixou em seu peito e eu pude chorar. Eu sentia que iria morrer junto dela. Que ali seria nosso final, mas nada feliz.
***
Que bom que acordou.
Disse ele sentado nos pés da minha cama. Estávamos no chalé ainda.

— Onde... cadê ela?
Me sentei rápido e fui calçar minha bota.

— Day, para. Você precisa de um banho. Precisa descansar. A Carol...
Falou ele, porém continuei a calçar minha bota. Senti ela ser arrancada de minha mão com força.

— O-o que está fazendo?
Senti meu corpo queimar de raiva.

— Vá tomar um banho. Eu estou cansado de você fazendo tudo por todos e nada por você.
Aquilo me doeu, isso não é verdade. O bem de todos é o meu bem.

— Eu sou policial, é óbvio que quero o bem de todos. Porra Leonardo, você sabe bem como é perder o amor da sua vida...
Quando percebi o que havia dito engoli minhas palavras e fui para o banheiro de cabeça baixa, apenas obedecendo. O banheiro minúsculo e sujo de forks.

Leonardo era noivo, o nome dela era Sasha, ele a conheceu em uma lanchonete onde ela trabalhava alguns dias da semana. Ele tinha quinze anos quando a conheceu, ela dezoito. Ele ia todos os dias que ela trabalhava e passava a tarde com ela. Não havia nada romântico, apenas as intenções de Leonardo. Esperava todos saírem para poder puxar assunto com ela, eles conversavam sobre tudo e Leonardo sempre dava uma boa gorjeta. Ela o ajudava com os deveres de casa e ele a ajudava com matemática básica, ela era universitária. Eles noivaram quando ele tinha vinte anos, ela vinte e três. Léo participou de uma investigação séria e vamos dizer que, o criminoso tinha amigos que ficaram aborrecidos. Quem pagou por isso foi ela, invadiram a casa e a mataram com cinco tiros depois de uma longa tortura. Leonardo depois disso nunca mais foi o mesmo jovem e romântico.

The Moonlight (Dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora