Go or not go?

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As gotas de chuva batiam nas janelas durante a madrugada, isso me lembra do dia em que conheci Carol. As cortinas me impossibilitavam de vê-las, mas eu sabia da grande neblina que havia lá fora. O relógio marcava 5h47, foi quando cuidadosamente me venci dos braços de Carol, vestindo qualquer coisa que achei no chão e indo até a cozinha grande que Carol dizia ser pequena e aconchegante.
Não saber muita coisa sobre ela me intriga, qual seu cheiro predileto? sua cor favorita? como foi sua criação com os seus tios? Bom... ela também não sabia muita coisa sobre mim, mas ela também nunca perguntou (isso me faz pensar que nem eu perguntei). Voltei para o quarto, o cheiro de café já estava chegando até lá, e me sentei ao lado de Caroline.

- Amor? - a chacoalhei um pouco até ela abrir os olhos. - Como foi sua criação? - Ela se virou para o lado oposto, mas continuei chamando-a até ela se dar por vencida.

- São quase 6h00, Day. - Disse com a voz rouca e nervosa. Logo ela se pôs de pé, nua, o corpo perfeito de Caroline é um espetáculo. - Você sempre me olha assim... - Ela se aproximou vestindo minha camiseta antiga, ela ficou com ela mesmo depois de ter ido embora. Selou nossos lábios e foi para a cozinha.

Segui seus paços pelo chão gelado, a sala e a cozinha se encontravam cinzentas por causa do clima. Ela pegou duas xícaras e as encheu de café, pegou um dos sanduíches que eu havia feito para ela e se sentou de frente para a vista de sua janela. Fiz o mesmo que ela, estava curiosa o suficiente para ficar tentando lê-la.

- Minha criação foi boa, meus tios são incríveis e eu cresci em um lugar cheio de amor. - Ela mordeu o sanduíche e de boca cheia continuou. - Eu teria seguido a música se fosse por eles, eles amavam quando eu tocava piado desajeitadamente... sempre se reuniam na sala para me ouvir tocar "i'm confessin", ou quando dedilhava uma música de Billie Holiday. - Ela tinha um sorriso nostálgico nos lábios. Carol tem um dom, ela deveria ter seguido seu sonho. Poucas coisas fazem o olho dela brilhar dessa forma. - Deveríamos viajar até Manhattan, você deveria conhecê-los... são meus verdadeiros pais.

- Nisso você tem razão... - Ela me encarou, provavelmente curiosa para saber no que ela não tinha razão. - não deveria ter parado a música, é o seu dom. - Ela gargalhou.

- Acredita em "dom"? - Assenti com a cabeça, ela me olhou curiosa. Era a minha vez. - Você nunca me contou o que fez depois de sair da casa de meus pais. - Bebi o café da segunda xícara que Carol havia enchido, mordi o sanduíche e a encarei. Não é um assunto tão agradável.

- Eu fui para Austrália, Sydney para ser mais exata. Meus pais deixaram uma boa grana, fiquei lá por um tempo até... - Olhei minhas mãos, contei meus dedos e pus-me a lembrar. - Conheci Anna lá, viajamos por mais algumas praias de Sydney, fui para Ohio e em um barzinho conheci Daniela. Saímos algumas vezes e mudamos para Seattle.

- E depois disso? - Ela bebeu o café, talvez já sabendo o final. O final era que Dani havia me traído, mas também havia muito mais coisas.

- Minha relação com ela era perfeita, a gente durou bem até o 3º ano. Depois disso nós brigávamos, buscávamos pela paixão e não havia mais. Eu não a amava mais. - Respirei tão fundo que pude incomodar Carol. - Anna era quem me ajudava, era nossa melhor amiga. No 5º ano com Dani, as coisas desandaram de tal forma que a gente não se falava por meses, não transávamos há 2 anos e eu não fiz nada para mudar aquilo. Também fui culpada pela traição. - Carol segurou minha mão, deitou em meu ombro e me senti livre de todo peso que aquele assunto me causava.

- Você teve culpa, no final todos tem uma parcela disso, mas não justifica um ato tão infiel. - Ela beijou minha bochecha e voltou a beber seu café. - E depois...

The Moonlight (Dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora