Capítulo I

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O barulho do despertador me trouxe de um rápido descanso. Lembrei-me mentalmente de dormir por mais de cinco horas por dia e de nunca mais ficar até tarde analisando pistas criminais. Isso era cansativo. Abri meus olhos com vagareza, me acostumando com o enorme raio solar brilhante vindo de uma fresta na janela. Calcei minhas pantufas e caminhei com dificuldade pelo corredor largo que levava ao banheiro. Enquanto a água descia pelo meu corpo, me recordei de como estava sendo fácil as coisas no trabalho, e isso deixava-me inquieta. Fazia algum tempo desde que eu tinha enfrentado uma questão realmente desafiadora. Tomei meu café da manhã e vesti minha tradicional calça preta de tecido social com suas barras largas, acompanhada por um casaco do mesmo modelo, um salto mediano preto e uma camiseta básica por baixo. Sequei meus cabelos loiros, deixando-os lisos.

Liguei minha moto e saí pelas ruas, repassando minha lista de motivos que faziam eu ainda me localizar em Londres e não voltar correndo para a França. Assim que cheguei no prédio onde trabalhava, passei com pressa por todos os andares, entrando na sala de meu chefe, sem pedir para ser anunciada.

— Qual meu próximo caso, senhor? — Questionei, recuperando o fôlego que perdi ao praticamente voar pelos corredores.

— Bom dia para você também, Louise — Ele me respondeu, sem tirar os olhos dos papéis que analisava com total atenção. Ele sabia sempre quem era a dona de todo entusiasmo e falta de cerimônias logo pela manhã — Claro que a senhorita pode entrar e sim, minha folga foi excelente, obrigado por perguntar — Completou, sarcástico. 

— Ah, deixe de bobagens, Sr. Payne — Falei, andando de um lado para o outro — Já passamos dessas formalidades. E seu filho? Ele já chegou?

O Sr. Payne aparentava mais idade do que de fato tinha. Seus cabelos grisalhos e sua olheiras indicavam a velhice antecipada.
Ele tirou os minúsculos óculos de grau quadrados do rosto e me observou sem qualquer animação.

— Notei isso — Concordou — Não, ainda é cedo. Você é a única louca que chega aqui a esse horário por livre e espontânea vontade. Por que quer mais um caso? Não me diga que já solucionou aquele sobre o traficante do México que lhe entreguei semana passada? — Assenti com a cabeça, afirmando o quão fácil foi — Caramba, Moreau! Todos os países sul-americanos estavam na caça do cretino!

Dei de ombros com um pequeno sorriso vitorioso nos lábios.

— Eles só não estavam procurando nos lugares certos, Sr. Payne. O encontrei no norte do México. As autoridades de lá estavam tão obcecadas com os outros lugares onde ele poderia estar que se esqueceram do óbvio.

Ele massageou as têmporas.

— Não sei como você pensa nessas coisas — Em seguida remexeu nas suas papeladas e tirou algumas cartas da pilha exorbitante — Tome, chegaram essa semana. São dos Estados Unidos, Bélgica, Alemanha e da França. Devem ser importantes. Tem até o selo oficial do governo de cada um.

— Pfff! — Soltei uma risada, me sentando no sofá em frente a janela — Importantes como as últimas? Eu já falei que não vou trabalhar pra eles. Principalmente para França.

— Eu não recusaria pedidos oficiais, Louise — o Sr. Payne aconselhou — São tantos lugares melhores que Londres! Considere as opções.

— Eu concordo — Liam, meu melhor amigo e filho do Sr. Payne, disse adentrando a sala — Vá trabalhar para algum serviço secreto ou governo, não sei. Por mais que eu sinta saudades, vou ficar feliz em te ver bem. Você tem potencial.

Acho que poderia facilmente me gabar em dizer que eu era parte dos investigadores mais importantes do ramo. Bom, isso segundo aos noticiários nacionais e internacionais e as várias condecorações dadas a mim. Fui chamada para fazer parte de diversas organizações secretas de muitos países, principalmente da França, lugar onde nasci e morei até meus dezoito anos. Porém, visto que minha família morava lá, achei por melhor esquecer todas essas propostas, visando evitar desgastes com meu pai. Papai era rígido demais e a minha vinda a Londres não ajudou a aliviar as tensões entre mim e ele, pelo contrário, isso o enfureceu.

— Não — Neguei me levantando novamente — Sem chances de ver meu velho de novo.

— Seu pai é um dos homens mais ricos do mundo, Louise. Provavelmente o mais rico de todos! — Liam me lembrou passando o braço em volta dos meus ombros — Se o meu pai fosse o homem mais rico do mundo... sem ofensas, pai — Ele frisou, olhando para seu pai — Eu com toda certeza voltaria para lá. Você não é a verdadeira herdeira de tudo aquilo? A legitima? Vai mesmo deixar sua irmã tomar seu lugar?

— Emma é melhor do que eu para assumir esse tipo de responsabilidade — Informei, impaciente — Bom, Stephanie vai garantir que seja.

Stephanie era a presunçosa mãe da minha irmã mais nova, Emma. Às vezes me sentia culpada por deixá-la sozinha com aquela louca, Emma era só uma adolescente e meu pai se preocupava demais em descobrir meu paradeiro para prestar atenção no que Stephanie fazia com sua doce filha.

— Sr. Payne, e o meu novo caso? — Insisti.

— O que? — Liam se voltou para mim com certa descrença — Já terminou o caso da semana passada com aquele traficante? Meu Deus, não estou na metade do meu sobre o assassinato em Yorkshire. Eles me pediram ajuda, mas nem eu consegui.

— E é por isso que você devia voltar para sua sala, Liam — O Sr. Payne o repreendeu — Você tem o costume de deixar tudo pra depois para fazer sei lá o que. Louise, o que acha de um descanso? Você pode ajudar Liam a parar com suas saídas repentinas. Alias, por onde você tem andado, Liam?

— éhh... eu... — Liam tentou responder, nervoso.

— Eu posso ajudar ele, mas quero um caso só meu — Expliquei, ignorando a confusão do meu amigo — Só que não quero um simples. Quero algo desafiador!

O Sr. Payne olhou encabulado para mim, buscando algo na pasta de crimes em andamento.

— Eu tenho esse, e acho bem desafiador, na verdade — Ele me entregou um arquivo — Esses caras andam fazendo a festa enquanto ninguém consegue pegá-los. Já despistaram da cola deles sete inteligências especiais de sete países diferentes e já passaram por vinte sem deixar rastros. Eles estão roubando muitas coisas de valor, inclusive patrimônios da humanidade sem valor estimável. Foram cinquenta peças furtadas e uns dez bancos roubados até agora. Vivem negociando as obras de arte em troca de dinheiro.

Folheei as inúmeras páginas com fotos e pistas sobre os últimos lugares dos quais passaram.

— Puxa — Liam disse olhando tudo com muita atenção, por cima do meu ombro — Eles são bons.

Instigada a descobrir alguma coisa que me levasse a qualquer um deles, saí do escritório do Sr. Payne sem dizer adeus, analisando cada minúscula letra, as quais descreviam todas as informações que diferentes partes do mundo conseguiram reunir sobre eles.

— Tchau, Srta. Louise — Meu chefe se despediu, sabendo minha típica mania de agir — Não se esqueça que eles são perigosos!

Acenei brevemente, sem olhar em sua direção, focada demais no quebra-cabeça que se encaixava em minha mente. Soltei um suspiro com um misto de felicidade e ceticismo.

— Sra. Lucy! — Chamei a secretária do Sr. Payne — Por favor, avise o Sr. Payne que tenho uma pista e peça para ele chamar um grande número de policiais o quanto antes. Se eu estiver certa, a quadrilha de ladrões que está dando trabalho para o mundo inteiro está bem aqui em Londres e não vão demorar para fazer algo. Mande todo pessoal que puder para fazer patrulhas pela cidade e ao menor sinal de algo estranho, principalmente em lugares históricos ou com algo de muito valor,  não hesitem em nos comunicar.

Sentei em minha cadeira giratória e apoiei meu queixo na mão que se firmou no braço do assento e me dispus a pensar. Qual era o local mais propenso e estimável a ser atacado por eles?

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Oiii, pessoal :)

Bom, eu estou meio insegura com essa história e toda crítica é bem-vinda. Eu revisei o capítulo várias vezes antes de postar, mas mesmo assim algum erro pode ter escapado. Desculpa aí.

Deem uma chance pra história, eu prometo que vou tentar deixar ela bem legal — tentar —.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora