Capitulo XX

134 17 80
                                    

— Não que isso vá te interessar, mas o Sr. e a Sra. Williams eram amigos da minha família — Zayn informou de repente, sem arriscar um olhar para mim.

Olhei para o banco de trás do carro que estávamos e vi Hassan fazendo o que parecia gostar mais: dormir. Nos encontrávamos quase chegando a Westminster em plena luz do luar, no fim daquele dia movimentado.

— Me interessa — Afirmei com um pequeno sorriso no rosto — Você não fala da sua família — Fiz uma expressão de pensamento — Vai ver é porque você está me sequestrando... é, acho que é por isso.

Seus olhos se reviraram, em um gesto de desapontamento e ao mesmo tempo divertido com a piada sem graça.

— Minha mãe... ela nos vestia, eu e minha irmã, com roupas cheias de enfeites que nos faziam parecer importantes — Ele explicou, a nostalgia manifestava-se em seu semblante conturbado — Aquilo era bem engraçado. Às vezes, ficávamos em casa o dia todo, mas ela insistia que colocássemos aquelas roupas. Meu pai dizia que estávamos iguais aos Mor...

— Moreau? — Completei, sorrindo — Quando o Sr. Williams falou seu sobrenome, lembrei-me imediatamente de vocês. Os Javadd Malik.

Ele me olhou por um mísero segundo antes de voltar sua atenção à estrada.

A família Javadd Malik trabalhava para as empresas Moreau. O Sr. Malik era o empregado mais eficiente que tínhamos, sendo ele o braço direito e também o melhor amigo do meu pai. Era difícil que ele (meu pai) confiasse tanto em alguém que não fosse minha mãe ao ponto de lhe contar seus segredos mais íntimos como fez ao amigo. Quando o Sr. Malik morreu, meu pai ficou ainda mais abalado do que já estava quando minha mãe se foi. O pai de Zayn foi sua âncora para suportar a perda dela e, depois que se foi, não havia ninguém em quem confiar de verdade. Não havia ninguém para quem pudesse chorar a perda do melhor amigo.

— A minha lembrança sobre vocês quando criança, era que eu nunca pude brincar com você e sua irmã porque tinha que sempre ter aulas de milhares de coisas — Continuei — Por que... por que você foi embora quando eles morreram? Por que não ficou no lugar de seu pai?

— Eu não quero falar sobre isso.

Assenti, triste. Abaixei a cabeça e olhei para as minhas próprias mãos, me perguntando o porquê de insistir naquilo. Zayn respirou fundo.

— Foi seu pai que mandou matar minha família — Ele disse de uma só vez.

— Ele o que?! — Perguntei assustada. Aquilo era horrível.

— Meu pai estava querendo deixar de trabalhar para o seu pai, mas ele sabia coisas demais, segredos demais do Joseph — Suas palavras se embaralhavam na minha mente — Seu pai... ele o matou. Matou o melhor amigo e a família dele apenas para esconder seus segredos que faziam e fazem toda a marca Moreau funcionar. Se eu não tivesse escapado, ele teria me matado e matado a Hassan também.

— Zayn, isso é muito sério — Rebati de modo sério — Como você descobriu isso?

— Simon Cowell, um ex-empregado do seu pai. Ele ajudou nisso.

Cerrei a mandíbula.

— Simon Cowell? O irmão da minha madrasta e o mesmo cara que estragou um acordo bilionário do meu pai por contar detalhes sobre ele em uma revista de fofocas?! — Me lembrei, incrédula — Como você pode acreditar em uma só palavra que aquele homem diz? Ele é sujo! Além disso, desviou muito dinheiro da empresa e estava metido em diversos escândalos de corrupção e violência.

— Como...?

— Santo Deus! Você ao menos tem provas? — Indaguei.

— Não, ainda não. Mas... — Ele se desconcertou por completo.

Esfreguei os olhos, buscando manter o sono que me invadia longe.

— Zayn, o Simon era corrupto. Ele era e é uma pessoa horrível — Expliquei — Você faz ideia de quem descobriu todas as falcatruas dele, sim? — Ele fez que não — Seu pai! Seu pai descobriu e o denunciou. E se foi Simon quem fez isso por pura vingança?!

— Isso é ridículo! — Exclamou, furioso — Por que ele não me matou então quando descobriu que eu estava vivo? E ele podia ter me entregue para polícia. Ele sabia que eu roubava mas não fez nada, mesmo que pudesse conseguir provas.

Apesar de negar diversas vezes, aquilo parecia ser algo que o incomodava. Ele parecia estar desconfiado em relação a isso há muito mais tempo.

— Porque ele sabia que tê-lo vivo e odiando meu pai seria ainda mais vantajoso para ele. Nem eu ia te querer como meu inimigo.

Zayn batucou com os dedos no volante, pensativo.

— Foi ele quem me deu a ideia de te sequestrar — Confessou, agora envergonhado — Ele me disse para te manter presa por um tempo e depois te matar. Era para fazer seu pai sentir a mesma coisa que eu senti e uma agonia a mais por não saber onde você estaria enquanto estivesse sequestrada...

— Meu Deus — Foi o que consegui dizer — É claro que ele ia te aconselhar a isso! Fui eu que mandei prendê-lo. Cowell tem raiva de mim, é por minha causa que ele tem que viver fugindo da polícia. Eu o caço desde o começo da minha carreira!

De repente, minha ficha caiu e meu coração se gelou.

— Você vai me matar? — Perguntei assustada.

Engoli em seco quando não obtive resposta.

[...]

Assim que chegamos no hotel em que Zayn pretendia assaltar, fizemos Check-in como Sr. e Sra. Javadd e filho. Mesmo estranhando que ficássemos exatamente ali, não tive coragem suficiente para me dirigir a ele. Ele ainda ponderava me matar?!

Entramos no quarto em um completo silêncio. Depois de tomar um banho, vi Zayn conversando com alguém ao telefone na sacada do quarto. Ele parecia impaciente e irritado.

— Louise, estou com fome — Hassan informou se aconchegando no meu colo — Vamos comer?

Apoiei minhas costas na cabeceira da cama, passei a mão pelo seu cabelo e olhei para ele.

— Não sei, Hassan — Respondi — Mas eu acho que o monstro vai pegar você por ser impaciente! — Tentei distraí-lo fingindo ser um monstro enquanto corria atrás dele. Seus olhos brilhavam em genuína empolgação.

Ele corria por cima da cama e se arrastava por baixo dela, quase derrubava os objetivos de decoração e tropeçava nas malas jogadas ao chão. Quando o alcancei, fiz cócegas em sua barriga. Hassan ria em divertimento.

— O que é isso? — Zayn saiu da sacada aparentando irritação — Você estava correndo? — Perguntou ao garoto que assentiu nervoso, pronto para uma crise de choros — Ah, é?! Então você vai ver! — E pelo incrível que parecesse, ele correu atrás de Hassan, brincando com o mesmo — Volte aqui!

— Não! — Ele implorava em meio a risadas — Para, pai!

Comemos no quarto para que nenhum funcionário tivesse tempo o suficiente em olhar para mim e descobrir quem eu era. Depois, Hassan insistiu para que assistíssemos aos seus desenhos favoritos, contudo logo estava dormindo outra vez.

Dentro do quarto, havia um outro cômodo de tamanho mediano que seria para Hassan passar a noite. Porém, resolvi ir para lá.

— Eu vou dormir no outro quarto — Comuniquei a Zayn buscando soltar-me de Hassan que se encontrava agarrado ao meu dorso.

— Não, Loulou — O garoto pediu com uma voz de sono — Fique aqui, por favor.

— O.k., eu vou para lá, então — Sugeriu Zayn já levantando-se.

— Não, papai. Fica! — Hassan insistiu mais uma vez, apertando o braço do pai.

Após sua intensa insistência, nos deitamos ao seu lado, também cansados pelo dia tumultuado. Me virei para o lado e observei o rosto calmo de Zayn. Apesar de que Hassan estivesse no meio de nós, o espaço havia diminuído e seus olhos que encaravam os meus diziam muitas coisas. Eu não sabia ao certo qual resposta buscava, e muito menos qual era a pergunta, porém ali, admirando seu olhar, sentia que já tinha minha confirmação.  

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora