Capítulo XXII

131 17 85
                                    

— E então, Louise... como você conheceu o Z? — A Sra. Ewa quis saber depois de um longo tempo em que tomávamos chá espalhados por cadeiras e sofás da casa.

Desde que eu havia chego ali, descobri inúmeras coisas engraçadas. Hassan era travesso desde muito pequeno, como eu já imaginava. O tio Scott fumava feito louco. O primo Will quebrou o jarro mais estimado da mãe e Noah o colar de brilhantes da tia.

A cada nova pergunta, um tipo diferente de desespero me invadia. Eu tinha medo de colocar tudo a perder justo agora e responder algo comprometedor.

Respirei fundo antes de desviar meu olhar de Zayn e focar na senhora Ewa.

— Acredite se quiser, Sra. Ewa — Declarei — Zayn sabe exatamente como enlouquecer uma mulher.

Por mais que minha fala tenha sido interpretada de outro modo pelas mulheres que dispunham de sua máxima atenção voltada a mim, o sentido era literal. Zayn me enlouqueceu com todos os seus roubos e seus joguinhos. Tínhamos uma piada interna apenas nossa.

Avistei divertimento no semblante de Malik que se aliviou aos poucos. Encostado em frente a lareira, seus olhos brilhavam pelo fogo que queimava sem piedade enquanto a neve cobria, como um manto fino, tudo ao lado de fora.

— Nos poupe desses detalhes — A menina que identifiquei ser sua prima pediu, esboçando uma careta — Queremos saber como foi e onde!

— É! — Suas tias e tios incentivaram vidrados.

— Por que esse interrogatório de repente? — Questionou Zayn ajeitando a gola de sua blusa de lã marrom — Depois me perguntam porque não trago ninguém aqui.

Aquela era a família de Zayn. A família que ele ganhou ao perder a verdadeira. Por muito tempo eles o livraram de ficar sozinho e o trataram como igual. Dito isso, eu sabia que o que ele disse a pouco seria levado na brincadeira.

— Você é um chato, Z! — Um de seus tios exclamou — Não sei como ela te aguenta. Não sei como você conseguiu a atenção dela, para falar a verdade!

— Ele não tem minha atenção! — Neguei encarando Zayn.

— Não?! — Indagou Malik com um pequeno sorriso — Estranho — Observou por alto — Porque eu podia jurar que eu era um de seus melhores sonhos a algumas horas atrás...

Mesmo que não houvesse um espelho por perto, tive a certeza de que estava vermelha. Me encolhi na cadeira.

— Que estranho — Retruquei me recuperando — Eu podia jurar que era o contrário. Quer dizer, quando você disse que sou um sonho para você...

Foi a vez dele sentir-se envergonhado. Parecíamos estar sozinhos e rodeados de muitas pessoas ao mesmo tempo. Era estranho.

— Interessante... — O Sr. Cassimiro nos encarou atentamente, procurando qualquer vestígio de romantismo entre nós, algo provavelmente inexistente dada as circunstâncias.

Sua família soltou gargalhadas contagiantes.

— Você é engraçada. Gostei de você! — Uma tia disse.

Sorri para ela.

— Mais chá? — A Sra. Ewa ofereceu, gentil. Fiz que sim com a cabeça enquanto ela despejava o líquido quente na minha xícara — Você trabalha com o que, Louise?

— Sou investigadora de polícia — Falei sem querer. A empolgação de falar sobre meu trabalho às vezes me traía.

— Uau! — O Sr. Cassimiro comentou — E o que Zayn fez pra chamar sua atenção? Espero que nada ilícito — Ele lançou um olhar atento a Zayn — Aliás, como é que um professor de literatura faz pra conhecer uma investigadora de polícia?

— Boa pergunta... — Zayn falou quase como em um sussurro nervoso. O assunto era desagradável a ele.

Professor de literatura?

— ãh... aconteceu um roubo na escola onde ele trabalha — Improvisei — Segui o protocolo e fui perguntar aos orientadores da instituição se tinham visto algo e foi quando o conheci. Só que ele não foi nada fácil de conversar. Na verdade, me procurava a todo momento, fingindo ter novos lapsos de memória só para passar mais tempo comigo.

Se isso devia parecer real, eu poderia ao menos brincar com a situação.

— Só que você esqueceu que foi você quem me chamou para sair primeiro — Retrucou ele, entrando no personagem — Coitadinha, estava tão apaixonada por mim...

Ergui as sobrancelhas em sua direção e acabei por sorrir. Às vezes modificar a realidade tornava-a mais atraente. Eles me perguntaram diversas coisas sobre as quais desviei com a ajuda de Zayn. Ao final, já estava muito tarde e a neve havia piorado. Exceto por Cassimiro, Ewa, Olívia, Connor e o pequeno Félix, todos partiram para suas casas poucas horas antes.

— Bom, já estamos indo. Voltamos amanhã para fazerem as roupas, o.k., Cassimiro? — Malik anunciou colocando o casaco — Ewa?

— Claro que não! — Ela ralhou — Você viu a nevasca que está lá fora? Não conseguirá nem sair do lugar sem atolar com o carro.

— Fiquem aqui para o jantar — Cassimiro aconselhou — Durmam e aí bem cedo vamos começar os preparativos do vestido.

Após uma extensa conversa sobre isso, Malik cedeu à pressão.

— Isso é muito bom! — Exclamei em completo êxtase ao provar a comida que Ewa e Cassimiro prepararam. Era de longe a melhor coisa que já havia experimentado, mesmo que tivesse crescido rodeada por chefes renomados.

— Pode comer mais, se quiser! — A Sr. Ewa insistiu — Você é tão magrinha.

Zayn teve imediatamente uma crise de risos.

— Coitada da moça! — Connor comentou rindo. Ele era um ótimo namorado para Olívia. Me perguntava a razão de nunca terem casado-se.

A refeição chegou ao fim, nos levando a ficar apenas a luz da lareira na sala de estar. O vinho que me ofereceram era produzido por um amigo deles que sabia exatamente como fazer.

— Você é legal! — Félix disse empolgado para mim que corria atrás dele e de Hassan.

— E você é muito fofinho!

Hassan parou de correr e me olhou magoado.

— Você só acha ele fofo, Louise? — Indagou — Você não gosta mais de mim? Você... você vai me deixar?

Lhe abracei com força.

— Claro que não! — Respondi segurando o riso. Ele era muito sensível — Você é a criança mais fofa que existe e eu gosto muito de você!

Ele se aconchegou no meu colo e dormiu minutos depois, abraçado a mim. O Sr. e a Sra. Lewandowski me observavam com carinho ao passo que Olívia e Connor apreciavam um olhar diferente de Zayn sob mim. Não consegui distinguir o que ele pensava, apenas o via bebericando o vinho e voltando a apoiar a taça no encosto do sofá, pensativo.

________________________________________________

O que acham de um capítulo por dia nessa semana??

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora