Capítulo XXIII

138 18 88
                                    

Assim que meus braços começaram a sentir o cansaço tomar conta de mim, implorei mentalmente para que alguém me dissesse onde era o quarto em que Hassan dormiria, para então colocá-lo lá. Felizmente, Olívia entendeu minha súplica silenciosa.

— Venha, eu te mostro onde você pode deixá-lo.

Tentei me levantar, mas Hassan mostrou-se manhoso.

— Eu quero dormir com o Félix — Balbuciou apertando minha blusa com força.

Olívia sorriu para mim, respondendo a ele:

— Tudo bem, seu manhoso!

Levei-o até onde o pequeno Félix, agarrado a um urso, dormia tranquilo em uma cama infantil de madeira espaçosa. Ao lado do menino, havia um lugar desocupado onde coloquei Hassan. Existia também outra cama de casal que presumi pertencer a Olívia e Connor. Os três pareciam uma família muito feliz.

— Ele não vai querer dormir perto do pai dele? — Perguntei em um sussurro para mulher que me observava arrumar o cobertor em cima de Hassan.

— Pfff! — Exclamou baixo — Hassan é muito apegado a Félix, não aceitaria ficar longe dele.

Fiz que sim, caminhando para fora do quarto. Me alonguei para trás, esperando me livrar da dor que invadia minha coluna.

— Acho que já estou com sono — Eu disse, me direcionando ao Sr. e a Sra. Lewandowski — Aonde eu... aonde vou dormir? Pode ser em qualquer lugar. Não me importo de ficar no chão ou no sofá. De verdade.

Ewa soltou um som de descrença.

— Imagine se vamos te deixar dormir em qualquer lugar! Durma no antigo quarto de Zayn.

Fiz que não.

— Não quero expulsar ele de lá. Posso dormir em outro lugar.

— Expulsar? — Cassimiro perguntou — Você pode dormir com ele. Não temos o falso pensamento de que não fazem isso quando estão juntos.

Me afoguei com minha própria saliva e Zayn soube apenas rir brevemente da situação.

— Não seria bem desse jeito — Ele interveio — Que seja. Pode dormir lá. Eu durmo no sofá.

— Você não vai dormir no sofá, Z! — Olívia negou — Não finja que já não fez isso antes.

Senti-me envergonhada novamente. A insistência e persuasão eram as maiores marcas daquela família, já que conseguiram fazer com que Zayn e eu aceitássemos a ideia.

— Tome um banho e vista isso — Olívia me ofereceu algumas de suas roupas.

— Não quero incomodar...

— Pegue — Insistiu.

Saí do banho alguns minutos depois e deixei que Zayn fosse tomar o dele. Andei pela casa toda à procura de um copo de água, mas tudo o que encontrei foi escuridão e silêncio. Todos já estavam a dormir. Voltei ao quarto com uma garrafa inteira de água e nada além de angústia. O banheiro que Malik ocupava se localizava dentro do cômodo onde eu estava, e tudo o que eu desejava era que ele saísse logo e que pudéssemos conversar sobre coisas sem sentido.

Enquanto ele não voltava, passei os dedos pelas prateleiras de seu antigo quarto. Porta retratos exibiam a família de sangue de Zayn. Até então, eu nunca tinha encontrado o amor, mas acreditava que perdê-lo poderia doer. E muito. Mas, mais que doer, seria perder seus parentes mais próximos de uma só vez. Isso rasgaria o coração de qualquer um. Havia também uma foto fora da moldura, pequena e amarelada. Zayn e uma mulher loira se abraçavam nela.
Analisei mais livros de literatura, ficção e muitos outros títulos que não fui capaz de identificar. Era curioso que ele inventasse ser um professor...

Me assustei ao ouvir seu grito abafado pelo vazio do banheiro e corri ajudá-lo. Não pensei no que estava fazendo até encontrá-lo sem roupas apertando uma das mãos.

Ele puxou a toalha para si rapidamente.

— Droga, Louise, saía! — Pediu — Meu Deus, por que está aqui?

— Você parecia ter se machucado — Retruquei, nervosa — Desculpe por me...

— Por se importar? Era o que ia dizer?

— Não! — Neguei abruptamente — Ah, esqueça! Você parece muito bem.

— Eu levei um choque, só isso — Ele tentou explicar.

Fechei a porta sem respondê-lo. Era extremamente vergonhosa a situação.

[...]

— Então você gostou do que viu? — Zayn provocou no escuro quieto do quarto.

Estávamos deitados na cama lado a lado faziam alguns minutos. Não trocamos nenhuma palavra antes disso.

— Cale a boca — Mandei rendendo-me ao riso e lhe batendo. Voltei a ficar séria — Eu nunca tive a chance de dizer que sinto muito pela sua família.

— É, as pessoas não param de dizer isso — Comentou com um suspiro — A verdade é que eu sou culpado por Hassan não os conhecer.

Agarrei sua mão que repousava em seu peitoral.

— Não diga coisas como essas. Você sabe que não é verdade. Hassan é um garoto incrível apesar disso. Eu não sei como vou ficar sem ele quando for embora.

Sua mão apertou mais ainda a minha.

— Louise, me desculpe por fazê-la passar por tudo isso. Você pode voltar para a sua família. Eu deixo, não vou te prender mais.

— E se eu não quisesse voltar? — Rebati me virando para ele que fez o mesmo.

— E o que te faria ficar? — Sua voz parecia esperançosa. O devolver da pergunta lhe entregava.

— As pessoas que eu ajudaria se ficasse.

— Ah, hum. Eu consigo fazer isso sozinho. Quer dizer, eu e os outros.

Respirei fundo e me aproximei.

— A verdade é que... você me faria ficar — Assumi, envergonhada.

— Nem por um segundo acho que quero ficar longe de você e isso me assusta — Ele disse, seu rosto quase encostado ao meu — Eu nunca... nunca senti isso. Nem pela última pessoa que me envolvi dessa maneira...

— Você gostava dela, não é?

— Sim. Só que... só que era como uma amizade sincera. Ela até foi embora com a família dela depois que tudo aconteceu — Ele brincou com meus dedos — Meus sentimentos por você estão me assustando.

Passei a mão pelo seu rosto e encarei-o.

— Sinto a mesma coisa e também tenho medo... mas não consigo...

Ele se pôs a me olhar, em divertimento.

— Isso por um acaso não é um plano para fugir, não é? Você já fez isso e não resolveu. Eu te disse que pode ir embora. Não precisa fingir que sente algo, Louise.

— Me tens em tão baixa estima, senhor? — Me fingi estar ofendida enquanto imitava um de seus livros que reconheci na prateleira.

— Deveria?

Sorri e o beijei. Seus braços passaram pelas minhas costas, buscando arrancar meu moletom sem pressa.

— Não deveríamos fazer isso aqui. Sua família está dormindo nos quartos ao lado. É impróprio — Lembrei-o entre beijos.

— Tudo que fizemos e sentimos até agora foi impróprio, Louise — Ele respondeu, se esforçando para continuar o que fazia — E talvez esse tenha sido o nosso maior erro.

Assenti e continuei aquilo. Ele tinha razão quanto a isso. Tudo era errado e mesmo assim fazíamos. Não pude me controlar.

________________________________________________

Um capítulo novo como o combinado ✨✨

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora