Capítulo VI

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Acordei numa manhã com Liam me chamando, após alguns dias em que eu me desesperava para encontrar a quadrilha de bandidos que vinha assolando grande parte do dinheiro e objetos de inestimável valor do mundo todo. Eles estavam quietos demais e minha intuição me inclinava a imaginar que tramavam algo.

Em sua mão, Liam segurava uma bandeja de madeira com um café da manhã farto. Sorri com o seu cuidado comigo.

Saímos para correr logo cedo, e senti que cada um dos movimentos e passos executados por mim eram observados, até os mínimos detalhes. Olhei para trás algumas vezes, em busca de algo que justificasse minha estranha sensação. Porém, não havia nada nem ninguém. Payne parecia diferente, como se estivesse furioso. Ele olhava atordoado para o relógio do pulso e aumentava o ritmo dos seus pés ágeis a medida que o tempo passava. Era estranho que falasse apenas o essencial, o que não era de seu costume. Mais tarde, ele foi para casa, deixando-me na porta do meu prédio.

Me arrumei para mais um longo dia no trabalho. Assim que coloquei os pés para fora da estrutura do apartamento, afim de chegar ao meu destino, senti-me tentada a chamar a polícia. A avisar Liam ou outra pessoa confiável. Estava convicta de que alguém me seguia, e isso não era bom. Nada bom, na verdade. Principalmente pelo fato de que um grupo de criminosos estava ameaçando minha família e principalmente a mim. Corri os olhos pela rua, insegura demais para ir até o estacionamento. Ao encontrar minha moto, suas rodas haviam sido sabotadas. Era notório que não se tratava de um simples acidente em que ambos os pneus estavam furados. Foi tarde demais quando coloquei as mãos na cintura, tentando localizar em que parte, exatamente, minha arma estava. Alguém, forte o bastante, me agarrou por trás e pressionou contra meu olfato um pano, que continha um cheiro esquisito. Droga! Meus braços e pernas fraquejaram antes mesmo que eu pudesse gritar. Minha visão se tornou turva e escureceu aos poucos, até que se apagou de vez, junto a meus sentidos.

[...]

Abri meus olhos vagarosamente, e tudo o que via era uma completa escuridão. Havia algo amarrado em minha boca me impedindo de gritar, e o que parecia talvez um saco, revolto a minha cabeça. O ar era escasso a medida que me desesperava mais. Movi minhas mãos, notando que estavam amarradas atrás das costas. Senti o cheiro de terra e o barulho de um carro. Os solavancos me fizeram perceber que eu estava dentro dele. Movimentei-me para os lados, porém, tudo o que senti foram dois braços, cada um de um lado, prontos para impedir minha possível fuga. Percebi que se tratavam de duas pessoas sentadas em volta de mim.

Ralhei desesperada, buscando encontrar alguma chance de chamar por alguém para me ajudar, mesmo que eu não precisasse disso numa situação habitual.

— Ei, Louise, se acalme — Uma voz masculina, a qual nunca havia escutado antes, pediu com doçura. Era tanta gentileza e compaixão que quase esqueci minha tentativa frustrante de escapar — Vai ficar tudo bem. Não fique preocupada. O chefe não fará nada de mal a você.

— Horan, não converse com ela — Uma segunda voz, vinda da frente, o reprimiu — Ele não fará mal a ela mas fará a você, caso insista nisso.

Senti o carro desacelerando aos poucos, até ser parado de vez.

— Chegamos — O dono da voz doce, provavelmente o Horan, disse.

Fui puxada para o lado, até sentir o chão desnivelado aos meus pés. Pelo caminho, tive a certeza de que tropecei, ao menos, em umas dez ou vinte pedrinhas soltas de barro. As duas mãos de tamanhos distintos, que me apertavam com forças diferentes, me empurravam para a frente, com certa brutalidade. Era provável que estivéssemos pisando em uma calçada de cimento e de repente em um piso de madeira. Estávamos em uma casa velha? A cada passo, meu palpite se tornava mais consistente, pois as tábuas, que pareciam desgastadas, rangiam com intensidade e a altura de diversas vozes aumentava, indicando um local com muitas pessoas, predominantemente do sexo masculino.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora