Capítulo XLI

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— E qual seria seu embasamento para prosseguir, senhorita Cabello? — O juiz insistiu, pressionando a advogada de Zayn que permaneceu com uma expressão neutra.

— Nottingham é a antiga sede administrativa de Nottinghamshire, porém agora é só uma autoridade unitária aqui da Inglaterra — Ela explicou, lançando um breve olhar ao jovem promotor furioso. Tive de admitir: com os óculos de grau e corpo definido, o promotor parecia mais um personagem bonito de alguma série de televisão do que alguém com sangue nos olhos — Atualmente, possui trezentos mil habitantes e é dominada por agiotas e a criminalidade. Ou devo dizer "era"? — O juiz fez sinal para que ela concluísse seu pensamento — O meu cliente furtava as obras de grande valor, sempre cuidando para deixá-las intactas, e depois negociava com as autoridades a sua devolutiva, isso é um fato. Pensando nisso, solicitei a polícia uma cópia da conta bancária de quem quer que ficava com o dinheiro e aí pedi a um serviço de inteligência que localizasse tudo que pudesse haver com ela. Como meu cliente não é um criminoso nato, não cuidou em encobrir seus rastros, deixando claro que enviava esse dinheiro para a conta de alguns moradores de Nottingham e para as sedes das chamadas ONGS que residem lá. Também posso afirmar que o Sr. Malik mandava verbas para alguns lugares na América do sul e África, que apresentam o Índice de Pobreza em um progressivo aumento a cada dia.

Encolhi os ombros. O que será que o juiz desejava? A verdade ou os argumentos e provas que afirmavam sua coerência? Bom, a segunda alternativa parecia mais tentadora, observando por sua perspectiva. Por isso, dificilmente ficaria comovido com a realidade.

— Então está insinuando que as atitudes dele apresentam uma boa explicação e que por isso devemos manter o réu solto? — O promotor falou, injuriado — Defesa?

— Promotor Mendes, por favor — O juiz o repreendeu, irritado — Senhorita Cabello, eu devia pedir para que pare de uma vez?

— O que quero dizer, meritíssimo — Ela continuou, um tanto abalada — É que este homem nos chamou a atenção para a população de Nottingham, para pessoas completamente esquecidas.

Depois disso, iniciaram uma discussão organizada, digna de um tribunal. Fui perguntada mais algumas vezes sobre coisas insignificantes para mim mas que tinham um grande valor ao promotor e à advogada. Por fim, ambos entraram em um consenso de que Malik deveria devolver todo dinheiro que extorquiu e garantir assim um pouco de perdão em sua pena.

— Estamos de acordo, senhor Malik? — Indagou o juiz.

— Como eu disse, não tenho mais acesso a esse dinheiro, meritíssimo — Informou ele, levantando de sua cadeira — Com todo o respeito mas ele está com quem deveria estar.

Agradeci aos céus por estar sentada no meio da plateia e não precisar olhar para o seu rosto enquanto ele falava.

— Muito bem, então nada feito? — Perguntou o juiz de forma retórica — Pontos a considerar antes da decisão de qualquer atitude: a maioria das obras de artes foram devolvidas sem máculas, mas nem todas estão em segurança ainda. Sua última pista nos levou a um depósito abandonado em South Milford no distrito de Selby, onde tudo o que encontramos foram cópias baratas das obras de arte também roubadas — Então era isso que havia lá — Mais da metade dos integrantes desse esquema criminoso conseguiram fugir. O réu foi identificado como o mentor dos crimes ocorridos, sendo movido pela vingança como principal fator. Houve um sequestro e a inclusão de uma criança nesse mundo perigoso. Mas o réu nos revelou o paradeiro de um dos criminosos mais procurados da Inglaterra — Ele tirou os olhos dos papéis em suas mãos e olhou para Zayn — Declaro agora o réu Zayn Javadd Malik como...

Não consegui escutar o resto de suas palavras, já que uma onda de enjôo tomou conta de mim, desconcentrando-me.

[...]

— Eu preciso que alguém avise a imprensa sobre o que foi decidido hoje. Eles estão pavorosos para saber as identidades dos sequestradores — O delegado Kenney orientou-me assim que o julgamento acabou — E não sou eu quem meus superiores querem. Eles desejam que seja você a subir naquele tablado e contar tudo. Eu sei que foi sequestrada por eles, mas precisa contar o caso que você conduziu até aqui. Foi você quem quis isso, Moreau.

Assenti, ainda enjoada. Meu cérebro me alertava para seguir seu conselho, enquanto meu coração gritava para que eu fugisse naquele instante. No momento em que me preparei o suficiente para subir no tablado improvisado e assumir o microfone, contei a eles tudo o que foi apontado, explicando seus motivos e alegações. Eles haviam sido considerados culpados, porém parte de suas penas foram reduzidas pelos pequenos atos que tomaram. Louis, Liam, Harry e Niall foram condenados a dez anos de prisão, enquanto Zayn, por orquestrar os crimes, recebeu o dobro. Senti vontade de abraçar meu irmão, de pedir perdão, mesmo sabendo que não era isso que ele desejava ouvir. Liam, apesar de se manter firme, parecia a ponto de desabar a qualquer momento. Eu não conhecia Niall e Harry tempo suficiente para analisar seus semblantes, mas não pareciam sentir o impacto daquilo. Estavam fortes, sólidos. Percebi tudo isso quando os vi cruzar o corredor e caminhar algemados até o carro que os levaria à penitenciária de segurança máxima. Ninguém da imprensa os viu pois o juiz decretou que não deveriam ser identificados. Achei sua decisão estranha, mas quem era eu para contestar? Terminei minha declaração aos jornalistas  e andei para o mais perto que me permitia, observando os cinco deixarem o tribunal com as cabeças erguidas e um propósito fundado.

— Imagino que não deve ter sido muito fácil para você tudo isso... — Uma voz ao meu lado comentou.

Olhei na sua direção e encontrei a advogada de Zayn, com os braços cruzados em frente ao corpo.

— É — Concordei baixo — Não foi, mesmo.

— Camila, deixe que hoje eu pego Julian na escola — O promotor avisou de repente a ela, conversando de maneira mais branda e informal — Levo ele para a sua casa mais tarde, certo?

— Tudo bem, Shawn — Afirmou ela, deixando que o mesmo fosse embora — Ah, ex namorados! — Suspirou.

— Ele é seu ex? — Questionei, chocada.

— É como dizem: não devemos misturar trabalho com a vida pessoal, por isso tudo deu errado. Acho que somos mais maduros agora. Isso também foi melhor para o nosso filho, o Julian.

Fiz que sim, ainda intrigada pela forma como os dois estavam tensos em lados opostos no tribunal e de repente pareciam tão compreensivos e calmos um com o outro. Poderia ser que ainda nutriam algo um pelo outro...

— Se precisar de alguma ajuda profissional para passar por tudo isso, ficarei feliz em indicar a psicóloga do meu filho. Me ligue, se precisar — Cabello terminou me entregando um cartão social dela e pousando a mão em meu ombro, esperando reconfortar-me antes de dar as costas e sair — A propósito, é Camila Cabello.

Assim como com Cameron, eu nunca esqueceria o gesto de gentileza de Camila.

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Oi!

Então, mesmo que eu tenha feito uma pesquisa extensa, não sei muito bem quais critérios os advogados e a promotoria usam para defender ou acusar alguém. Tive embasamento, mas nem tudo no julgamento pode ser que aconteça na vida real. É isso :)

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora