Capítulo XXI

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Abri meus olhos em completo desespero. Meu braço doía e eu mal o sentia. Tentei mexê-lo, mas logo desisti ao perceber que se tratava do corpo de Zayn sob ele. Deitado de um jeito preguiçoso em cima de nós, Hassan dormia sereno. Passei minha mão livre no peitoral macio em que eu estava encostada, procurando localizar-me. Os braços fortes de Malik me serviam como travesseiros. Ele despertou rapidamente esfregando os olhos, como se saísse de um lugar terrível, acabando por induzir Hassan a pular de susto.

— Desculpe, Hassan — Zayn pediu ainda conturbado.

Ele se separou de mim e foi até o banheiro. Senti um aperto no coração e confusão por não saber em que momento da noite nos abraçamos.

— O que o papai tem, Louise? — O garoto perguntou com os olhos miúdos de sono.

— Ele deve ter tido um pesadelo. Só isso — Garanti, insegura.

Hassan deixou sua confusão de lado no momento em que o serviço de quarto trouxe o nosso café da manhã. Me servi de uma xícara de chá e levei outra para Zayn que estava com os cotovelos apoiados na sacada e de costas para a entrada do quarto, olhando para o horizonte.

— Aqui tem uma das melhores vistas, não tem? — Indaguei, lhe entregando a caneca. Surpreendido, ele se virou para mim e aceitou-a em estranhamento.

— É — Concordou bebericando o conteúdo do recipiente presente entre seus dedos e voltando sua atenção à paisagem — Obrigado.

Me apoiei nas grades finas e firmes de proteção da sacada e passei a olhar o mesmo que ele.

— Isso que eu ouvi foi mesmo um "obrigado"? — Provoquei, levando a xícara até a boca para tentar disfarçar um sorriso que acabara por manifestar-se surpreendentemente nos lábios dele — Zayn Javadd Malik me disse um "obrigado" e ainda sorriu para mim? Acho que ainda estou sonhando.

— Acho curiosa sua definição de um bom sonho, Moreau — Desdenhou ele de uma forma maliciosa — Aparentemente, precisa de mim nele para que seja no mínimo agradável — Enfim olhou para mim e soltou um som de descrença — Louise Moreau ficou vermelha por um comentário meu? Agora acho que sou eu quem estou sonhando. Não que você seja parte de um sonho bom meu... é... hum... — Ele pigarreou nervoso — Você me entendeu.

— Certo — Senti minhas bochechas esquentarem — Não é todo dia que se ouve isso...

Nos poucos segundos em que permanecemos calados, não aguentamos o clima.

— Eu... vou... ver o que o Hassan está fazendo — Zayn disse já caminhando para dentro — Não fique aí por muito tempo, alguém pode te ver.

[...]

— Aonde estamos indo, afinal? — Interroguei-o jogando minha cabeça para trás, pousando-a no encosto do banco — Você não disse que precisávamos manter a discrição? Não vejo discrição em sair a todo momento. Além disso, quero ver o meu irmão.

Ele suspirou fundo, irritado.

— Estamos indo escolher nossas roupas para a festa.

— Que festa? — Insisti.

— A que vamos invadir — Informou — Ela vai ser ali no hotel do seu pai, só para hóspedes e convidados especiais. Por isso estamos hospedados lá. Agora você pode me deixar em paz para dirigir ou a detetive quer saber algo mais?

Revirei os olhos e continuei a analisar as estradas estreitas em que entrávamos. Algumas horas depois, o carro parou em frente a uma casa azul simples e muito bonita, com algumas flores no jardim. Hassan estava eufórico e mal deixou que seu pai soltasse seu cinto de segurança.

Saí do automóvel em dúvida. Seria ali um ponto de tráfico ou algo assim? Quem quer que estivesse dentro da casa faria um favor a Zayn. Eram eles ao menos pessoas boas?

— Olhe, você não pode contar nada do que vamos fazer a eles, certo? — Zayn quis certificar-se — Seja o mais natural possível e diga que vai a uma festa qualquer comigo, está bem?

Assenti ainda confusa. Escolhi participar daquilo. Não só para ir embora logo ou evitar que minhas irmãs fossem feridas, mas eu também desejava fazer algo pelas pessoas que conheci em Nottingham. Não era justo que poucos tivessem muito e que muitos tivessem pouco. Fui egoísta por muitos anos da minha vida e precisava acreditar nas boas intenções de Zayn, apesar de feitas fora da lei.

Nos aproximando da casa, era audível a movimentação intensa de pessoas e várias vozes conversando em um tom elevado, quase como em uma gritaria animada. Eles pareciam se conhecer a anos apenas pela intimidade aparente.

Hassan apertou duas vezes a campainha e isso foi o bastante para que alguém atendesse à porta. Um senhor moreno de cabelos grisalhos abriu-a e logo abraçou Hassan que desapareceu entusiasmado para dentro da residência. Atrás do senhor, haviam outras pessoas que me olhavam com atenção. Senti a vergonha percorrer meu corpo inteiro.

— Z, meu filho, você veio! — O homem notou em êxtase — E o pequeno Hassan também! — Ele me olhou atento — Dessa vez trouxe companhia! Olívia, querida, essa é a moça que você nos contou da outra vez?

Olivia apareceu ao seu lado, fazendo que sim.

— Ela mesma.

— Olívia, o que você...? — Zayn foi interrompido.

— Eu sou o Sr. Lewandowski, mas pode me chamar de Cassimiro — O senhor se apresentou.

Estendi minha mão para ele.

— Muito prazer, Sr. Cassimiro. Eu sou a Louise — Fiz o mesmo com um sorriso.

Ele aceitou confuso minha mão, como se não fosse habituado a tal gesto.

— Querido, quem está na porta? — Uma voz feminina perguntou ao fundo. Quando me viu, inclinou o corpo para o mais gentil dos abraços. As pessoas pertencentes a vida de Zayn eram muito calorosas, o que contrariava de certa forma a personalidade fria e praticamente inexpressiva dele — Estou tão feliz em receber alguém que Z trouxe para nos ver! Ele nunca nos apresentou nem sequer um amigo.

Retribuí o abraço sentindo o calor que aquecia meu coração que até então não sabia bem como era o carinho de uma mãe.

— Zayn, você não aparecia a um tempo e nem nos disse que tinha uma namorada! — A mulher continuou, magoada. Seria ela a Ewa?

— E eu não tenho! — Ele se defendeu coçando a cabeça em frustração — Precisamos de ajuda em algo importante.

Ela arregalou os olhos, perplexa.

— Zayn, ela está grávida? — O Sr. Lewandowski se alarmou — Não acredito que você engravidou a moça!

Os burburinhos atrás deles cessaram. Todos permaneceram em silêncio no momento em que Cassimiro se desesperou.

— O que?! Deus do céu, não, Cassimiro! — Ele negou abruptamente — Precisamos de roupas para uma festa importante. Eu pensei que você e Ewa poderiam ajudar.

— Ufa! — A Sra. Ewa exclamou aliviada — Não que uma criança fosse algo ruim, eu só não desejo que ela venha ao mundo sem ser desejada. Ninguém ia querer, não é? Entrem! — Convidou puxando-me para dentro — Venha conhecer o resto da família.

Mesmo pela barulheira, pude ouvir Olívia sussurrar:

— Você ficou louco em trazê-la aqui para perto de sua família, Z?

— E aonde eu conseguiria ajuda sem que fossem a reconhecer? Precisariam das medidas dela e poderiam desconfiar! — Retrucou — Ela está nos ajudando agora.

— Z, por favor — Ela implorou — Não meta os pés pelas mãos se apaixonando por ela. Isso não vai acabar bem!

— Não pode acabar mal algo que nem sequer existiu, Livy.

Aquelas palavras se tratavam do que ele pensava? Poderia mesmo ser algo que apenas existia na minha cabeça? As respostas para estas questões pareciam inalcançáveis.

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Daqui a pouco publico um novo capítulo para Herdeiros do Trono✨✨

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora