Capítulo V

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Após um cochilo rápido, me preparei mentalmente para enfrentar a fera, ou seja, Joseph Moreau. Meu pai era extremamente ríspido e severo comigo. Talvez pudesse ser coisa da minha cabeça, mas às vezes eu tinha a certeza de que ele amava mais Emma do que a mim. Se é que me amava. Acho que se Stephanie pedisse uma única vez para o corte de nossos laços familiares, papai não hesitaria em me empurrar precipício a baixo, no sentido figurado, claro. Nunca entendi por que ela não fez isso. Havia ainda a chance dele fazer comigo a mesma coisa que fez com meu irmão. Arrumaria uma insignificante desculpa para enxotar-me de sua vida de uma vez por todas.

Saio da banheira com o objetivo de ser pontual quanto ao horário do jantar. Se eu precisava convencê-lo de que era estritamente necessário cuidar dos assuntos daqueles criminosos, seria bom que lhe agradasse ao menos.
Coloquei um vestido de seda rosa. Seu caimento era justo até a cintura e solto nas pernas, como o que minha mãe usava em uma foto antiga.

Assim que estava pronta, desci as escadas, encontrando meu pai com um charuto na boca e uma expressão vazia. Era típica dele depois que seu melhor amigo e mamãe se foram. Ele se tornou... inexpressivo.

Olha só o que temos aqui — Ele disse com pouco entusiasmo quando me olhou por cima de seu jornal de papel rotineiro — A filha pródiga voltou ao lar ou só errou o caminho?

Minha madrasta, sentada na outra ponta da mesa riu, demonstrando seu divertimento barato as minhas custas.

Olá, papai — minha voz saiu repleta de hesitação e insegurança — Como vai?

Sem rodeios, Louise — Ele pediu — Se veio aqui para ensinar sua madrasta a como cuidar da própria filha de novo ou se simplesmente deseja me dizer mais uma vez que não assumirá suas responsabilidades com seu sobrenome, receio ter de pedir para voltar a Londres ou seja lá o buraco que vem se enfiando nos últimos anos.

Engoli em seco e sentei ao lado de Emma que me olhava tristemente, como se desejasse com todas as suas forças impedir papai de falar de tal modo comigo.

O senhor poderia ser um pouco menos duro com as palavras, meu pai — Falei, buscando manter-me calma — Me recebe com dez pedras na mão sem ao menos perguntar se estou bem. Deduz minhas intenções antes mesmo que eu possa abrir a boca.

E desejava, ainda, não ter esse diálogo desgastante — Comentou por alto — Sra. Angelle, sirva o jantar.

Comemos por alguns minutos em completo silêncio. Os barulhos dos talheres passaram a me irritar, mas meu pai parecia estar completamente tranquilo em relação a isso. Para ele era cômodo não me ouvir.

Então... Louise. Como o Louis está? Sinto falta do nosso irmão! — Emma fez seu melhor para descontrair.

Louis não é seu irmão, Emma — Papai a corrigiu — E eu gostaria que não fosse nem de Louise. Ele é um caso perdido. Um completo interesseiro.

Papai! — Emma grunhiu magoada.

Como pode falar assim do homem que o tratou como pai por anos? O mesmo homem que o senhor cuidou como filho! — Observei deixando o garfo e a faca repousados no prato — Como pode falar assim do filho da mamãe? — Sussurrei baixo.

Esse homem, Louise — Papai começou, fazendo-me apertar com força um pedaço do meu vestido por baixo da mesa, em pura agonia — É a idealização inexistente que você e sua irmã criaram sobre ele. Apenas uma grande utopia que ambas foram inocentes demais para acreditar. Ele está lhes enganando.

Isso não é verdade! — O defendi — Louis era e é um ótimo homem!

Ele parou de cortar sua comida e me olhou sério.

Estamos falando da mesma pessoa? — Seus lábios se curvaram em um sorriso sem fundamento, um sorriso raso, sem tirar os olhos do prato — Da última vez em que ele veio aqui, pediu mais dinheiro. Acha mesmo que ele é o brilhante advogado que conta a você? Você é só uma criança fútil. Tem muito o que aprender com a vida.

Arregalei os olhos em completa descrença. Como pode meu irmão, meu querido irmão, ser esse monstro que papai descrevia?

Por que não nos contou que Louis estava pedindo dinheiro? Ele pode estar passando necessidade — Emma falou.

Ora, e vocês fariam o que? Que eu saiba, ainda não morri, então nenhuma de vocês tem um mísero tostão furado — Papai rebateu indiferente.

Talvez se você o tivesse amado mais... se tivesse dado o mesmo amor que deu para sua filhas — Ponderei depois de um silêncio constrangedor — Ou pelo menos o amor que deu a uma delas, em específico... ele poderia estar diferente.

Ah, não me venha com discursinhos banais sobre como fui um péssimo pai para você. Estou farto de sua ingratidão, Louise — Ele bateu na mesa, fazendo-me pular na cadeira — Louis não é meu filho. Eu fui até muito generoso em lhe proporcionar uma vida boa durante todos esses anos, coisa que o pai dele não foi capaz de fazer antes de sumir no mundo. Mas, assim como você, ele não ligava pra isso. Talvez eu ame mais Emma porque ela reconhece meus esforços para com ela. Ela é a única que deveria ter nascido. Ela sim seria uma excelente herdeira!

Abri e fechei a boca, decepcionada. Levantei da mesa sem alardes, na mais profunda calmaria, o que não combinava nem um pouco com meus sentimentos naquele momento e nem com minha personalidade no geral.

Pra sua informação, papai — Falei em um tom baixo — Eu não quero e nem preciso do seu dinheiro ou algo assim. Eu não me interesso por nada disso e mesmo que você, em uma hipótese maluca, fosse um pobre miserável ou que agora então tenha seu típico jeito rude de me tratar, eu ainda te amaria. Eu ainda te amo. Sua indiferença comigo me machuca. Com licença, vou me recolher. Boa noite a todos.

Logo que encontrei meu quarto naquele verdadeiro labirinto que me causava lapsos de memória, Emma veio atrás de mim, angustiada.

— Louise, eu sinto muito — Lamentou sentando na ponta da cama — Papai sempre foi desse modo, mas parece estar pior desde que você foi embora...

— Emma, nem sempre ele foi assim, sabe? — Informei esperando que fosse o suficiente para distrair meus pensamentos — Quando minha mãe era viva, lembro vagamente que nosso pai era o mais doce dos homens. Ele era generoso, gentil e bem humorado, muito bem humorado, aliás. Mas depois que ela se foi, uma imensa nuvem cinza pairou sob nossas cabeças, principalmente na dele. Aí o melhor amigo dele também morreu e isso foi o verdadeiro ápice.

Ela assentiu, apoiando seu queixo no joelho.

Queria ter conhecido esse versão do papai.

Passei a mão pelas suas ondulações de cabelo.

Ele escolheu se tornar assim — Expliquei — Emma, eu vou embora pela madrugada, está bem? Pode dizer ao papai que estou lidando com alguns criminosos perigosos no trabalho e que eles me revelaram quererem algo dele? Eu preciso que você se proteja, o.k.? Eles podem querer fazer alguma coisa contra você. Peça a sua mãe redobrar a segurança da mansão.

— Quase nem posso respirar normalmente nos dias comuns, então acho que estou segura o bastante.

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Como prometido, mais um capítulo.

Joseph Moreau é um doce, não é?kk

E sim, o Louis Tomlinson é o irmão mais velho dela.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora