Capítulo XXIX

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Senti duas mãos pequenas tocando minhas costas de modo gentil e insistente, despertando-me. Eram cutucões desesperados. Virei-me devagar, ainda sonolenta, e avistei Hassan estagnado na minha frente, os olhos vermelhos e o rosto úmido.

— Hassan?! O que foi?

Me sentei na cama e peguei-o no colo.

— Eu tive um... — Sua voz falhou — um pesadelo.

Seu choro foi intenso. Ele coçava as pálpebras com força.

— Venha, vamos tomar um ar lá fora para que não acordemos ninguém — falei, averiguando o relógio pendurado na parede e envolvendo o garoto em uma coberta. Ainda eram três da manhã, muito tarde para estarmos acordados.

— O que aconteceu? — Zayn quis saber se levantando rapidamente. Sua voz rouca e seu rosto digno de quem acordara as pressas — Por que você está chorando, Hassan?

— Ele teve um pesadelo — Avisei levando-o a assentir e nos seguir com agilidade.

Caminhei até o lado de fora, onde não havia ao menos amanhecido, com Hassan nos braços. Ele ainda mantinha um choro baixo com o rosto encoberto pela manta vermelha. Sentei em um banco de madeira ao lado de uma árvore, tirando algumas folhas amareladas de cima da superfície marrom.

— Quer me contar no que sonhou? — Questionei, hesitante.

Zayn nos alcançou às pressas e ocupou o lugar ao meu lado.

— Eu sonhei que... eu sonhei que você tinha ido embora, Louise — Hassan apoiou a cabeça na curva do meu pescoço — E eu não quero que você vá embora! Você é tão legal...

Deslizei meus dedos pelo seu cabelo.

— É claro que eu não vou embora — Afirmei observando Zayn. Ele sabia, assim como eu, que em uma hora ou em outra me achariam. Em algum momento eu teria de voltar. Muitas pessoas não deixariam de lado o fato de que a herdeira do império Moreau estava desaparecida, principalmente meu pai — Eu vou ficar aqui por tanto tempo que você vai até se cansar de mim!

— Eu nunca vou me cansar de você! — Negou ele cessando as lágrimas, ainda soluçando — Se o papai fizer alguma coisa para você, Loulou, eu vou bater nele!

— Também não é assim — Malik desdenhou — Você é muito mais forte! Um soco seu e eu caio no chão. Aí não seria legal, não é?

Ele soltou uma gargalhada divertida.

— Talvez não — Seu olhar se voltou para o céu — Olha! Como a lua está bonita!

— É verdade — Concordei sentindo um pingo de água cair com velocidade sob minha cabeça — Espere, eu acho que vai...

E assim a chuva deu-se as caras sem que eu conseguisse ao menos terminar minhas suposições. Tentamos escapar dela mas acabamos por rir tanto de nosso próprio desespero que nos demos por vencidos. Pulamos em poças de água e distraíamos o garoto. Hassan esqueceu-se de seu pesadelo por um momento enquanto brincava ao passo que Zayn divertia-se de um modo que pareceu nunca ter feito.

Voltamos para o quarto encharcados e fizemos uma força sem tamanho para não acordar ninguém, usando toalhas para nos secar. Pegamos no sono mais uma vez e descansamos até o último instante em que poderíamos.

[...]

Fui acordada novamente, porém, diferente da outra vez, agora era por Louis agitado. Seu semblante transparecia o medo evidente.

— Anda, Louise. Acorde!

Todos estavam apressados em juntar suas coisas, o que apavorou-me ainda mais.

— O que aconteceu? — Questionei, confusa.

— Eles nos acharam. Estão vindo para cá — Zayn informou em calmaria — Levante e arrume suas coisas.

— Como eles sabem que estamos aqui? — Indaguei, apressando-me em ajudá-los.

— Jessie, uma amiga da Cameron, avisou.

Joguei água em meu rosto e prendi meu cabelo no alto da cabeça. Droga, droga, droga!

Corremos apressados pelos corredores, ainda confusos em questão da localização. Havíamos acabado de acordar e isso não nos auxiliava nem um pouco.

— Me desculpem pela Jessie — Cameron nos parou no caminho, precisando caminhar ainda mais depressa para nos alcançar — Às vezes ela leva nosso lema de "quem paga mais ganha" muito à sério — Quem pagou mais para elas? Todos voltaram suas atenções a chegada da van, exceto por mim que fui parada pela mulher — Eu não contei a Jessie sobre você e o Zayn. Sobre vocês hoje de madrugada na chuva. Ela me disse que você é Louise Moreau, chamou a polícia e então você já sabe...

— Eu e o Zayn? — Me fiz de desentendida.

— Eu vi como vocês se olham. Eu nunca o vi daquele jeito, a não ser com o Hassan. Ande, vá embora. Não vou contar a ninguém sobre isso.

Olhei-a confusa e continuei a andar. Nunca me esqueceria dela e de sua gentileza, apesar de não me conhecer. Algo me fazia crer que a veria novamente. Sua elegância, mesmo que em uma situação difícil, me deixou extasiada.

Bastou minutos para que escutassemos ao fundo as sirenes, sinalizando a chegada da polícia. 

— Venha, rápido! — Gritei a Niall enquanto estendia minha mão para ele. A van já encontrava-se em movimento e Horan sentia-se cansado — Pegue minha mão!

— Não dá! — Lamentou em meio a uma crise de tosse — Eu não consigo. Vocês tem que me deixar!

Olhei para os lados, buscando uma solução.

— Não se deixa ninguém para trás! — O lembrei.

Pensando no mesmo que eu, Louis logo estava me segurando pelo braço enquanto eu tentava me pendurar na fechadura da porta do automóvel. Trabalhando em equipe, Harry segurou Liam que segurou meu irmão. De modo rápido, estávamos sendo sustentados por Zayn que desprendia de uma grande força para isto.    

— Consegui! Eu o peguei! — Avisei alegre, puxando-o pela mão — Podem puxar, rápido!

Antes que a policia nos alcançasse, fechamos a porta com todos dentro, caindo um em cima do outro, mas bem.

— Droga, meus ossos! — Reclamou Harry esticando os ombros para trás e fechando os olhos com força.

— Tem certeza de que quer mesmo reclamar? — Liam indagou, indignado — Você caiu em cima de mim!

Comecei a rir quase sem folego, ainda em cima deles.

— Doeu quando Niall me derrubou no chão — Esclareci — Mas aposto que em Zayn foi mais! Nem falando ele está conseguindo.

Ouvi seus resmungos em baixo de todos nós, concordando comigo.

— E é por isso que eu peço que saiam! — Foi tudo o que consegui distinguir.

— Pode ser — Horan disse — Não precisava ter me puxado com tanta força, Louise —  O observamos com atenção a medida que nos levantavamos e ajudavamos aos outros a fazer o mesmo — Você quase me matou!

Malik paralisou de forma estática no lugar onde estava, furioso.

— Zayn — Niall implorou, nervoso — Zayn, pare. Zaaayn! Socorro! Hassan? Alguém? Me ajudem!

 Com uma expressão de poucos amigos, Zayn passou a correr atrás de Niall no mínimo espaço que havia ali, irritado pela sua ingratidão e talvez pelo fato dele ter sido o menos atingido na queda. Hassan gargalhava em alegria. Momentos de descontração como esses eram importantes para ele.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora