Capítulo XIII

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— Isso está horrível — Hassan confessou esboçando uma expressão terrível e empurrando o prato de comida para longe depois de ingerir o conteúdo de uma colher. Às vezes, a honestidade de crianças, criaturas com tudo para serem o mais doce possível, me assustava.

Estávamos todos em volta da mesa, esperando Hassan provar a comida que meu irmão e os outros fizeram, para então chegar a nossa vez.

Louis franziu o cenho, confuso.

— Não deve estar tão ruim assim... — Ele levou o talher até a boca, depois levantou as sobrancelhas, respirando fundo — Está péssimo, mesmo.

Experimentei um pouco e logo entendi o motivo de tamanha frustração da parte do meu irmão. Aparentemente, o frango estava no ponto. Porém, seu interior estava praticamente cru e com excesso de temperos diferentes. Tenho quase certeza de que senti um leve gosto de canela e muito sal juntos. Curiosos com nossas expressões de estranheza, os outros resolveram provar para ter a certeza do que estava acontecendo. O desapontamento de Liam quase partiu meu coração. Quase, se não fosse pela outra parte de mim repetir "bem feito, mentiroso" mentalmente.

— Quem exagerou no... — Zayn disse pensando um pouco, em seguida falamos juntos — Sal?

Achei graça ao passo que ele me olhou por uma fração de segundos, antes de limpar a garganta.

— hum... quem temperou? — Desconversou, incomodado.

— Foi o Niall! — Tomlinson acusou, cruzando os braços com uma infantilidade excessiva.

— Eu coloquei tudo o que o Harry trouxe — Niall defendeu-se, empinando o nariz ao alto — Então não fiquem me culpando!

— Eu comprei o que o Liam pediu! — Styles jogou a culpa sobre Liam que levantou os braços ao alto.

— Eu não pedi para o Harry comprar tanto tempero e nem pro Niall colocar tudo aquilo de canela no maldito frango! — Payne ralhou — Nem sei onde estava sua cabeça quando pensou em colocar CANELA!

— Podem, por favor, calar suas malditas vozes chatas por um momento? — Zayn os repreendeu, exaltando-se.

Isso foi o verdadeiro estopim para uma enorme briga, envolvendo até quem não participou da preparação do prato. Olhei na direção de Hassan que iniciava uma crise de choro e se afastava com medo. Meus ouvidos estavam se preenchendo com mais e mais gritos bravos e ruidosos.
Peguei o pobre menino no colo. Olhei para todos eles. Discussões como essas eram comuns no meu trabalho, principalmente quando alguém tinha um palpite contrário a de outro. Não que precisassem gritar se acreditassem na procedência das suas opiniões tão verdadeiramente quanto acreditavam no barulho como forma de argumento, mas achavam por necessidade isso.

Com a mão que estava livre, me envolvi no alvoroço e trouxe Zayn para fora, pela orelha. Automaticamente, o silêncio pairou, dando lugar a olhares confusos na minha direção.

— Olhe aqui para o menino, agora — Mandei a ele que massageava a orelha recém largada por mim. Seu olhar pairou sob ele — Ele está assustado, não vê? É só isso que essa discussão idiota trás! Vocês querem mesmo que ele fique traumatizado?

Zayn relaxou sua expressão e se aproximou para segurar o garoto, porém o mesmo esquivou-se com rapidez e recuou para mais perto de mim.

— Hassan, eu não... — Tentou consolidar a situação e seu pedido de desculpas, sendo interrompido pelo mais novo.

— Para, pai, por favor — Implorou em meio a um choramingo abafado, enterrando o rosto na curva do meu ombro — Você não é assim.

Zayn engoliu em seco e se retirou, com pressa.

— Vocês deviam se envergonhar por causar isso a uma criança! — Falei firme, convicta de que minhas palavras haviam atingido-os com voracidade — Vocês não passam de meninos crescidos. Suas discussões são iguais!

[...]

— Eles não vão mais brigar? — Hassan perguntou puxando para si um ursinho de pelúcia marrom.

Sua voz ainda tremia, mas seu choro foi embora no momento em que o levei até seu quarto e o deitei na cama.
Passei a mão pelo seu cabelo, em um gesto carinhoso. Sorri.

— Não — Respondi com calma.

Ele assentiu, fechando os olhos aos poucos e procurando pela minha mão, agarrando-a contra o peito.

— Obrigado, Loulou — Sussurrou. Louis com toda certeza havia referido-se a mim desta forma, levando o pequeno a aderir o apelido.

Seu sorriso ao cochilar mostrava que o pior havia passado.
Seu rosto calmo transmitia uma segurança diferente a mim. Era como se a medida que ele ficasse tranquilo, eu também ficava.
Sua respiração ficou pesada e seus braços soltos, indicando que havia dormido, minutos depois.

Zayn apareceu na porta e se assustou quando me viu. Me levantei rápido e fiz sinal para que se aproximasse.

— Eu não sabia que você estava aqui — Cochichou baixo.

Não respondi, sem saber o que falar. Ele respirou fundo, sem paciência.

— Vai para o seu quarto — Mandou — Eu não pedi pra você vir aqui e acalmar a ele. Isso é minha responsabilidade e você não é nada dele pra fazer isso. Saí, agora.

De imediato, arregalei os olhos, numa pergunta silenciosa sobre o que estava acontecendo. Eu fiz um favor, e ele me tratou como inimiga.

— Tem razão, Zayn — Concordei — Você não pediu e nem era minha responsabilidade estar aqui. Mas eu estou, não estou? E não é por você. Com licença.

Me retirei do quarto em passos leves, passos silenciosos, e pela primeira vez obedeci uma de suas ordens.

—  Louise, o que foi? — Harry quis saber assim que me viu — Você parece chateada.

Sem parar de andar, lhe dei um sorriso que mais parecia um gesto de dor.

— Está tudo bem.

No momento em que adentrei o quarto, não senti raiva, senti a agonia que me corroia. A forma dura como Zayn me tratou lembrava meu pai.

Arranquei uma das tábuas de madeira que estavam pregadas na janela e olhei para fora. A vários metros, havia uma estrada de terra e, do outro lado dela, alguns cavalos que andavam de um lado para o outro. Eles estavam muito longe, mas me deram esperanças. Se tinha criação de animais, era certo de que haviam pessoas ali. Se ao menos eu conseguisse tempo suficiente para fugir, poderia usar um dos cavalos ou até avisar quem quer que estivesse lá... Eu estava certa de que fugiria de qualquer forma.

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Mais um capítulo novo aqui. Um pouco atrasado mas o que conta é a intenção, né?kkk

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora