Capítulo XXXI

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Olhando em volta, tive a clara visão do galpão caindo aos pedaços, como se suplicasse pela demolição. A propriedade parecia brevemente afastada e, por isso, todo e qualquer barulho não poderia sequer ser ouvido, com toda certeza.

— Então resolveu volta se rastejando para pedir desculpas, Malik? — Ouvi a voz áspera de Simon invadir o rádio na minha frente, repousado em cima de um banco — Sua namoradinha me fez um belo estrago no rosto, sabia? Eu esperava que demorasse mais um pouco, mas vejo que tomou consciência de seus atos a tempo.

— A única pessoa que deveria ter um pingo de remorso é você, Cowell — Cuspiu Zayn pronunciando seu nome com repugnância — Você os matou... matou todos eles!

— Nem todos. Estou errado, Zayn? — Provocou ele referindo-se claramente a Hassan. Maldito! — Percebo que não. O bonzinho de seu pai teve o que mereceu! Ele viu cada um, a querida esposa, a filha amada e o genro de ouro, todos serem mortos e pagarem pelo erro dele. Ora, não me culpe, Malik. Ele me denunciou para o amiguinho dele. Mas, o que não sabia, era que Joseph não era amigo de ninguém. Não è. Ou vai me dizer que ao menos ajudou o filho do melhor amigo morto quando precisou de amparo? Ele até me deu um hotel como prêmio pelo feito, babaca.

Pude ouvir Zayn avançar para cima dele, sendo detido por alguém.

— Ah, que coisa — Prosseguiu com suas provocações — Acabo de me lembrar que ele me deu um hotel só para que eu não te matasse ou prejudicasse. E adivinha! Ainda assim, ele saiu como o vilão da sua triste história. Eu sou ótimo nisso, não sou?

Simon gargalhou de um jeito maquiavélico. Chegava a ser doentio.

— Do que você está falando? — Zayn perguntou, parecendo segurar-se para não realizar nada que se arrependeria — Abra sua boca de merda!

— Ele não teve a chance de te contar, suponho. Acho que você estava muito ocupado confiando em um completo desconhecido de passado duvidoso, que no caso era eu. Vamos, me agradeça. Eu te ajudei a encarar o mundo!

— Eu não respondo mais por mim — Malik declarou antes de vários tiros serem disparados. O barulho vinha tanto do rádio como do lado de fora da van.

Depois de um instante em que a troca de tiros se estendeu entre ambos os lados, escutei diversos socos, chutes, resmungos e desespero vindos da pequena caixa comunicadora. Temi pelo pior.

— Seu desgraçado, seu desgraçado! — Gritava Zayn e mais socos eram disparados contra algo, ou melhor, contra alguém — Eu te odeio! Te odeio!

— Você pode me odiar, mas acabo de lhe ensinar uma lição muito valiosa. Você sabe — Disse Cowell com a voz comprometida. O velho estava aparentemente apanhando ao julgar pelo que deduzi ser sangue que cuspira ao chão — Todo mundo pode trair todo mundo. Seres humanos podem e vão falhar.

Mais chutes, golpes, socos.

— Zayn, já chega — Ouvi meu irmão alertá-lo — Ele está sangrando. Não somos assassinos. Não somos como ele. Levante daí, vamos embora.

— Eu não vou sem antes fazer algo — Informou ele com a voz coberta por raiva — O HD. Onde está o maldito HD?

— Está aqui — Niall falou — Por que você o quer?

Zayn, porém pareceu não ouvi-lo.

— Chequem se todos os ratos de estimação do Cowell estão vivos — Provavelmente falava dos capangas de Simon que foram derrotados — Os amarrem alí. Agora.

Os minutos que se sucederam em silêncio me fizeram crer que o pedido havia sido atendido.

— Coloquem Simon no meio deles — Malik solicitou mais uma vez — Pronto. Liguem para a polícia e avisem que eles estão todos aqui. Deixem o HD aqui também. O resto pode voltar para a van. Rápido.

Bastou um tempo para que os homens voltassem. Malik não veio no meio deles, o que me fez ir procurá-lo contra a vontade dos outros.

— Zayn... — Chamei-o amedrontada.

Ele, que limpava desesperadamente o sangue que recobria suas mãos e roupas, escondeu-se atrás de uma árvore.

— Eu pedi pra você esperar! Não quero que me veja assim! — Protestou, vulnerável.

Tomei sua mão em cima da minha e retirei o fino casaco que eu usava, pressionando-o para ajudá-lo a retirar o sangue. Limpando seu punho, percebi que o sangue mais era dele próprio do que de Cowell. Pequenos cortes indicavam sua dor enquanto ele me olhava com os olhos marejados. Aquelas marcas provavelmente ficariam visíveis por longos anos, se não por toda a sua vida.

— Louise eu.. eu me sinto uma pessoa ruim... eu...

Beijei seus ferimentos.

— Você não é. Outras pessoas teriam o matado. Mas você não. Você é bom, muito melhor que eu. Eu não o deixaria viver.

Abracei-o conduzindo sua cabeça até meu ombro. Ele aceitou o gesto de forma relutante. Seu choro durou alguns minutos para depois acabar.

— Chega de lamentar — Anunciou — Temos de ir.

Precisamos de horas ligados ao noticiário para descobrir que minhas irmãs estavam mais próximas do que nunca e que Simon havia sido finalmente preso.

— Nesta tarde, a policia recebeu um telefonema anônimo de um aparelho não identificado onde afirmava o paradeiro de Simon Cowell, foragido à alguns anos por corrupção, e o de seus comparsas — Comunicou o apresentador — No local, os criminosos foram encontrados amarrados uns aos outros e com um HD colado na testa de Cowell, como mostra a imagem a seguir — Uma foto do estado deles foi expandida na tela. A cena era curiosa e Simon parecia gritar furioso com quem o fotografava — No HD, os peritos identificaram dezenas de arquivos e perícias criminais que indicam Simon Cowell como mandante de diversos assassinatos e crimes, incluindo à eles a chacina de uma família inteira ligada ao Grupo Moreau — A família de Zayn... — Ainda no depósito abandonado em que foram achados, havia um bilhete que dizia o seguinte: "Comecem prendendo as pessoas certas. Nem tudo é o que parece e podemos provar. Atenciosamente, aqueles que vocês vem procurando desesperadamente". Ainda não sabemos quem ou o que motivou o autor desconhecido disso, porém, a polícia alega estar chegando perto de descobrir. O bilhete nos leva a pensar que há uma rixa entre ele ou eles com Simon Cowell e os integrantes de seu grupo criminoso.

Surpresa com a informação do tal bilhete, encarei Zayn que deu de ombros, parecendo mais leve com sua ação enquanto desligava o noticiário. Talvez a polícia conseguisse chegar mais rápido neles por isso. Contudo, eles eram bons. Fugiriam mais e mais até cansar as autoridades. 

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora