Capítulo X

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Já havia, provavelmente, passado das dez da manhã quando alguém bateu a porta. Eu não fui até lá atender, não estava a fim de encarar mais homens antiquados. Foi quando um bilhete deslizou pela parte de baixo da porta com meu nome escrito nele.

Caminhada pela fazenda, Loulou? Me encontre no andar de baixo, eu só quero me desculpar.

PS: fique tranquila, sua medrosa. Não tem ninguém vigiando sua porta.

Seu maninho arrependido, Lou.

Se Niall não tivesse me dito aquilo no outro dia, minha resposta seria continuar a contar os pequenos e intermináveis furos na parede, os quais se tornaram a moradia dos cupins. Mas, já estava cansativo e eu sentia saudades de Louis. Sentia falta do meu querido, apesar de incompreensível, irmão.

Caminhei até a porta e a abri com certa pressa. Então estávamos em uma fazenda, afinal? Eu gostava quando Lou lembrava-se de nossos apelidos de infância.
Prendi meu cabelo em um coque frouxo e desajeitado, onde alguns fios revoltados se dispersaram para os lados. Apertando com força as mangas cumpridas da camiseta e mordendo o canto inferior do lábio, avancei pelo corredor, me esgueirando com agilidade até as escadas. Era estranho que ninguém mais estivesse — não aparentemente, pelo menos — na casa. Assim que alcancei a porta de saída, olhei para os dois lados, em busca dos cabelos marrom-escuro de Louis ou de seus olhos azuis a procura dos meus.

— Louis? Louis! — Sussurrei.

— Ei! — Meu irmão apareceu de repente, pulando em minha frente — Louise!

Arregalei os olhos e levei a mão ao coração. Por pouco um grito estridente não saiu da minha boca.

— Que susto, Louis! — Exclamei recuperando o fôlego e olhando para os lados — E se alguém ouvisse?

Sem explicar, ele me abraçou o mais apertado que pôde. Sem dúvidas, seu abraço e o de Emma eram os melhores. Isso me reconfortou por um instante, mas logo me recordei do que ele fez e bati em seu ombro.

— Aí! Qual seu problema? Eu estava com saudades!

— Meu problema? — Repeti descrente — Você some por vários meses e quando volta descubro que é um bandido e ainda por cima sequestrador. Não é o bastante?

Ele puxou minha mão e me colocou a caminhar ao seu lado pelas plantações altas de milho.

— Louis, eles vão nos achar! —  Temi pelo pior.

— Relaxa, eu comprei alguns doces para os poucos caras que ficaram aí cuidando de você. Todos estão na cozinha, muito ocupados — Seu semblante se tornou sério rapidamente — Louise, me desculpe. De verdade. Eles não vão fazer nada de mal com você, eu prometo.

Com um suspiro, ele prosseguiu:

— Eu sou advogado, consegui isso graças a seu pai mas aí cometi alguns erros, erros dos quais não me orgulho, entende? Eu fui preso.

Seus olhos transmitiam um misto de tristeza e vergonha.

— Mas aí, o Zayn e todos eles apareceram e me ajudaram, de maneira licita, a sair da cadeia — Ele parou de andar e ficou de frente a mim com seu rosto fixo ao chão — Eles sabiam que quando eu saísse, não conseguiria emprego, essas coisas são complicadas. Fui muito bem tratado e hoje ajudo eles. Que fique bem claro: eu não sabia que falavam de você ou de uma das nossas irmãs quando disseram que tinham nosso próximo "trabalho" em vista. Não costumo cuidar dessa parte, eu só ajudo na elaboração de alguns planos, o resto é com eles. Mas não posso fazer nada pra mudar isso.

Tentei ao máximo digerir cada palavra sobre o passado e o presente dele desconhecidos por mim. Como pude não ver?
Levantei seu queixo para que me olhasse nos olhos.

— Eu não vou te julgar pelos seus erros que já foram, mas quero que não erre mais. Irmão, largue eles, eu lhe imploro! Eu te ajudo a encontrar um emprego e...

— Não, Louise — Ele negou — Não tem mais jeito pra mim. Eu nunca quis ser advogado e mesmo que quisesse, ninguém me aceitaria, isso só pegaria mal pra você. Tenho uma dívida com eles, pra sempre.

— Eles te ameaçaram caso quisesse desistir? — Presumi.

— Não! — Falou abruptamente — Não — Repetiu com menos ênfase — Eles não fazem isso. "Se você quer desistir, vá em frente".

— Eu não entendo! — Confessei triste.

— E nem quero que tente — Informou — É melhor pra você que não se envolva nisso. Vai por mim. Quanto menos souber, melhor.

Assenti relutante.

— E quanto a Liam? Você já o conhecia, certo?

— Sim — Confirmou em passos lentos — Ele nos deixa a par sobre o que a polícia sabe sobre nós. Ele foi uma mão na roda pra esse plano.

— Que sujo... — Cochichei.

— Quando te vi amarrada na cadeira, entendi o motivo das discussões que Liam vinha tendo com o Zayn. Ele estava tentando fazer com que Zayn abandonasse a ideia de te sequestrar ou a nossa Irmã. Ele queria te proteger. Acho isso honroso.

— "Honroso"? — Grunhi — conheço atos muito mais honrosos por aí, Louis. O mundo está cheio de pessoas com boas intenções, mas, que fique bem claro, isso não é a única coisa necessária pra mudar algo.

Ele deu de ombros.

— De qualquer forma, eu não acho que ele seja verdadeiramente mal.

Fiz um sinal com a mão para que não falássemos mais sobre isso.

— E aí, o que você fez pra dobrar o Zayn daquela forma? Devia me contar pra eu usar isso mais tarde — Louis sorriu consigo mesmo — Ele nunca cedeu em nada. Mas lhe deu comida quando você estava mal. Parece que ele achou alguém tão teimoso quanto ele. Como você conseguiu aguentar?

— Com a força do ódio?! — Levei a mão em frente a boca, em tom maquiavélico — Você sabe que eu não deixo as pessoas ganharem tão facilmente.

— Ah, mas é claro que sei! — Confirmou entre risos — O Zayn é uma pessoa difícil, mas no fundo, ele não é ruim.

— Pfff! Louis, o inferno está cheio de pessoas que no fundo não são ruins. Isso é questão de perspectiva.

— Ah, vamos, ele não é tão terrível assim.

— Então me diga que ele não machucou ninguém — Pedi já ciente da resposta.

— O.k., você venceu — Louis admitiu — Mas, em minha defesa, aquelas pessoas provocaram de modo péssimo. Igual ao que você anda fazendo. Especialmente quando tentou seduzir ele pra fugir. Eu nunca teria deixado que ele dormisse no mesmo quarto que você se soubesse! Mas eu sei que ele não faria nada de errado.

— Se sou tão irritante assim por querer fugir dessa loucura, por que ele ainda não me matou? Não use como argumento que precisa de mim. Emma faria o papai pagar o que fosse pela vida dela. Venhamos e convenhamos, nossa irmã é mais doce que eu.

— Definitivamente sim — Ele falou — Mas não sei. Talvez tenha se acostumado com as pessoas se intimidando com a presença dele e de repente você chega cheia de marra e vira tudo de ponta cabeça.

Soltei uma gargalhada, cuidando para não ser ouvida.

— Eu posso fazer pior.

Por que diabos os membros da quadrilha o veneravam? Por medo? Eu estava acostumada com valentões como ele, que intimidavam as pessoas para conseguir respeito. Respeito esse que mais tarde se revelava receio. Quem gostaria de ser temido? Seu jeito e arrogância me perpetuavam a descobrir o motivo. E provavelmente era esse: ele ainda sofria pela perda da família. Mas quem aguentaria, afinal? Uma família inteira é muita coisa. O que aconteceu pra isso ocorrer? Era possível ser culpa dele?

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Ok, eu preciso parar de ficar sumindo kkkk

Prometo aparecer mais vezes essa semana. Vou postar duas vezes por semana se der. É UMA PROMESSA KKK

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora