Capítulo XVII

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— É sério isso? — Perguntei a Harry que me estendeu cordas para amarrar meus braços. Ele deu de ombros e ergueu as sobrancelhas, indicando que a ideia não havia sido sua.

Aquele era um atípico dia frio, daqueles em que havia neblina, pessoas soprando fumaça pela boca sem que precisassem ao menos fumar e as pontas dos narizes vermelhas. Mesmo que eu estivesse usando um casaco corta-vento bordo bem grande, o mal tempo me pegava em cheio.

Olhei para Liam que segurava um saco idêntico ao que colocaram na minha cabeça para me trazer até lá quando me sequestraram. Era de manhã bem cedo e meu humor não estava dos melhores. Fiz que não várias vezes, ameaçando correr mundo à fora e me negando a entrar na van que nos levaria para outro lugar. Eles esperavam me manter trancafiada dentro do veículo e a ideia não me agradava. Zayn — que conversava com três de seus homens, aparentemente combinando os últimos detalhes — se aproximou de nós e me encarou, seus braços cruzados em frente ao peitoral.

— O que foi agora? Algo desagrada a detetive? — Ironizou com um sorrisinho.

— Pode tirar sarro o quanto desejar — Falei, batendo os pés no chão e cruzando os braços, assim como ele — Mas a detetive aqui não consegue ficar em lugares fechados.

Ele riu.

— Então você é quem tem claustrofobia e mesmo assim resolveu me zombar quando nos conhecemos? — Tentou adivinhar — Você é muito esperta, mesmo — Em seguida, ficou sério — Deixe eles te colocarem junto com os outros na van. A não ser que queira um boa noite cinderela e um saco na cabeça. De novo.

Olhei para o meu irmão que veio ao meu resgate.

— Zayn, por favor — Louis pediu, cochichando — Ela tem isso desde muito pequena. Mesmo que tivesse pouca idade, o velório da nossa mãe não foi muito bom para ela.

Isso era verdade e, por mais que fosse, a lembrança me corroía. Apesar dos diversos tratamentos que fiz para superar, a imagem da minha mãe sendo trancafiada dentro daquela caixa gigante sem ventilação alguma, me fazia sentir algo muito ruim. Aquilo era demais para a minha versão de quatro anos de idade.

Zayn estalou a língua, após pensar por um tempo.

— Que seja — Disse — Só... só entre na maldita van.

Ele parecia entender um pouco do que eu passava. Aparentemente, seus sentimentos eram parecidos quando sua família se foi.

Niall me levou até o único — exceto pelo do motorista — banco de passageiro na parte da frente. A parte de trás do automóvel tinha suas cortinas em tons escuros e era completamente fechada de todos os lados como em um cubo, apenas com exceção de poucas frestas minúsculas para a passagem de ar. Nenhuma das janelas tinha a opção de abrir.

Quando tomei meu lugar, o assento ao meu lado foi ocupado por Zayn enquanto tentava vestir luvas escuras nos dedos. Lhe encarei.

— O que você está fazendo aqui? — Questionei.

— Alguém precisa dirigir, sabia? — Seu sarcasmo me deixava irritada constantemente — E também vigiar você.

Ele então cobriu meu cabelo usando uma touca preta de uma forma nada gentil, me levando a sentir suas mãos quentes e fofas pelo tecido que as revestia.

— O que é isso? — Perguntei tirando-a da frente dos meus olhos e a ajeitando de acordo a como uma touca deveria estar.

— Uma touca, não vê? — Desdenhou. Retirou de um de seus bolsos um par de luvas e começou as colocar em minhas mãos — Primeiro, se você morrer de frio, fica difícil conseguir algo de seu pai — Zayn puxou a touca rente ao meu casaco por cima da outra e fechou todos os botões dela — E, segundo, ninguém vai te reconhecer se estiver disfarçada.

Revirei os olhos e me voltei para a janela ao meu lado, esperando permanecer desta maneira para que não precisássemos conversar. De repente, Zayn inclinou-se com seu corpo para próximo ao meu, me permitindo sentir sua respiração fria, seu hálito fresco de menta, seu perfume característico e até o cheiro do cigarro que fora atirado mais cedo por ele ao chão. Me perdi em seus olhos brilhantes que encaravam os meus e nos sentimentos que os mesmos me causavam. Por uma fração de segundos, pensei que ele me beijaria e, pelos mesmos segundos, eu corresponderia ao ato. Foi então que ele puxou meu cinto de segurança que se localizava na parede oposta da van e o prendeu.

— Para o caso de tentar fugir ou só pra evitar de morrer se acontecer um acidente — Explicou tomando seu lugar em frente ao volante.

Ainda atônita, assenti sem saber qual seria a reação mais condizente ao que pensei por um milésimo ter sido real. "Ele só queria alcançar a ponta do cinto, Louise", pensava eu "pare de imaginar bobagens, ele é um criminoso!"

O tempo passava arrastando-se, e quanto mais o silêncio dele preenchia o vazio, mais aquilo me incomodava. Zayn era um homem de poucas palavras se não míseras e isso não lhe incomodava nem um pouco como angustiava a mim.

— Você vai mesmo ficar calado? — Indaguei em meio à quietude.

Ele assentiu sem tirar os olhos da estrada. Olhei para o lado e vi a outra van que transportava o resto dos homens passar por nós, sem levantar qualquer tipo de suspeita. Suas estratégias eram muito boas, presumi. Nenhum policial os pararia na estrada.

Soltei um suspiro longo e estiquei a mão para colocar uma música no rádio, porém Zayn a deteve e colocou meu braço de volta para perto do meu corpo. Semicerrei os olhos e tentei o ato mais uma vez, cincronizando em um canal de músicas populares. Sorri quando identifiquei a letra de Dandelions da Ruth B. Fechei os olhos e comecei a concentrar-me no ritmo da música. Sem expressar qualquer sentimento, Zayn trocou para uma canção tranquila e séria assim como ele. Era apenas instrumental, uma orquestra completamente sem graça.

— Ei, era minha preferida! — Exclamei ofendida — Que droga!

— Parece que o mundo rosa da princesinha já não é mais tão rosa assim, não é? — Ele falou rindo — O que foi? Eu te magoei? Vai chorar?

Apertei o botão do painel novamente, voltando à estação de rádio anterior.

— Não e eu nem gosto de rosa — Sorri, provocando-o.

— Céus! Essas músicas melosas são terríveis.

— Essa música não é melosa! — Rebati — Ela é perfeita na medida certa.

Seu dedo deslizou até o rádio, trocando para a música do seu agrado. E assim se iniciou uma discussão sem rumo sobre qual música deveríamos ouvir.

— Os senhores se importariam de parar em uma só droga de música? — Harry implorou quase gritando — Nós aqui não aguentamos mais!

— É — Hassan concordou com uma pontada de irritação na voz.

Pela primeira vez, Zayn não se aguentou e acabou esboçando um sorriso torto por um breve momento, mal percebendo que a minha escolha sobre o que ouvir havia prevalecido.

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Estou me organizando para publicar uma nova história amanhã... dessa vez eu vou fugir muito da minha zona de conforto porque essa fic vai ser de poderes e tals, espero que vocês gostem kkkkk

Ps: Dandelions é perfeita✨✨

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora