Capítulo IV

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Arrumei minhas malas e parti para a França. Emma precisava de toda segurança possível e cabia a mim assegurar essa questão pessoalmente. Entrei no avião com receio. Meu pai não costumava reagir bem quando descobria que eu voltava para lá às escondidas. Pelo menos duas vezes por mês eu corria até a mansão, nunca aguentei ficar longe de minha Irmã por muito tempo. Mas sempre tive medo de Joseph Moreau.

Assim que entrei no carro que me levaria até minha antiga moradia, era inevitável não perceber que todos os imóveis, comércios e residências que vi eram do grupo Moreau. Mesmo assim, isso nunca me irritou por muito tempo. Seja onde estivesse — França, Canadá, Espanha, Londres —, cada canto habitável do mundo era preenchido por propriedades Moreau, de ponta a ponta. Não existia uma escapatória formidável. Papai sempre quis mais e mais, como se não pudesse evitar a ganância. Nada nunca foi suficiente.

Coloquei os pés para fora do carro e isso bastou para que as milhares de lembras da mamãe tomassem minha mente em uma velocidade inigualável. Cada canto daquela mansão foi projetado por ela, pensando nela. Todas as árvores que seguiam a trilha de pedras até o chafariz em frente a enorme casa. Os mínimos tijolos que estruturavam a moradia tinham seu toque e isso doía.
Respirei fundo e esperei as duas montanhas, ou melhor, os dois seguranças que cuidavam do lugar desde que me entendo por gente, abrirem as portas.

Olá, Srta. Moreau! — Martin disse gentil.

Todos de lá falavam francês, coisa que eu também fazia com frequência até me mudar para Londres.

Olá, Martin. Olá, Bernard — respondi bem humorada — Bernard, meu pai... ele...

— Sim, senhorita. Ele já saiu para trabalhar — Bernard me respondeu. Adorava como ele sempre sabia o que eu gostaria de dizer — Pode entrar. Tenho certeza que a Srta. Moreau mais nova ficará feliz em lhe ver.

A porta foi escancarada, revelando todo charme dos lustres transparentes até o chão branco reluzente. O hall de entrada dava para duas enormes escadas, cada uma de um lado. Ao lado esquerdo, haviam duas portas e do direito estavam três. De uma delas, uma senhora muito simpática que me conhecia desde a infância veio aos pulos.

Ah, Srta. Louise, que bom ver a senhorita! Sentimos muito a sua falta!

A abracei fortemente.

— Eu também estava com saudades, Sra. Angelle! hum.. a Emma... ela está no quarto?

Sua expressão mudou de feliz para indignada.

Como sempre, sim — Ela baixou a cabeça —  A Sra. Moreau está cada vez mais rígida na questão dos estudos de Emma. Isso vem piorado desde que a senhorita foi embora. Pobre Emma...

— Não estou contente com isso — Confessei — Por falar na bruxa... ela não está em casa, não é? — Questionei apreensiva.

Ela.. ela...

A bruxa está sim em casa — Minha madrasta surgiu de repente — É também muito bom vê-la, querida Louise. Claro que também senti sua falta.

Eu não vim até aqui para brigar, Stephanie — Expliquei inquieta — Vim tratar de um assunto sério que envolve sua filha, a minha irmã.

— Não seja ridícula, Louise — Stephanie me repreendeu — Emma está muito ocupada estudando para ocupar o lugar que você não quis.

Pare de tratá-la como uma adulta! — Retruquei — Ela só tem dezesseis anos! Papai está muito bem e não precisa passar o lugar dele a alguma de nós ainda.

Como sabe que ele está tão bem assim se nem o visita mais? — Stephanie provocou com um sorrisinho vitorioso — Você virou as costas para ele, abandonou Emma e agora deseja me dar uma lição de moral?

Respirei fundo, convicta de que aguentaria por pouco tempo não revirar os olhos para ela.

Louise? Louise! — Emma gritou do topo da escada, descendo a mesma com certa pressa — Senti sua falta!

Seu abraço foi o mais aconchegante e apertado que podia me proporcionar. Era de seu costume ser bem afetuosa.

Você está bem grande, irmã! — Observei descrente — Até parece que foi ontem que te vi engatinhando por aí!

Você é tão sem graça! Temos só oito anos de diferença — Emma lembrou muito empolgada — Você não avisou que viria. Algum problema?

Olhei dela para sua mãe, em busca do mínimo de preocupação no rosto daquela loira fútil a qual tinha praticamente a metade da idade de meu pai. Stephanie casou-se com ele aos vinte e um e engravidou em seguida.

Não, nadinha — Menti, sorrindo — Eu estava morrendo de saudades da minha querida e doce irmã, só isso!

Nos abraçamos mais uma vez.

Por que não fica para o jantar dessa vez? — Stephanie desdenhou — Aposto que seu pai ficaria contente em conversar sobre aquele assunto com você.

Stephanie era pior do que a mais traiçoeira das cobras.

Sim! — Emma comemorou dando pulinhos, fazendo seus cachos sedosos e loiros saltarem para os lados. Seus olhos azuis, iguais aos do nosso pai, se iluminaram de alegria — Você vai ficar, não vai? Podemos dormir no meu quarto!

Fiquei receosa quando vi seu corpo tão frágil subindo as escadas em total euforia. Tinha medo que o mais fraco dos ventos a quebrasse. Emma era muito delicada, ou talvez eu que fosse muito cuidadosa...

Emma, uma dama não se comporta dessa maneira! — Sua mãe disse, sendo totalmente ignorada — Suba as escadas sem pressa!

Stephanie caminhou com rapidez atrás da filha, pronta para a corrigir. Não me surpreenderia caso descobrisse que Emma tem tido aulas de boas maneiras em todos os dias da semana.
No momento em que me voltei para subir as escadas, a Sra. Angelle segurou meu braço com carinho.

Louise — Ela chamou meu nome — Desculpe incomodar, mas você teve notícias do seu irmão nos últimos tempos? Suas irmãs vieram aqui a poucos dias. Não vejo seu irmão a muito tempo.

A preocupação da Sra. Angelle era plausível. Ela havia praticamente criado a mim e meu irmão, como uma tia ou algo do tipo. Assim que papai teve oportunidade, mandou meu irmão que não era seu filho para o exterior, para estudar. Depois disso, mantivemos pouco contato. Contudo, eu tinha a certeza que o via com mais frequência do que a pobre Sra. Angelle.

Seus olhos continham uma esperança significativa e ao mesmo tempo apreensiva.

Perdão, mas sei tanto quanto a senhora — Fui honesta — sei que ele é advogado a poucos anos e é muito bom nisso, por sinal. Raramente tenho o visto. Ele disse que tudo lá em Washington está um caos. Assim que ele conseguir, vem visitar a senhora e a Emma.

Fico um pouco mais tranquila — Falou aliviando a tensão de seu rosto — ele veio aqui esses dias e saiu furioso... Seu pai não gosta muito de falar sobre isso. Bom, vá descansar um pouco da viagem que eu lhe trago mais tarde algo para comer, está bem?

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Oiii!

Postando capítulo agora porque não tive tempo antes. Pretendo postar uma ou duas vezes por semana :)

As falas que estão em itálico são ditas em francês ou em uma língua diferente do inglês, então fiquem atentos quando aparecer de novo. (No caso desse capítulo, é em francês mesmo).

Bom, vou publicar mais um capítulo hoje para compensar os dias que fiquei organizando toda a história e não postei mais.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora