Capítulo XXXIII

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Os acontecimentos pareciam confusos dentro da minha cabeça. Tudo girava e eu era apenas levada sem pestanejar para os lugares, desejando a todo tempo voltar correndo ao encontro deles. Os cinco, apesar de saberem que provavelmente nunca sairiam da prisão, se arriscaram por Hassan. Se arriscaram por mim. Um chiado incômodo causava pânico em meus ouvidos.
Vê-los serem todos levados pelos muitos policiais, como se fossem animais, me causava dores. Eram empurrados e algemados. Não pude ao menos me despedir.

Louise? Louise?!

Reconheci a voz de uma das minhas irmãs em um diálogo tipicamente francês, porém não fiz questão de prestar atenção no que diziam. Eram sempre súplicas para que eu lhes contasse o que aconteceu durante esses dois meses e poucas semanas. Tudo, era o que eu responderia.

Minha mente voava para quando elas correram até mim assim que nosso irmão e os outros foram pegos, me abraçando de forma carinhosa e me impedindo de possuir uma última visão deles descendo as escadas. Perguntavam diversas vezes sobre Louis e o que ele havia feito. Não acreditavam, nem eu acreditaria caso fosse uma delas.

De repente, algo me veio à mente e senti o desespero tomar conta de mim.

— Hassan! — Era tudo o que eu conseguia dizer. Eu estava me habituando tanto ao inglês que nem me dava mais ao trabalho de usar nossa língua materna — O Hassan...! Ele... ele ficou lá.

Quem é Hassan? — Kendall quis saber, interrompendo sua conversa sobre tudo aquilo com as outras duas presentes ali — Louise, por favor, fale conosco! Nós saímos de lá fazem mais de três horas e até agora você não trocou uma só palavra com a gente. Você parece completamente distante!

Não eram só aparências, Ken, eu quis dizer. Desviei o olhar do quadro de horários da polícia e a encarei. Seus olhos escuros insistiam em um questionamento silencioso sobre qual seria minha resposta.
A delegacia era um lugar frio, provavelmente pelo ar condicionado ajustado ao calor de Londres, mas parte poderia ser pela minha confusão.

Esqueça — Pedi baixo, perguntando-me como eu descobriria onde Hassan poderia estar.

Kendall trocou olhares preocupados com Emma e Isabella.

Loulou... — Emma tentava chamar minha atenção, mas nem mesmo conseguia tocar minha pele por estar fria. Sentada na cadeira ao lado de Kendall, procurava não assustar-se com a repreensão de Bella e mexia insistentemente no seu cabelo loiro.

Não se refira a ela assim — Isabella chamou sua atenção — Ele a chamava assim. Nem sei se consigo o chamar de irmão... ele é um monstro.

Não fale assim! — Repeli o desgosto que tomara forma no rosto de Isabella — Ele é sim nosso irmão, sangue do nosso sangue! É seu irmão mais novo, Bella — Olhei para minhas próprias mãos e deixei a amargura transparecer no tom da minha voz — Devia ter humanidade.

Bella, com sua beleza característica, não perdeu nada disso no momento em que expressou uma careta.

Por favor, não vamos brigar agora — Disse Kendall, passando a mão insistentemente pelo meu braço, como se não aguentasse de alívio por eu estar viva. Mal sabia ela que meu coração já não estava mais aqui. Ele se encontrava indo em direção a cela onde os cinco estavam — Nós... nós fizemos de tudo para te achar. Se tivéssemos prestado mais atenção aos noticiários...

Ela se punia internamente, arrependendo-se por tudo que não fez.

Tudo bem, Ken — Respondi, ainda com a voz quase como um sussurro — Meu pai não iria avisar vocês, mesmo.

Não, mas ele disse que já está vindo para cá — Explicou — Quem é esse tal Hassan? — Insistiu Bella após minutos em silêncio.

Hesitei por um momento, analisando a bondade que seu rosto transmitia e do tempo em que éramos crianças. Isabella Hadid. Apesar de ser a mais firme de todas nós, Isabella carregava a tristeza de conhecer mais a mamãe do que eu e Louis. Eu sabia que doía mais nela do que em nós dois. Minha irmã tinha dez anos quando nossa mãe morreu e, mesmo assim, amparou um garotinho assustado de seis e a mim, uma confusa criança de quatro. A partir daí, contou apenas com seu pai, o Sr. Hadid, que a tempos buscava mantê-la bem. Eles viajavam muito juntos e tinham laços que até mesmo eu sentia vontade de os ter com meu pai.

Observei Kendall ao seu lado, a Jenner que eu pensava que roubaria meu pai para sempre no momento em que sua mãe, a Stephanie Jenner, casou-se com ele. O quão errada eu estava, só vejo agora. Os dois anos que nos separavam de nos considerarmos gêmeas de mães diferentes, eram os únicos que nos faziam iguais. Nunca entendi como seu pai pode abandoná-la tão pequena com a mãe. Em partes poderia ser pelo fato deles serem muito jovens quando a tiveram, ou então ele era simplesmente tão babaca quanto o pai de Louis.

Então encarei Emma. A nossa doce irmã caçula que, mesmo sendo apenas minha irmã e de Kendall, era tanto amada por Isabella quanto por Louis.

No instante em que a imagem de Louis veio na minha mente, trancafiado dentro de grades de ferro, implorando silenciosamente para fugir mas impedindo-se de gritar por mero orgulho, meu peito se apertou.

Ele é... a criança que estava lá quando vocês me acharam — Tentei explicar ainda atônita — O garotinho. Por favor, encontrem ele.

Eles devem estar procurando informações sobre ele — Emma considerou — O menino não merecia estar no meio de criminosos. Será que tem família?

Fiz que não automaticamente, torcendo para que ele estivesse na delegacia.

Acho que o vi ser trazido para cá — Kendall lembrou-se — Ele vai, provavelmente, ser mandado para um lar de acolhimento, caso não tenha familiares.

Eu preciso vê-lo — Comuniquei.

Você se apegou a essa criança? — A curiosidade de Isabella a tomou — Louise, não acho que você devia...

Eu preciso ver se o Sr. Payne já chegou — Continuei, ignorando-a — Ele deve ter assumido o caso quando fui pega... agora que me encontraram, eu acho que deve estar vindo para cá.

Lembrei de tudo que as atitudes irresponsáveis dele causaram ao filho e apertei meus olhos com força, segurando o ímpeto de exigir satisfações. Liam...

Louise, ele foi afastado desse caso assim que descobriram que um dos seus colegas, estava envolvido em tudo isso — Kendall pronunciou-se — Foi a pouco mais de uma hora. Saiu nos jornais a captura deles, mas não as identidades. Ele virá para cá depor.

Deixei de lado a parte em que além de colega, Liam era meu melhor amigo e filho do Sr. Payne. Cruzei os braços e procurei me acalmar, sem sucesso algum.

Eu não vou ficar aqui mofando nessa sala de espera.

Eu sei que o choque de ser sequestrada foi horrível, irmã — Começou Emma — Mas eu acho melhor que você fique...

Antes que ela pudesse completar com o "aqui", eu já estava dobrando o corredor e procurando a sala onde Hassan poderia estar.

Stockholm Syndrome? I [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora