Capítulo 32

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Antes do repouso recomendado pelo médico terminar, já tendo abusado um pouco da hospitalidade na casa do Davi, decidi aproveitar para visitar meus pais no interior. Na verdade, veio bem a calhar, já que eu não sentia que devesse ficar na casa do meu namorado por muito mais tempo. Na noite anterior, após me ver no sofá com o Artur no colo, informei a ele que tinha decidido passar os dias restantes de repouso na casa dos meus pais.

Davi, aparentemente, se ofendeu e disse que não entendia o motivo de eu querer sair da casa dele assim tão de repente. Em um primeiro momento fiquei me perguntando se aquela conversa seria mesmo necessária ou se eu estava interpretando uma cena onde não havia nada, mas a forma brusca como ele se deitou e virou para o outro lado fez com que eu sentisse que precisava dar alguma explicação a ele. Isso, entretanto, àquele ponto, não era necessário, então me limitei a virar na direção dele, abraça-lo e oferecer o conforto do meu carinho pelas horas que ainda teríamos juntos.

Já na casa dos meus pais fui bem recebido por todos, desde os antigos pacientes a outras pessoas que de uma forma ou de outra foram beneficiadas pelo meu trabalho voluntário na comunidade. Estava sentado na cozinha comendo um delicioso bolo de fubá que ganhei de uma das vizinhas, quando Davi me ligou.

— Oi, tudo bem? — Perguntou com um tom de voz receoso.

— Ei, tudo sim! E com você e o Artur?

— Estamos bem também.

Nos segundos seguintes um estranho silêncio se instaurou entre nós, algo que até então era difícil.

— Olha, — Davi quebrou o silêncio — espero que você não esteja chateado comigo pela minha reação de ontem.

— Chateado não, Davi, fiquei apenas surpreso.

— Por que surpreso? — Perguntou com um tom de voz mais elevado.

— Imagina porque né... eu só falei que ia passar esses dias com meus pais e você começou a agir todo estranho, como se eu estivesse indo fazer alguma coisa errada. Não entendi sua reação, de verdade.

— E é por isso que eu quero me desculpar, uai! Achei que você quisesse passar esse tempo comigo, já que antes do acidente a gente se via só quando dava.

— E você acha isso pouco?! Eu e você temos rotinas diferentes, mas mesmo assim sempre que posso dou um jeito de te ver, de fazermos alguma coisa juntos.

— Eu sei, eu sei. Por favor, não quero que pense que estou de cobrando alguma coisa, mas é que eu sinto a sua falta. Queria que você sentisse a minha também!

— Davi?! Acho que você não ouviu uma palavra do que eu acabei de falar, né?! Olha o que você tá me falando agora.

— Não é isso. Ah, quer saber?! Só quero me desculpar mesmo, ok? Não quero que fique um clima estranho entre a gente, especialmente depois desses dias tão legais que passamos juntos. Acho que me habituei rápido demais a ter você só pra mim, é isso.

— É, eu te desculpo sim, mas acho que é uma conversa que a gente precisa ter quando eu voltar. Ok?! É assim que adultos resolvem as coisas, com diálogo.

— Eu sei! Você tem razão. Olha, — suspirou — tenho que ir. Dê lembranças aos seus pais por mim.

— Dou sim! Manda um beijo pro Artur —, respondi automático.

— Só isso?! — Perguntou com um certo aperto na voz.

— Outro pra você também.

— Beijo.

Depois daquele estranho diálogo fiquei pensando se não estava indo rápido demais, se não estava me jogando de cabeça em uma relação que não estava madura o suficiente para ser. Quer dizer, apesar de toda a questão do sonho, do fato de eu estar me esforçando para fazer dar certo — pelo menos era o que eu achava — não entendia de onde tantas dúvidas surgiram na cabeça do Davi.

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