Capítulo 21

510 82 56
                                    

Davi e eu ficamos juntos para todos os lados da festa, enquanto o pequeno Artur ficou sob os cuidados de minha mãe e, mais tarde, com o meu pai. Confesso que a princípio tive medo de como meu pai reagiria em relação àquela criança totalmente estranha que estava sendo empurrada por minha mãe. De longe, pude ouvir o diálogo entre eles que foi mais ou menos assim:

— Franco, amor, cuida aqui do Arturzinho enquanto eu vou ali na mesa resolver um problema!

— Uai, Olga, quem é esse menino? Cadê os pais deles? Não vou ficar de babá.

— É o que?! — Perguntou nervosa. — Você vai ficar com ele sim porque eu estou pedindo, meu senhor! Era só o que me faltava. Artur, amor, você vai ficar com o tio Franco enquanto eu vou ali, tá bem?! — Falou para o menor. — Leva ele no pula-pula, Franco! Eu já volto. — Recomendou ao mais velho.

Meio vencido, meu pai pegou Artur pela mão e o guiou pela multidão indo em direção aos brinquedos. Pude ver que eles foram em todas as barracas, participaram dos jogos e senti que meu pai estava mais à vontade com a criança. De repente lembrei dos meus sobrinhos e que, talvez, meu pai sentisse falta dos netos.

Enquanto tudo isso acontecia, eu e o Davi estávamos às voltas na parte das comidas que, por sinal, estavam bastante saborosas. Via bastante gente por ali, algumas passavam e me cumprimentavam, uma das meninas do clube do livro agradeceu me repentino envolvimento com a causa e até encontrei um dos pacientes que tratei ao longo da semana.

— Essas pessoas gostam muito de você, né?! — Davi perguntou me olhando com certa admiração.

— Sei lá, deve ser só gratidão! E olha que nem fiz tanta coisa assim por eles.

— Você se importou com a causa deles e isso é importante.

— Pode ser. Você não tá preocupado com o Artur?

— E deveria?! Aposto que ele tá cansando seus pais, isso sim.

Enquanto ríamos da situação pude ver que ele estava meio inquieto e sabia que podia ser fruto da conversa que ele queria ter e eu me recusei por achar que não era o lugar e nem a hora adequados.

— Davi, não precisa ficar tenso assim... relaxa! — Disse repentino.

— Tá tão na cara assim?! Eu não consigo disfarçar minha ansiedade...

— Eu percebi! — Respondi sorrindo em sua direção. — Olha! Um touro mecânico. Você quer montar?

— Tá brincando?! Eu fui campeão de touro mecânico na faculdade.

— Eu nem sabia que existia competição disso!

— E não existe! Digamos que meu grupo de amigos era meio descompensado e criava motivos pra apostar.

De repente eu lembrei que a esposa dele frequentou a mesma faculdade, mas ele mesmo parece não ter lembrado disso e, se lembrou, soube disfarçar bem. Pude vê-lo se divertindo no touro mecânico como uma criança, até tirei algumas fotos com o meu celular. De repente o meu pai se aproximou de mim com o Artur que insistiu que queria subir no touro.

— Vovô, vovô, deixa eu ir lá! — O pequeno chamou.

Fiz uma expressão surpresa e meu pai olhou no meu rosto, enquanto o Davi se aproximava da gente. Só pedi aos céus que não deixasse nenhum climão se instaurar entre nós.

— Davi, esse meu pai, Franco! Pai, esse é o Davi, pai do Artur! — Disse apresentando um ao outro que se cumprimentaram com um aperto de mãos.

— Como vai senhor? — Perguntou Davi. — Esse pestinha tá dando muito trabalho?

— Ah, então você é o responsável por essa criança! — Meu pai disse estreitando os olhos e olhando do Davi para mim. — Trabalho nenhum, não é Artur?! Vamos no touro? Acho que tem um de criança logo ali.

Rota de Fuga.Onde histórias criam vida. Descubra agora