Capítulo 30

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Naquele dia, antes de ter alta definitiva do hospital fui pego de surpresa com a notícia de que o prédio onde eu morava estava interditado para análise de onde poderia ter acontecido o vazamento. Ainda estava no quarto com Davi sempre ao meu lado quando o inspetor dos bombeiros apareceu querendo saber como estavam as coisas e me dar as notícias de que eu estava, temporariamente, despejado.

— Opa, bom dia! Meu nome é Marcelo, sou inspetor dos bombeiros aqui na cidade e vim saber como você se sente.

— É, bom dia! Eu posso dizer que já estive melhor! — Respondi num meio sorriso.

— Foi um susto e tanto! — Davi deixou registrada sua preocupação.

— Pelo menos todos estão bem! A má notícia é que seu prédio precisará ser vistoriado para identificar o que causou o vazamento de gás e, dependendo, precisará de algumas reformas. O condomínio optou por fazer uma análise na estrutura e infelizmente você não poderá retornas para casa por, no mínimo, sete dias.

— O que?! — Perguntei assustado. — Sete dias? Nossa! Mas eu não tenho pra onde ir, meu Deus! Minha família mora em outra cidade e eu preciso trabalhar. — Respondi sentindo minha garganta fechar.

— O condomínio se responsabilizou por pagar um hotel para os moradores que não tiverem opções, então pode ser uma boa alternativa pra você. Bem, era só isso mesmo que eu tinha pra dizer, então nos vemos assim que as coisas estiverem estabilizadas no seu apartamento.

— Obrigado, eu acho!

O homem saiu pela porta e levou com ele a minha recém descoberta vontade de viver mais intensamente. Quer dizer, agora, além de tudo, eu não tinha para onde ir. Não pediria abrigo à Cris ou mesmo a qualquer outra pessoa porque sou extremamente reservado e não gosto de sentir que estou incomodando. Estava quase à beira de um colapso quando uma voz suave e um toque macio me interromperam.

— Antônio? Ei, tá tudo bem...

— Ahn, oi?! O que houve?

— Você tá pensando demais de novo. — Davi disse sorrindo. — Quase consigo ver fumaça saindo dessa cabecinha. — Disse passando a mão pela minha cabeça.

— Nossa, isso me pegou de jeito! O que eu faço agora? — Respondi olhando para o seu rosto consternado.

— Como assim o que você faz? Tem um problema aí?

— O que? Como assim, Davi? Você não ouviu o homem?! Eu não posso voltar pra minha casa.

— Ah, isso... então... — Corou. — Eu estive pensando e... bem, eu não sei como dizer isso sem que você, sei lá, se ofenda ou comece a pensar demais.

— Por que você não me deixa decidir isso? — Respondi tocando gentilmente seu rosto.

— Certo! Eu quero que você fique lá em casa. — Disse sério. Eu pausei um pouco, segurei a respiração e o ar no ambiente parecia meio denso, até que ele continuou. — Viu?! Era essa reação que eu temia. Olha, eu não quero forçar nada e...

— Eu aceito! — O interrompi na defesa de sua tese.

— O que?! — Perguntou meio surpreso.

— Eu aceito, uai! Quer dizer, acredito que não vai ter nenhum problema, já que você propôs não é mesmo?! — Sorri sem graça.

Sem dizer nada, ele se aproximou, aproximou nossos narizes e me deu um beijo suave. A prática de tocar o nariz dele no meu, inclusive, eu descobriria mais à frente que se tornaria algo nosso, uma demonstração de intimidade, de confiança, e eu estava perdidamente apaixonado por ele.

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