Capítulo 13

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Sexta-feira, meu último dia trabalhando na ala da pediatria antes da mudança efetiva para a ala de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Cheguei ao hospital 10 minutos antes do meu horário e fiquei rememorando meus momentos ali, desde o meu primeiro paciente ao meu mais recente. Lembrei das histórias de vida que me foram contadas, dos exemplos, das lágrimas derramadas em conjunto e de todas as coisas boas que eu levaria comigo para sempre. Estava sentado no ambulatório, olhando para cada canto daquele lugar, quando fui interrompido pela Cris, em pé ao meu lado, de braços cruzados olhando na mesma direção que eu.

— É, parece que alguém está pensativo hoje.

— Vou sentir falta daqui. — Respondi enquanto virava lentamente minha cabeça em sua direção.

— Imagino como esteja se sentindo, mas, como já disse antes, é uma oportunidade pra você crescer como profissional e crescer dói.

— Fico pensando se dei tudo de mim a serviço das pessoas por quem passei. Sei lá, de repente tudo parece ter acontecido tão rápido.

— Acho que você não deveria ir por este caminho. Tenho certeza que você fez o que pôde dentro dos seus limites.

— Sim sim... é exatamente por isso que eu decidi aceitar o convite do Celso, quer dizer, desafiar os meus limites.

— Ah, querido! Todos aqui sentiremos falta de você e sua gentileza, mas agora existem outras pessoas precisando conhecer você e o profissional maravilho que você é.

Nos abraçamos por alguns momentos, até que fomos para lados diferentes atender cada um sua própria demanda. Sei que com o passar do dia recebi o carinho das pessoas que passavam por ali, desde os pacientes recorrentes à equipe com quem eu trabalhei pelos três anos em que estive na ala da pediatria. Em determinado momento Lola me abordou na recepção e eu estranhei sua presença ali.

— Uai, Lola, o que faz aqui?

— Ei Antônio, tudo bem? Ah, eu mudei de horário... agora que você vai pra outro setor consegui sair da noite.

Aquilo sim, parecia muito mais como uma manifestação de que eu estava mesmo indo embora, exceto pelo fato de que eu ainda estava por ali e precisava terminar meu turno de trabalho.

— Ah, deve ser um alívio né?!

— Imagina! Apesar do cansaço, eu gostava de trabalhar em horários alternativos. Sentiremos sua falta. Olha, hoje a equipe do infantil vai se juntar pra uma pequena despedida, coisa simples. Então se anima porque jaja tem festa.

— Meu Deus! Vou nem perguntar de quem foi a ideia...

— Óbvio que da doutora Cristine né?! — Disse sorrindo e me arrancando um sorriso junto.

— Muito bem! Depois eu mato a doutora. Bem, deixa eu continuar... depois conversamos com calma.

Nos despedimos cada um para o seu canto até que por volta das 15h Cris pediu que eu fosse até seu consultório e, como esse era o horário no qual tomávamos café, entendi que talvez fosse a despedida de uma tradição tão nossa. Batendo na porta, anunciei me chegada.

— Doutora! Cheguei. Queria me ver?

— Já sabe que horas são?!

— Sei! —Disse suspirando, fechando a porta atrás de mim e sorrindo.

— E aí, ansioso pra começar de novo?

— Definitivamente ansioso, mas quero pensar nisso só no fim do dia! Falando nisso, a Lola me contou dos planos de despedida...

— Ah, eu ia te contar!

— Sei...

— Sério... o Doni conseguiu separar uma mesa pra gente lá naquele restaurante do outro dia, onde trabalha aquele boy hétero gato.

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