Capítulo 17

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Estava colocando a mala no carro recém alugado, quando dei uma última olhada, mas não definitiva, para o meu prédio, respirando o ar daquela cidade por mais alguns momentos. Os últimos momentos no hospital antes de ir para as minhas tão merecidas e esperadas férias ainda me causavam pesar. Naquele mesmo domingo, após o Davi dormir na minha casa, recebi a notícia que trabalharia no horário diurno, então fui dormir mais cedo.

As lembranças variavam entre a cena dele chorando na calçada, nu no meu chuveiro, me beijando, indo embora e, inevitavelmente, chegavam até a Vanessa. Não era justo com nenhum de nós aquela situação, então eu fiquei triste. Aliás, acho que melancólico é a palavra adequada. De todo modo, diferente do dia anterior, eu consegui dormir sem nenhuma ajudinha extra.

Chegando no hospital, a Célia, do administrativo, pediu que eu fosse até sua sala assinar meu aviso de férias e me deu a opção de escolher entre tirar 15 dias ou os 30 dias de uma vez.

— Nossa, eu nem sabia que tinha a opção de tirar os 30 dias de uma vez!

— E normalmente a direção não permite mesmo. Só que você uma semana de férias vencidas, então não é interessante pro hospital ficar nesse looping. Caso opte por tirar apenas 15 dias, os outros 15 poderão ser tirados ao longo do ano, mas os 7 restantes precisarão ser remunerados.

— Você quer dizer que o hospital pagaria por essa semana restante? Nossa! Como eu não soube disso antes?!

— Alguma falha administrativa, mas queremos resolver.

— Entendi! Eu tenho outra proposta.

— E qual seria?

— Tirar 20 dias agora e os outros 15 para daqui 7 meses em média, o que acha?

— Bem, essa realmente não era uma opção, mas acredito que estamos em dívida contigo. Fechado! Me dá um segundo que eu vou preparar o termo de solicitação de férias.

Acho que qualquer pessoa no meu lugar teria optado pela remuneração dos dias que ficaram perdidos, mas, apesar de saber que eu poderia usar aquele dinheiro para alguma coisa útil, achei melhor não desperdiçar a oportunidade de descansar mais um pouquinho durante o ano. Era a coisa certa a se fazer! Eu iria para a casa dos meus pais e lá passaria uns 15 dias ou o tempo que aguentasse.

Quando voltei para a ala de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) fui informado pela recepcionista que o doutor Rocco estava à minha espera em sua sala. Mais essa! Não estranhei, já que ele trabalhava alternando entre diurno e noturno para monitorar o trabalho, então fui direto para o consultório onde ele se instalou.

— Licença, doutor! O senhor queria me ver? — Perguntei batendo à porta.

— Sente-se! — Respondeu ríspido.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei preocupado.

— Sabe, Antônio, às vezes a gente se engana muito sobre as pessoas e eu me decepcionei com você. Imagina qual não foi minha surpresa ao ir até sua casa conversar sobre nós — disse soltando um riso sarcástico, — e um homem de cabelo molhado me dizer que você estava no banho. Como você pôde?

— Eu não estou entendendo! Você pode ser mais claro?

— Eu todo iludido acreditando que eu podia te dar uma chance, que você era diferente, mas não! Na primeira oportunidade já arrumou outro.

— Você está me ofendendo doutor!

— Acho que você merece!

— E eu acho que você não está sendo racional, Rocco! — Falei essas palavras de forma rude para ver se ele acordava. — Primeiro que, apesar de não ser da sua conta, eu não estou com aquele homem simplesmente porque ele é um amigo que estava passando por um momento difícil. Segundo que, não foi você mesmo quem disse pra deixarmos o nosso relacionamento estrito ao profissional? Não tô entendendo essa mudança súbita. Terceiro que, antes de qualquer coisa, você sumiu por dias, me deixando no escuro sobre a nossa situação. Não venha me dizer agora que sou um qualquer, porque você está sendo injusto.

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