Quando acordei no outro dia, o sol entrava pela fresta da janela e, como eu já disse antes, não gosto da sensação da luz no meu rosto logo cedo, então fui obrigado a despertar. Sentei por um breve momento na cama, fiquei pensando no dia, lembrei do voluntariado e já desci as escadas procurando por minha mãe. Tínhamos muito trabalho a fazer no posto e eu mal podia esperar para começar.
— Bom dia, mãe! — A encontrei de avental na cozinha.
— Bom dia, mocinho! Melhorou? Dormiu bem?
— Dormi sim! — Respondi bocejando antes de depositar um beijo no topo de sua cabeça.
— Muito bem! Óh, ontem eu falei com as meninas sobre o posto e hoje é capaz de terem umas duas ou três pra ajudar a gente a limpar.
— Que boa notícia, mãe! Mas como você noticiou isso assim? Lembra que eu não sou médico e que eu não posso fazer nada que seja atividade típica de um médico, ok?!
— Mas deixe de ser bobo, rapaz! É claro que eu tomei cuidado. As meninas já estão espertas com isso também! Ai meu filho, conseguimos trazer uma banda pro evento. Vai ser uma coisa tão linda!
— Vocês estão empolgadas mesmo né?! — Perguntei bobo com aquela excitação toda.
— Sim, tudo pra ajudar as pessoas mais carentes.
— Faz muito bem, mãe!
— Mas, me conta, qual é o plano?
— Bem, primeiro preciso saber o que tem no posto que eu posso aproveitar, remédios, suprimentos e essas coisas. Depois a gente vê o que faz!
— Tá certo! Então toma café, fiz um bolinho de milho pra você. Depois a gente desce pra se encontrar na cidade com o pessoal.
Realmente o grupo de amigas da minha mãe mobilizou um número considerável de pessoas e conseguimos rapidamente limpar todo o ambiente destinado ao posto, o que era um alívio já que eu não queria passar muito tempo no meio daquela poeira com medo de mais uma crise alérgica. De fato, mesmo com toda aquela ajuda a faxina durou em torno de 7 horas, o que acabou consumindo todo o nosso dia, mas, felizmente, tudo o que precisava ser ajustado acabou acontecendo para que, no outro dia, as coisas estivessem funcionando.
Eu só lamentava que o meu trabalho como voluntário ali naquela região fosse durar tão pouco, já que eu tinha apenas mais algum dia de férias, porém é o que fazemos em favor do próximo que importa. Em casa, minha mãe nos preparou uma maravilhosa janta que serviu para reforçar a necessidade que eu tinha de estar próximo aos meus pais novamente, já que sentia falta das coisas mais simples como o tempero que minha mãe usava ao cozinhar.
Após o jantar, fiquei na varanda apreciando aquele lindo céu quando meu celular vibrou com uma chamada de vídeo. A princípio eu estranhei, mas não até ver de quem era aquela ligação, então atendi imediatamente.
— Ei, boa noite! Atrapalho? — Perguntou envergonhado.
— Ei Davi, boa noite! Não atrapalha. — Respondi sorrindo bobo. — A que devo a honra?
— Ah, não tive mais notícias suas, então achei melhor quebrar um pouco a etiqueta e ligar logo.
— E existe uma etiqueta pra ligações? — Perguntei divertido.
— Deve ter alguma regra, certeza! — Respondeu espantando o ar à sua frente.
— Bem, hoje meu dia foi um pouco complicado... limpamos o lugar que servirá de posto de saúde pelo menos pelos próximos dias.
— Como assim? Você não ta de férias?
— Pois é. Acabei me voluntariando para ser enfermeiro aqui na comunidade, porque eles têm algumas demandas simples, mas não tem quem faça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rota de Fuga.
RomanceAntônio, um jovem enfermeiro desiludido pelo amor é pego de surpresa pelo convite de um de seus pacientes para uma festa de aniversário. Numa sequência de acasos de ironias do destino, o rapaz vai percebendo que sua vida, antes muito bem planejada...