A sensação após o jantar foi de dever cumprido, porém, eu ainda estava meio receoso com tudo aquilo. O Davi ainda não tinha conversado com a Vanessa porque, de acordo com ele, cada vez que ele tentava se aproximar para tratar sobre o término deles ela fugia do assunto. Eu, transparente que sou, não consegui esconder meu descontentamento associado ao fato de que trocamos muitos beijos enquanto as coisas ainda estavam daquela forma.
— Mas, Antônio, já não existe nada entre eu e ela! — Disse em uma das nossas conversas por mensagem. — Não tem porque você se sentir assim.
— Eu sei, Davi! Eu sei. Lembra quando conversamos?! Eu disse que a gente devia viver um dia de cada vez, mas que as coisas não poderiam andar enquanto você não resolvesse suas pendências.
— Lembro sim da nossa conversa e te garanti que eu não sou um mal caráter! Tenho palavra. Só acho que você não precisa criar toda essa barreira, já que está muito claro pra mim que eu e ela não temos mais nada.
— Parece muito fácil, sabe?! Não confio nas casualidades do destino.
— E em mim, você confia? — Mandou me pegando totalmente desprevenido.
— Sim... estamos nos conhecendo e eu não toparia isso se não sentisse confiança no que você fala.
— Então pronto, moço! Fica tranquilo.
— Desculpa insistir nesse assunto, mas é que eu ainda acho que as coisas não estão resolvidas, entende?
— Entendo sim, mas não sei mais o que eu posso fazer. Enfim, vou na casa dela, se for preciso, mas essa história termina ainda hoje, ok?! Isso te deixa mais tranquilo?
— Não é por mim, Davi! Se for por isso não tem porque você fazer.
— Mas não é por você... é por nós! Acredita quando eu falo que ela sabe muito bem que acabou. Não existe essa história de tempo, mas as coisas ficarão às claras.
Conversamos mais um pouco, por dias a fio, e eu não podia deixar de me sentir culpado por tudo o que estava acontecendo. Era como se eu o estivesse pressionando e não era nada legal aquele sentimento, porque parecia que eu estava em um lugar que não era meu. Droga! Odiava criar tempestades em copo d'água, mas eu não ficaria em paz enquanto ele não se resolvesse.
Era sexta-feira, eu estava sentado na minha sala pensando em pedir uma pizza ou alguma coisa para comer, quando minha campainha tocou. Estranhei de primeira, porque não estava esperando ninguém e duvidava muito que a comida tenha sido enviada magicamente até minha casa, já que eu não pedi nada. Abri à porta totalmente despreocupado como estava e me deparei com a cena mais assustadora de todas.
— Davi? Ai meu Deus! O que aconteceu? — Perguntei preocupado.
— Oi, lindo, posso entrar? — Perguntou com a mão apoiada no batente, me lançando um olhar de cachorro pidão.
— Pode, clar...
Antes que eu terminasse de falar ele veio na minha direção e me deu o beijo mais desesperado de todos, com vontade, daqueles que deixam a perna da gente bamba. De repente ele parou de me beijar e começou a rir.
— Ai, eu precisava fazer isso, mas agora tá doendo!
— Vem, deixa eu cuidar desses machucados enquanto você me explica porque seu rosto tá todo arranhando e suas roupas rasgadas.
O coitadinho estava com um olho roxo, um corte do supercílio e escorria sangue do canto da boca, sem mencionar a camisa totalmente esfarrapada. Enquanto ele se sentava no sofá, fui até a cozinha pegar um saquinho com gelo para que colocasse sobre onde doía.
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Rota de Fuga.
RomanceAntônio, um jovem enfermeiro desiludido pelo amor é pego de surpresa pelo convite de um de seus pacientes para uma festa de aniversário. Numa sequência de acasos de ironias do destino, o rapaz vai percebendo que sua vida, antes muito bem planejada...