Ainda ali no restaurante, observando Antônio enquanto interagia com minha equipe, recordava do momento que mudou nossas vidas para sempre. No dia seguinte ao que eu dormi em sua casa, acordamos, demos uma volta pela propriedade e tivemos a oportunidade de conversar sobre aquilo que estava me incomodando aquele tempo todo. De fato, abri meu coração para ele que entendeu o que estava acontecendo, mas não se comprometeu comigo ou com aquele sentimento que, mesmo tão pequeno, eu tinha certeza ser recíproco.
Lembro da cena em que vi Artur, meu filho, e Franco, o pai de Antônio, brincando com um pequeno barco de madeira no lago pertencente à propriedade. Meu filho, uma criança esperta, conquistou o coração de toda a família e já chamava meu futuro sogro de vovô. De uma forma especial, aquilo aqueceu meu coração, mas eu precisava ter meus pés no chão.
Tudo o que Antônio me pediu foi que resolvesse minha situação com a Vanessa e, então, poderíamos conversar. Os dias se passaram, ele voltou de férias e eu o fiz prometer que jantaria comigo no restaurante assim que voltasse. Recorri ao meu amigo, Francisco, e ao meu funcionário de maior confiança, o Donatello, para que me ajudassem na missão de transformar aquela na melhor noite de todas, quer dizer, pelo menos tentaríamos.
Antes da chegada dele, porém, eu tentava a todo custo conversar com a Vanessa, resolver nossa situação de uma vez por todas, mas ela me dizia que não estava pronta para nossa conversa, que era melhor mantermos nosso tempo pelo menos por enquanto. Mas eu não queria mais! Ela não entendia que a coisa toda tinha sido um erro e eu não tinha forças para lutar contra aquilo.
Finalmente chegou o dia que jantaríamos juntos, eu e ele, reservei a área aberta do restaurante, pedi que Francisco fizesse o melhor que pudesse por aquele jantar. Ao longo do dia eu não conseguia conter minha ansiedade pela hora marcada, mas também não falei mais nada com ele sobre aquilo. Para todos os efeitos, eu passei o dia resolvendo problemas no banco, no que ele acreditou por um tempo, mas eu estava mesmo era correndo para fazer nosso jantar o mais especial de todos. Além disso, por mais ansioso que eu estivesse, por mais forte que meu coração pulsasse, ainda tinha uma grande chance de aquilo ser tudo uma ilusão da minha mente.
Na hora marcada, porém, tudo mudou! Eu estava agoniado, olhando as horas sem parar, olhava para o céu estrelado, torcendo para que o Universo fizesse uma intervenção em meu favor, que aqueles nossos momentos fossem o pontapé inicial do resto das nossas vidas. Fazer o que: eu sou intenso! Por mais que sequer tivéssemos começado a nos relacionar, algo em mim dizia que ele era a pessoa certa, aquele que faria a espera valer a pena. Eu precisava me agarrar a esse pensamento, ao meu sexto sentido, com as melhores forças que eu tivesse.
— Boa noite! — Disse chamando minha atenção.
— Antônio! Wow, você está incrível! — Sorri sincero em sua direção.
— Obrigado! Você também não está nada mal.
— Gostou?! — Perguntei.
— Bastante!
— Fiquei com medo que você não viesse. — Confessei.
— E eu achei que você tinha esquecido! — Falou apressado.
— Por que você achou isso?! — Perguntei surpreso. — Não importa! Estamos os dois aqui. Vinho? — Ofereci a ele uma taça.
— Obrigado!
— Acho que é a bebida ideal... o clima está tão agradável, não acha?
— Sim! — Sorriu sem graça. — Onde estão os clientes? Aconteceu alguma coisa.
— Não se preocupe com isso! Uma das vantagens de ter um restaurante é poder reservar o telhado quando quiser! — Talvez tenha soado meio pedante, mas era a realidade.
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Rota de Fuga.
RomanceAntônio, um jovem enfermeiro desiludido pelo amor é pego de surpresa pelo convite de um de seus pacientes para uma festa de aniversário. Numa sequência de acasos de ironias do destino, o rapaz vai percebendo que sua vida, antes muito bem planejada...