No outro dia era domingo, dia que eu, tradicionalmente, acordava mais tarde para fazer nada. Rocco dormiu na minha casa, por óbvio, e eu fiquei pensando que quebrei minha própria regra de não levar nenhum homem com quem eu tivesse um envolvimento casual para dormir na minha casa. Só que naquele momento eu estava dormindo e sonhando, ou seja, não estava pensando em nada. Acho que esse é o único momento do dia em que eu realmente desligo.
Fui acordado com pequenos beijos gelados sobre minha bochecha e era uma delícia essa sensação.
— Acorda dorminhoco! Tô morrendo de fome...
Rocco parecia ter escovado os dentes e, a julgar pelos cabelos levemente umedecidos, parecia ter tomado banho também.
— Bom dia, doutor! Que horas são?
— Quase 10h!
Fechei meus olhos, coloquei o travesseiro no rosto e disse que dava para dormir mais um pouco. Ele, entretanto, me disse que era melhor eu me levantar logo para aproveitarmos o dia que estava lindo lá fora. Me sacudindo, ele me disse novamente que estava com fome. É, pelo visto eu teria que quebrar minha tradição e levantar antes do usual naquele domingo.
Me levantei e reparei que estava nu. Só me dei conta disso quando ouvi um assovio vindo da boca do meu visitante. Instantaneamente eu corei e cobri minhas partes íntimas, mas com muito custo já que homens tem um detalhe impossível de ser escondido pela manhã.
— Você é engraçado... não tem nada aí que eu já não tenha visto antes!
— O que não torna essa situação menos embaraçosa né?! — Respondi ainda envergonhado.
— Quer que eu cubra meus olhos? —Perguntou levando a mão com os dedos entreabertos em direção ao rosto.
— Besta! — Joguei nele um travesseiro que ele abraçou caindo na cama.
Aproveitei a distração e corri para o banheiro. Definitivamente eu precisava aproveitar melhor aquele dia, mas fazia tanto tempo que eu não passava por esse tipo de situação que nem sabia como agir, então achei melhor apenas deixar o tempo passar. Terminei de tomar banho, escovei os dentes e quando abri a porta do banheiro um cheiro delicioso de café tomou conta do ambiente e Rocco estava sentado no sofá lendo um dos livros que eu tinha sobre a mesa. Parecia concentrado e eu achei a cena fofa.
Rapidamente fui para o meu quarto e vesti uma roupa leve, casual. Já pronto, fui em direção à minha visita esperando que ele já estivesse também pronto. Sorrateiramente fui até ele que continuava concentrado na leitura.
— Então, — interrompi — podemos ir?
— Claro! — Respondeu pousando o livro sobre o sofá.
— O que faremos?
— Bem, eu to morrendo de fome, mas, pela hora, acho melhor comermos um brunch. O que acha?
— Acho ótimo! Podemos ir na padaria do outro dia...
— Tenho uma ideia melhor! Você vai pro meu lado da cidade, agora.
Fiquei tenso nesse momento. Quer dizer, domingos são para descansar e eu não queria causar nenhum inconveniente para ele.
— Imagina... não quero te dar esse trabalho!
— Trabalho nenhum uai... o mesmo que você teria se a gente ficasse aqui.
— Tem razão! Vamos. Deixa só eu pegar minha carteira e um casaco.
Prontos, descemos em direção ao lugar onde a moto do médico bonitão estava estacionada e partimos em direção à sua casa. Enquanto o caminho ia ficando para trás, percebi que estávamos já num dos bairros considerados nobres da cidade. Casa lindas, grandes, com jardins, bem cuidados e eu fui ficando meio apreensivo com o que me aguardava em seguida. Rocco parou em frente a um lindo prédio estilo industrial, com enormes janelas pretas e um hall de entrada bem decorado que me deixou surpreso, mas não disse nada porque não queria fazer feio.
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Rota de Fuga.
RomanceAntônio, um jovem enfermeiro desiludido pelo amor é pego de surpresa pelo convite de um de seus pacientes para uma festa de aniversário. Numa sequência de acasos de ironias do destino, o rapaz vai percebendo que sua vida, antes muito bem planejada...