Capítulo 14

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Acordei na manhã seguinte e permaneci deitado boa parte do dia, apenas gastando oxigênio olhando para o teto. Me distraí assistindo alguns vídeos engraçados no meu celular e nem reparei a hora passando e nem queria mesmo. Me sentei na cama, olhei no calendário e minhas férias se aproximavam com a certeza que eu passaria bons momentos na casa dos meus pais. Só precisava aguentar mais alguns dias até que finalmente pudesse dar início ao plano "Rota de Fuga".

Apesar de preocupado com minha alimentação, naquele dia acabei não comendo nada, porque era um daqueles dias preguiçosos que você não quer fazer nada, sem ânimo para qualquer atividade que exigisse muito de mim. Quer dizer, não que cozinhar exigisse forças extremas, mas eu estava apenas com preguiça mesmo.

Em determinado momento peguei a caixa com os presentes que me foram entregues, sentei no meu tapete fofinho no chão da sala e comecei a ver o que tinha dentro da tal caixa. Havia fotos com dedicatórias, momentos engraçados, como uma festa para crianças carentes organizada pelo hospital, alguns cartões com felicitações e mensagens de boa sorte, coisas que a gente só encontra com pessoas de bom coração como eram aquelas.

Vendo tudo aquilo, me animei com a ideia de montar um álbum com as melhores recordações até ali e, colocando meu lado artístico para funcionar, pensei em criar um scrapbook onde eu teria espaço para guardar os bilhetes e as fotos. Me levantei revitalizado com essa ideia, tomei um banho morno, vesti uma roupa quentinha e fui até a papelaria próxima da minha casa comprar os materiais que precisava.

À medida que ia avançando com aquele trabalho muitas lembranças iam vindo à minha mente e eu ficava feliz em recordar cada uma delas, afinal o trabalho até ali, como mencionado antes, me trouxe realização em vários aspectos da vida. Estava colando uma foto estilo polaroide, ouvindo uma playlist aleatória, quando meu celular começou a tocar. Atendi sem nem mesmo ver quem era a pessoa ligando.

— Alô?

— Hey, Antônio! Tudo bem?

— Francis?! Quanto tempo. Tudo bem sim e contigo?

— Bem demais! Saca só, hoje vai ter uma apresentação da banda no bar da Rua 09, ta afim de ir?

— Mas assim, do nada?! Isso ta mal contado...

— Qual é!! Deixa de ser mala... vai ser legal.

Então pensei "por que não?!", afinal era sábado e eu tinha só 29 anos.

— Tudo bem, Fran! Eu vou.

— Ahh meu garoto! Te espero lá. Não fura ein!

Francis era um antigo colega da época de escola, aquele menino do violão que sai cantando em tudo que é evento cultural e sempre tem uma legião de meninas interessadas. Depois do ensino médio as nossas vidas tomaram rumos diferentes, mas, vez ou outra, ainda nos encontrávamos para saber como as coisas estavam indo. Na verdade, foi com ele que eu perdi minha virgindade e, como se o dia já não estivesse nostálgico o suficiente, rememorei episódios desse período da minha vida.

Bem, aceitei o convite sem muitas expectativas, porque mesmo que eu curtisse o som da banda dele, eu fazia mais o tipo caseiro. Iria ao tal bar sim, para prestigiar meu amigo e também para aproveitar a noite. Com prometido, no horário marcado lá estava eu reencontrando meu círculo antigo de amigos por razão nenhuma.

— Eu não acredito que tu veio mesmo! — Francis se apressou em me abraçar.

— Eu disse que vinha!

— Que saudade! Você tá tão bonito, Antônio.

— Você também não tá nada mal. — Sorri em sua direção. — Esse estilo alternativo lhe cai bem.

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