A primeira noite na casa dos meus pais tinha sido ótima e eu consegui dormir como em muito tempo não conseguia. Acordei tarde todos os dias enquanto pude e fiz uma aparição não planejada no tal chá de senhoras organizado pela minha mãe, que ficava se gabando por ter um filho que trabalhava no hospital. Enquanto passava pela sala vindo de uma caminhada pela vizinhança cumprimentei às senhoras na sala, continuei em direção ao banheiro, mas pude ouvir alguns comentários sobre minha breve passagem.
— Nossa, Olga! Como seu filho é lindo... ele tem namorada? Faria um belo par com minha afilhada, a Bel. — Disse uma senhora.
— Mas eu não tô dizendo?! Você fica querendo enfiar aquela menina pra tudo que é homem. Cuida da sua vida, Maria! — Disse outra.
— Ih minha filha, você nem se preocupe porque o meu Antônio gosta mesmo é de meninos! — Com certo espanto, pude ouvir minha mãe saindo em minha defesa.
— Mas lindo desse jeito?! Não é possível. — Respondeu a senhora que até agora há pouco julgava a outra por estar tentando casar a afilhada.
— Cida, querida, e a história de cada um cuidar da sua vida ein?! — Respondeu minha mãe com a língua afiada. — A mim o que importa é a felicidade dos meus filhos! E, ó, sei que essa conversa vai rodar... pois fiquem vocês sabendo que eu não ligo.
— Meninas, não estamos aqui pra falar dos nossos filhos né?! — Interrompeu uma outra senhora do grupo. — Semana que vem faremos aquele evento beneficente pra arrecadar fundos pro posto de saúde, vocês se lembram?
— Verdade, Agnes! Olha, eu falei com meu irmão e ele ficou de conseguir um pula-pula pras crianças.
— Ai que notícia boa! Será que seu filho não pode contribuir como voluntário, Olga?
— Boa ideia! Mas eu vou ter que conversar com ele né?!
— Tomara que ele aceite! Vai ser muito bom alguém com conhecimento de saúde pra ajudar o povo.
— Maria, meu filho não é médico! Ele é enfermeiro. — Advertiu minha mãe.
— Ué, mas o que tem?! Talvez ele contribua de alguma forma né?!
— Não sei! Essas coisas são muito restritas, mas eu falo com ele.
Saí dali e deixei minha mãe e suas amigas tramando o futuro do tal evento beneficente. Se não fosse a tristeza que estava me abatendo, eu com certeza aceitaria ao convite sem nem pensar duas vezes, porque se tem uma coisa que eu gostava era de ajudar aos outros. De todo modo, não sabia em qual confusão minha mãe queria me meter, então aguardaria até que ela visse me dizer o que estava aprontando.
Realmente os dias ali passariam se arrastando, mas era disso que eu precisava mesmo e, de repente, me ocupar talvez fosse a solução para não ficar pensando no que eu queria evitar. Mas, naquela tarde, algo inesperado aconteceu e levou consigo toda a força de vontade que eu tinha juntado para não pensar nisso. No visor do meu celular apareceu uma mensagem:
"Ei, tá tudo bem? Você não respondeu nada..."
Era o Davi! Meu Deus, eu não estava acreditando naquilo. Tinha ido para a casa dos meus pais para passar uns dias com eles e ter, sei lá, alguns momentos de paz, longe de toda aquela zona na qual eu me envolvi nos últimos dias. Apesar disso, parte de mim gostou de receber aquela mensagem, e não tinha nada demais em responde-lo, afinal, então abri à sua mensagem e respondi:
"Olá, tudo bem sim. E por aí? Pois é, minhas férias começaram mais cedo e eu vim imediatamente para a casa dos meus pais. "
Em menos de 10 minutos percebi que ele visualizou e mandou uma mensagem em resposta, então ficamos um tempo conversando amenidades, até que eu precisei ir ao centro comercial para minha mãe e ele foi se ocupar com outras coisas.
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Rota de Fuga.
RomanceAntônio, um jovem enfermeiro desiludido pelo amor é pego de surpresa pelo convite de um de seus pacientes para uma festa de aniversário. Numa sequência de acasos de ironias do destino, o rapaz vai percebendo que sua vida, antes muito bem planejada...