Capítulo 29

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Entre momentos de lucidez e desmaios involuntários eu podia ouvir vozes agitadas, via luzes coloridas piscando, sentia que estava sendo empurrado, mas, o pior de tudo, foi olhar para cima e dar de cara com as luzes do corredor do hospital. Uma voz masculina familiar falava comigo todo o tempo dizendo "hey, Antônio, vai ficar tudo bem, ok?! Fica comigo", e a todo momento uma outra voz também familiar ia dando atualizações sobre minha pressão e etc.

Sem muito sucesso, eu tentava falar que não devia estar no hospital, ainda era domingo e eu precisava voltar para casa e dormir porque trabalharia no dia seguinte e não fazia sentido eu estar no hospital a uma hora daquelas. De repente senti que foi colocada uma máscara de oxigênio e então eu não lembro mais de nada!

Droga! Será que eu morri? Não entendia porque estava tudo tão branco. A última lembrança que tenho foi de estar conversando com o Davi, sentir um cheiro forte e ajudar minha vizinha a sair do prédio. Tudo o que vem na sequência não passam de borrões, nada muito concreto, nada que me ajude a entender o que está acontecendo comigo. Mas eu não posso ter morrido! Seria muita falta de sorte morrer logo agora que as coisas estavam indo tão bem com o Davi, que eu finalmente me sentia completo, no sentido romântico da palavra.

Olhando ao redor eu não era capaz de ver e muito menos de entender nada. O cenário parecia, sei lá, o céu, mas era tudo muito branco, sem forma, então eu me sentei, passei a mão repetidamente pelo rosto, cheguei até a me estapear para ver se acordava, mas nada acontecia, nem uma luz se acendia, nem uma forma humana se apresentava. Eu estava começando a me desesperar, quando uma mão pousou suavemente sobre o meu ombro.

— Oi, você me parece meio perdido... tá tudo bem? — Uma moça linda, voz suave, me abordou.

— E eu tô mesmo! Não faço ideia do que seja isso aqui e preciso voltar pra casa.

— Posso? — Perguntou apontando para o lugar ao lado do meu.

— Claro! — Me afastei um pouco.

— Bem, a questão não é saber onde você está agora, isso é irrelevante! — Disse sentando. — Quer dizer, não de todo... eu, sendo você, pensaria no tempo. O que esse tempo representa pra você?

— Então esbarramos num impasse. Não consigo pensar em mais nada que não seja voltar pra minha casa.

— Entendi! Tem alguém importante lá? Quer me falar um pouco sobre eles? Quer dizer, acho que não vamos a lugar nenhum mesmo. — Respondeu sorridente.

— Ah, tem os meus pais, as pessoas mais importantes pra mim, com quem eu posso contar pra tudo. Tem a minha irmã e os meus sobrinhos, quase não nos falamos, mas ainda assim são parte da família. Tem o pessoal do trabalho, os meus amigos...

— E dentre esses amigos tem algum especial? Alguém que faz seu coração bater mais forte?

— Tem o Davi... — Respondi corando. — Esse cara incrível que eu conheci por meio do filho dele.

— Como assim? — Perguntou curiosa.

— Eu sou enfermeiro no meu, é, no meu... mundo, por assim dizer. Como eu trabalhava na ala pediátrica, um belo dia atendi esse menino lindo, muito educado e esperto, Artur. Ele me convidou pro seu aniversário de 6 anos, disse que queria que eu fosse, mas, pra isso, teve que falar com o pai, o Davi. Depois disso foi tudo muito doido, uma confusão só, mas eu e ele estamos juntos, quer dizer, não sei bem como definir nosso status de relacionamento. Na minha cabeça parece que faz tanto tempo quando, na verdade, deve ter umas três semanas que estamos nos conhecendo.

— Olha, não saímos do seu mundo, ok?! — Iniciou sorrindo. —Por que quando você fala desse rapaz, Davi, eu sinto algum receio vindo de você? Acontece alguma coisa?

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