Capítulo 27

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Quando Antônio e eu nos beijamos, um dos piores momentos de minha vida tomaram outro significado e aquela situação, do beijo inesperado, principalmente em um homem, tomaram um espaço considerável na minha já bagunçada cabeça. Antônio me causava um efeito totalmente positivo, como se me tirasse da minha zona de confortável e transportasse com o seu jeito de ser para uma aventura. Quer dizer, e era exatamente isso: eu nunca havia me relacionado com um homem antes e, para dizer a verdade, talvez nunca tenha olhado para um com desejo ou mesmo com curiosidade.

Aquele seria o segundo final de semana que passaríamos juntos, então despachei meu pequeno para a casa dos avós maternos e contava os segundos para estar perto do Antônio de novo, de sentir seu toque, beijar seus lábios, sentir seu perfume ou simplesmente estar na companhia dele, despreocupado de qualquer coisa. Na sexta-feira avisei a ele que o buscaria para que fôssemos até o restaurante e depois para a casa dele, que era mais próxima. Só que eu vi algo que fez meu coração errar uma batida: um cara alto, bonito, forte, segurou Antônio pelo braço na saída do hospital. Pude ver ao longe que ele não ficou nada feliz com aquela abordagem e depois de dispensar o tal cara notei que ele parecia agitado, como se estivesse me procurando, querendo garantir que não teria visto o que aconteceu.

Antônio caminhava na minha direção e aparentemente abrandou o semblante tenso ao me ver. Confesso que vê-lo com aquele rosto tranquilo, como se procurasse e mim segurança, me deixou feliz. Não que eu me sentisse inseguro em relação a ele, até porque, por mais que eu já o quisesse ter pedido em namoro desde o primeiro momento na casa de seus pais, sei que ele não cederia tão fácil e, convenhamos, eu não queria assustar o menino. Mas, para mim, tudo era tão intenso, tão verdadeiro, que não entendia tanta cautela por parte do Antônio. As vezes pode ser alguma mágoa passada ou apenas a necessidade de proteger, só que, mesmo assim, eu fazia de tudo para deixa-lo confortável comigo.

— Que homem é esse aqui, meu Deus?! Será que devo chamar a emergência? — Antônio perguntou ao me ver encostado no carro fingindo que via alguma coisa no celular.

— É comigo? — Respondi procurando outra pessoa ao redor. — Acho que você falou com a pessoa errada, moço.

— Então tá. — Respondeu agindo como se fosse na direção oposta.

— Onde você pensa que vai? — O puxei para um abraço caloroso.

— Por aí.

— Negativo! Você vai comigo. — Respondi o beijando.

Eu não queria mais sair dali, dos braços dele, e nem mesmo o fato de estarmos em um local público abrandava a necessidade que eu tinha por mais dele, por mais do seu calor junto ao meu, por sua boca colada à minha.

— Vamos?! — Me interrompeu arfante.

Com muito custo, eu o deixei, fui até o lado do carona, abri a porta e esperei que ele entrasse. Em seguida, entrei pela porta do motorista, afivelei o cinto, mas a cena do tal médico passando de moto à nossa frente me trouxe de volta aquele sentimento de antes. Apoiei a cabeça no volante e respirei fundo.

— Davi? — Me chamou. — O que houve?

— Ficou evidente assim? — Perguntei na esperança de que ele não insistisse naquela conversa.

— Não nos conhecemos intimamente há tanto tempo assim, mas eu acho que sei reconhecer uma expressão de dúvida.

— Antônio, eu não sei se tenho esse direito e nem quero que você se sinta cobrado de alguma forma. — Respondi meio preocupado com a reação dele.

— Fala, homem! Deixa que eu decido como vou me sentir, porque agora você tá começando a me assustar!

— Não, não precisa! — Esfrego as mãos no rosto. — Aquele cara que segurou seu braço na porta é o mesmo que foi até sua casa aquele dia, né?! Quando eu dormi lá na primeira vez...

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