Imã

631 68 15
                                    

Quero que possa me abraçar, quero te fazer me notar
E no final que me faça acreditar que não vou errar

(Magnet - Vocaloid)

: :

Semanas se passaram sem que Alexia trombasse uma única vez com Albafica. Mesmo assim não conseguiu esquecê-lo, do contrário, ela passou a fazer todas as entregas do santuário, numa tentativa de encontrá-lo novamente, mas ele não pediu mais nada para sua mãe, a deixando sem motivos para ir até a casa de Peixes.

Era mais um dos dias de fazer entregas no Santuário. Alexia sentia as pernas doerem por subir aquelas escadas diariamente, mas estava satisfeita por poder ajudar a mãe. E fato era que não entendia a força que a movia até ali todos os dias, mas não era apenas sua curiosidade.

Uma vez no Santuário, fez tudo o mais rápido que pôde, mal dera atenção para Manigold, que certamente percebera que ela aprontaria alguma, e correu para a casa de Peixes. Albafica não havia pedido nada, mesmo assim pegara uma peça qualquer dentre as que a mãe costurou e levaria dizendo ser um presente da família Catellan. Não pensou nas consequências disso, apenas precisava vê-lo novamente.

No entanto, ao chegar na última casa, sentia-se tremendamente exausta. Na correria para sair, esquecera-se do mais importante item de um dia de entregas: o lanche. Com esforço, subiu o restante das escadas e as pernas fraquejaram, obrigando-a a ficar de joelhos sentada sob as próprias pernas para descansar.

- Albafica? - chamou e o eco da própria voz a respondeu. Forçou-se a ficar de pé, dando alguns passos para dentro da casa - Albafica, está aqui?

Simplesmente não aguentava mais, estava sem comer e havia gasto todas as energias nas longas escadarias sob aquele tempo abafado que prenunciava o outono. Havia exigido demais de si mesma, e subitamente fora abatida por uma tontura e as vistas escureceram. Sentiu as costas batendo no chão, assim como a cabeça, e seu último pensamento foi que desmaiar não estava em seus planos.

: :

O cavaleiro estava imerso na leitura de um livro quando escutou alguém chamar por seu nome. A casa de Peixes estava habituada ao silêncio, raramente alguém o procurava, sempre recebia ordens diretas do Grande Mestre e não possuía amigos, além do inconsequente cavaleiro de Câncer que insistia em visitá-lo, no entanto, não era sua voz que o chamava. Era uma voz feminina e estridente, uma voz da qual se lembrava muito bem – "Sou eu quem deveria temê-lo, ou você quem me teme?".

Era fato que a estava evitando, com certo pesar no coração. A demonstração de carinho que ela fizera em seu aniversário havia mexido com ele de uma forma inesperada, e Albafica sabia que não era seguro permitir aproximação, principalmente daquela forma. O cachecol vermelho passava as noites pendurado na cabeceira de sua cama, o impedindo de se esquecer dos olhos sorridentes de Alexia, e quando os dias eram de ventania ou mais frios, ele o colocava. O resquício do perfume cítrico de Alexia havia cedido ao cheiro das rosas de Peixes.

Fechou o livro e levantou-se, curioso, dirigindo-se à frente da casa. Hesitou ao ver a Catellan, que jazia desmaiada pouco acima dos degraus da entrada. Desde a primeira vez que se encontraram na casa de Peixes, aquela morena impetuosa vinha lhe fazer companhia nos pensamentos vez ou outra, e ele sempre a repelia severamente. Sua pergunta astuta ainda martelava em sua cabeça, e ele por vezes pegava-se pensando que a temia, a temia por possuir um magnetismo perigoso que o fazia querer ir contra todos os limites que se impusera a vida toda. Havia dado alguns passos em sua direção, ajoelhando-se ao seu lado e quase a tocou para tentar acordá-la, mas deteve-se, com medo do que poderia causar.

Os cabelos negros como carvão soltavam-se da longa trança e caiam pelo rosto delicado, grudando em rastros de suor. Parecia muito cansada, mas era a mulher mais bela que Albafica já tinha visto em sua vida, e naquele momento ele admitiu que a temia. Não havia mais ninguém por perto e ele não podia deixá-la caída ali, portanto, engoliu suas restrições e a tomou nos braços, adentrando a casa de Peixes e a pousando com todo cuidado sobre o sofá da pequena sala. Com uma compressa, limpou-lhe o rosto e cobriu seu corpo com um lençol fino.

A Nova RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora