O brilho das estrelas anuncia uma amazona

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Albafica sentia-se irritantemente pesaroso. Talvez tivesse sido severo demais com a moça, não precisava ter dito palavras tão duras. Ela mantivera-se em silêncio desde aquela sentença, e isso só podia sinalizar que estava chateada. Era um castigo para ele, que carregava em si um coração cheio de compaixão e que sempre se preocupava com as pessoas ao seu redor, e no entanto, nunca podia se aproximar e ajudá-las. Por vezes, pegava-se com vontade de descer até a casa de Câncer e conversar com seu amigo, de concordar em acompanhá-lo em suas aventuras em tavernas, mas não o fazia. Albafica não podia, estava preso a si com seu sangue como algoz. O cavaleiro suspirou, batendo na própria testa, tentando livrar-se dos pensamentos e dormir, o que só conseguiu depois de certificar-se de que a Catellan estava confortável, entregando-lhe uma roupa limpa para compensar o quarto empoeirado.

No decorrer da madrugada, no entanto, despertou com todos os sentidos de cavaleiro de ouro aguçados. Sentia uma cosmo energia crescente e muito próxima. Haviam acabado de sair de uma guerra interna, seria possível uma nova ameaça assim, tão recentemente? Jogou as cobertas para o lado e levantou-se apressado, saindo para o corredor atento a quaisquer coisa. Estava sem sua armadura, no entanto, poderia tê-la ao seu favor quando quisesse. Empunhou uma rosa vermelha e caminhou pelo corredor de acesso principal, largo e, como constatou, vazio.

Voltava para o próprio quarto, pensando em fazer contato com Asmita, que sempre estava desperto e com certeza, se realmente houvesse uma ameaça, ele saberia. No entanto, parou de caminhar ao passar pelo quarto de sua visitante. Ali, a cosmo energia era tão intensa que Albafica quase a podia tocar. Cauteloso, abriu a porta e espiou a moça, e por um momento seu estado foi de completo choque.

Acima de seu corpo esguio, havia um pequeno universo que a circundava, etéreo e luminoso. Albafica não teve dúvidas do que estava acontecendo, mas não sabia o que fazer e sentia-se angustiado, quase sufocado. Ali, a atmosfera parecia mais densa, e quando notou que a moça tinha espasmos sob a cama, sentiu os sentidos voltarem ao corpo, lhe ordenando que fizesse alguma coisa e a ajudasse. Em passos rápidos chegou até a moça no centro do quarto, sentando-se na beirada da cama. Ao se aproximar, o brilho das estrelas se dissipou, mas a morena continuava a ter sobressaltos, suas roupas estavam molhadas de suor e praticamente não respirava, se não a acordasse, poderia se asfixiar.

Com cuidado e muito aflito para pensar nas consequências, tocou em seus braços e chamou por seu nome. Afastou os cabelos que lhe grudavam na testa, e não conseguiu deixar de achar graça: era a segunda vez no dia que as circunstâncias o obrigavam a aproximar-se dela, a tocá-la e cuidá-la.

- Por favor acorde, Alexia! – pediu, a chacoalhando levemente para despertá-la. De repente, a ideia de não vê-la acordar tornou-se perturbadora demais, ainda mais pela forma como a havia tratado.

A moça finalmente abriu os olhos, e puxou uma lufada de ar desesperada, por ter finalmente voltado a respirar. Seu olhar estava perdido e confuso. Albafica nunca havia presenciado um despertar como aquele, mas tinha completa certeza de que se tratava disso – Alexia havia despertado seu cosmo. Isso explicava a aura que a envolvia, a energia crescente e seu corpo tão quente e subitamente debilitado, era algo com o qual não estava habituada, um poder que ainda não era capaz de conter sem entrar em colapso.

- Alexia, está tudo bem? Sou eu, Albafica. O que está sentindo?

Delicadamente, a colocou sentada na cama. Não sabia como devia proceder, mas imaginou que devia fazer compressas para que a temperatura voltasse ao normal. Ela não lhe respondeu, parecia muito atônita e com medo, e subitamente jogou-se em seus braços, abraçando-o. Aquele contato tão próximo era estranho ao cavaleiro, que num primeiro momento não teve reação. Sentia o peito dela subir e descer contra seu torso, numa respiração afobada, o corpo dela o esquentando, com toda aquela fragilidade que certamente não a pertencia. Albafica quis protegê-la e a abraçou de volta, aninhando-a perfeitamente. Não havia o que temer, era apenas poder, Alexia havia sido consagrada pelas estrelas e quando soubesse disso, com certeza ficaria radiante.

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