Um cortejo de flores

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Se coisa ruim faz a gente crescer
E todo esse clichê
Já nem caibo mais na casa
Não caibo mais aqui

(Setevidas - Pitty)

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Um galo cantou em algum canto por ali e junto dele, Alexia levantou da cama em um salto. A volta de Selinsa e Manigold estava prevista para a hora do almoço, e ela queria estar pronta para recebê-los. Finalmente, podia dizer que estava completamente recuperada dos danos sofridos no duelo contra Agathia, e sentia-se animada para contar aos dois amigos sobre seus avanços.

E falando em Agathia, não tinham notícias dela desde então. Também não houve mais nenhuma movimentação em Rodório, o que não dispensava a atenção dos cavaleiros, especialmente a de Albafica, que passou a fazer rondas por lá todos os dias, por vezes acompanhado de Alexia. Tudo parecia estranhamente tranquilo, exatamente como a calmaria que antecede uma tempestade terrível. A sensação de ansiedade estava enraizada nos dois piscianos, que se confortaram mutuamente para não perderem a cabeça - e por isso, mais do que nunca, precisavam da presença leve e despretensiosa de Manigold.

Albafica abriu os olhos ao ouvir seu nome ser chamado pela voz macia que sentia como um afago. Aqueles dias trouxeram uma intimidade nunca antes experimentada para nenhum dos dois. Alexia não tinha mais pudores para entrar no quarto dele, deitar em sua cama, e dormir juntos também já não era estranho.

Ela lhe dá um beijo rápido antes de dizer:

– Levante, o café está pronto! Temos que treinar cedo para voltar a tempo de receber Selinsa e Manigold!

Ele não protestou. Levantou-se rindo consigo mesmo enquanto arrumava a cama, porque era estranho ser Alexia a acordá-lo, com o café pronto e intimando-o a treinar. Fez sua higiene matinal e vestiu-se, indo até a cozinha, onde Alexia se movimentava diante do balcão, preparando uma mochila com mantimentos para o treinamento da manhã.

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A moça pulou no pescoço de Albafica, apertando-o forte e tirando os pés do chão. Selinsa procurou o olhar de Alexia, jurando que a amiga estaria fervendo de ciúme (como ela própria esteve durante toda a viagem de volta), e qual foi sua surpresa ao ver a italiana calma como uma monja tibetana.

– Quanto tempo, Alba! – exclama Giocca, finalmente pousando os pés de volta ao chão – Nossa, você fica muito bem com o cabelo preso!

– É porque ainda não o viu de tranças. – comenta Alexia, e nota o rosto de Albafica ficar vermelho.

– Tranças, Bagre? – Manigold ri alto – Assim, como uma bela camponesa, com sua cesta e vestido ao vento...

Alexia rola os olhos, e dá um tapa no pescoço do amigo.

– Acho que já pode sair em viagem de novo, Manigold. – diz.

– Quem é essa? – pergunta Giocca, fitando a italiana sem disfarçar. Ela era tão bonita, com aquele corte de cabelo desfiado e selvagem, era engraçada e acima de tudo: batia em Manigold!

– É minha discípula, Alexia. – apresenta Albafica, com orgulho em sua voz. Gostaria de apresentá-la como sua mulher, mas esse ainda era um segredo dos dois.

Selinsa, que estava se sentindo um pouco à parte da conversa, dá um passo à frente e diz:

– Precisamos ir até o Grande Mestre reportar a viagem de Giocca e deixá-los conversar sobre o que está acontecendo sobre a... – a palavra a fez se sentir tensa – a guerra.

O assunto pairava como uma assombração. Todos sabiam que estava próximo o momento em que a guerra santa eclodiria, mas não poderiam dizer exatamente quando ou como aconteceria. Evitavam falar sobre, simplesmente para não terem de lidar antecipadamente com o sentimento mórbido que vinha ao pensar no assunto. Giocca estar ali não era uma viagem de lazer, era diplomacia e comunicação estratégica, e por mais que tentassem, não poderiam ignorar.

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