(Prólogo) A costureira de Rodório

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Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no Japão
Um vento, um tufão

Uma batedeira sem botão
Foi assim viu

Me vi na sua mão

(Pra sonhar - Marcelo Jeneci)

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Fazia quase cinco anos que Alexia morava em Rodório, mas não conhecia muitas pessoas e não podia dizer que tinha algum amigo íntimo. Seus pais sempre se deslocavam muito pela Itália, onde nasceram, em busca de melhores condições para a pequena filha, e finalmente pareciam ter encontrado estabilidade na pequena e afastada vila, onde trabalhavam com costura e cujas vendas também destinavam-se ao Santuário de Atena, o que dava à família Catellan livre acesso para circular por lá. Revezavam-se entre as entregas pela vila e pelo Santuário, e assim ganhavam a vida.

Alexia terminava de comer seu café da manhã, preparando-se para um árduo dia de entregas pelas cansativas escadarias das doze casas. Como ainda era muito cedo, seus pais não haviam acordado, e ela rasgou um pedaço do saco de pão para deixar-lhes um bilhete avisando que já havia saído.

Pegou as sacolas de pano com muitas roupas dentro e trancou a casa, indo na direção do Santuário. A vila começava a se movimentar na manhã, os comerciantes colocando produtos frescos em suas tendas, e o cheiro de pão quentinho dançando pelo ar. Alexia passou por sua vizinha Agathia, que tinha mais ou menos sua idade*, mas nunca lhe dera tanta atenção. Ainda tinha esperanças de construir uma amizade ali, visto que não havia muitas chances de mudar-se novamente, e por não querer morrer solitária em Rodório, sempre cumprimentava a florista com um sorriso.

Logo atravessou os altos muros de rocha que demarcavam a saída de Rodório, chegando à casa de Áries. O cavaleiro que a guardava estava sentado à porta, como que esperando pontualmente o que havia pedido. Ao vê-la, levantou-se com um sorriso simpático e surpreso:

— Olá Alexia. Quanto tempo não faz as entregas! Tem passado bem? – Shion era a gentileza em pessoa. Ao se aproximar notou que ele segurava um cantil com suco de laranja bem gelado, que estendeu à ela – Estava esperando por vocês e preparei um pouco de refresco, o verão está furioso este ano.

— Olá senhor Shion, muito obrigada! – sorriu ela, pegando do cantil e apressando-se em separar as entregas dele - Bem, tenho as roupas que o senhor mandou arrumar e duas camisetas que mamãe fez.

— Era o que eu precisava! – disse ele, tomando as roupas e tentando ajudar a garota que se atrapalhava com as duas sacolas enormes. Alexia riu de si mesma, conseguindo por fim se ajeitar.

— Certo! Vou indo, ainda tem muitas escadas para subir. Até mais, senhor Shion, e muito obrigada pelo suco! – exclamou, recebendo um sorriso cordial de volta.

Deixou algumas peças com a aprendiz de Touro e subiu as escadas até a casa de Câncer, onde parou para ver o que Manigold pediria dessa vez. Os dois mantinham uma relação de alfinetadas e piadas, e Alexia sabia que se ele morasse na vila e não no Santuário, com certeza seriam muito amigos - principalmente, amigos de Taverna.

— Olá bela costureira, quanto tempo não a via! – exclamou ao vê-la, com seu habitual sorriso zombeteiro.

— Como tens passado, nobre cavaleiro de ouro? – perguntou ela, munida do mesmo humor que ele, que caiu na gargalhada.

— Um tédio total.  — reclamou, bufando e fazendo Alexia rir.

— Aqui estão as roupas que mandou arrumar e as que pediu para fazer. O que vai querer agora? — falou entregando-lhe as peças e sentando-se no chão para descansar um pouco as pernas.

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