Você suspira, desvia o olhar
Consigo ver claro como o dia
Fecha os olhos, tão receoso
Esconda-se atrás desta carinha de bebê
Procurando pelas respostas na chuva que cai
(Cigarette Daydreams – Cage the Elephant)
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Alexia pediu mais um novelo de lã para a mãe e tornou a colocar mais fios no tear, estava quase terminando um cachecol. Era final de março, e a estação começava a mudar. Os dias tornavam-se cada vez mais nublados e regados à ventania, de forma que o cachecol seria muito útil para ela. Sua mãe manuseava a máquina de costura com maestria, completamente imersa em seu trabalho, enquanto o pai estava fora, provavelmente trabalhando em alguma nova obra da vila para conseguir mais dinheiro. De repente, a mãe parou de cantarolar a música, deixando a máquina de lado, os olhos arregalados ao se dar conta de algo importante.
— Alexia, minha filha! — exclama exasperada — Hoje é quinta-feira?
— Sim, mamãe. — responde a morena, sem tirar os olhos do tear.
— Stela me pediu um vestido, para hoje! Me esqueci completamente!
A mais velha levantou-se, começando uma busca desenfreada pelo vestido em meio à pilha de tecidos e peças penduradas no pequeno ateliê. Alexia apressou-se em ajudá-la, sabendo bem como Stela podia ser uma cliente insuportavelmente exigente, do tipo que excomungaria a família inteira caso algo desse errado. Após alguns minutos de busca frenética, Marina finalmente desenterrou o vestido de seda com detalhes em cetim. Alexia sabia que a peça havia demorado semanas para ser concluída, tão delicada que era.
— Vai ter uma festa importante de família para eles hoje. — explica Marina, entregando o vestido cuidadosamente embrulhado em papel fino — Precisa correr!
Alexia suspirou, resignada. Tudo que ela menos queria naquele dia era correr, mas não havia outra escolha. Pegou a sacola da mão de sua mãe e saiu porta afora. Apesar do humor azedo que lhe acompanhava, o vento fresco da manhã ajudou a clarear a mente. O clima de Rodório era sempre reconfortante, e o burburinho dos comerciantes vendendo em suas tendas ao longo das ruas trazia um toque de normalidade à vila. Mas, mesmo com o cenário acolhedor, Alexia não conseguia afastar os pensamentos insistentes que vinham lhe atormentando nos últimos dias.
Certos olhos azuis dançavam em sua mente sem permissão. Ela praguejou para si mesma enquanto caminhava pelas ruas, irritada por estar se perdendo mais uma vez naquele ciclo de pensamentos. De repente, ouviu o som de gritos animados vindo da Taverna de Gaia, o suficiente para fazê-la parar no meio do caminho.
— Só uma rodada. — murmurou para si mesma. Afinal, se a festa de Stela era à noite, uma partida rápida não faria mal, e talvez até ajudasse a aliviar o humor.
Sentou-se à mesa de jogos, ajustando o embrulho no colo. Pediu as cartas ao velho Kiar, que comandava a mesa com olhar desconfiado, enquanto Lucca, o jovem que também participava do jogo, lançou-lhe um sorriso malicioso. Alexia se esforçou para ignorá-lo; as investidas de Lucca eram mais irritantes do que atraentes.
— Você só pode estar trapaceando. — resmunga Kiar após alguns minutos de jogo, os olhos semicerrados, analisando as cartas dela.
— Não, é apenas saber jogar. — retrucou Alexia, um sorriso presunçoso surgindo em seus lábios enquanto recolhia as fichas da rodada vencida.
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A Nova Rosa
Fiksi PenggemarEscolhida pelas estrelas e marcada por um destino que jamais imaginou, Alexia Cattelan, uma jovem simples da vila de Rodório, vê sua vida transformar-se quando desperta seu cosmo e descobre ter sido escolhida pela constelação de Peixe Austral. O cha...