Fazia um calor realmente infernal na Ilha da Rainha da Morte. Após dias de viagem a pé, depois de barco, haviam chegado até aquele pedaço de terra esquecido pelos deuses. Selinsa enxugava o próprio suor com um pano, enquanto caminhavam mata adentro.
– Queria enforcar essa princesinha enjoada por me causar esse suplício. – murmurou.
– Não a deixe te escutar falando assim.
Selinsa revirou os olhos. Então, antes que pudesse se dar conta, alguém passou por ela como um vulto, trombando consigo. Se não tivesse pernas fortes, teria caído com a bunda no chão. Nervosa, pegou o pano e passou pelo pescoço mais uma vez, para se secar, e deu falta de seu colar. Não era nada valioso, nada mais que uma tira de couro com um pingente de bronze, mas tinha um valor afetivo imenso por ser presente de seu antigo tutor Cor Tauri. Ela gritou.
– O que foi, vai começar a dar chilique feito uma criança? Falta pouco! – exclama Manigold.
– Eu fui roubada! – retruca ela, furiosa – Você não viu o vulto que passou por aqui? Não tinha me dito que haveria ladrões!
– Roubaram o quê, seu trapo de suor?
– Manigold... – rosna, apertando o punho. Queria dar um sopapo na cara dele para que a levasse a sério.
– Credo, que estressadinha você arranjou, Mani.
A dupla ergueu a cabeça, olhando na direção da voz. De cima de um galho de árvore, estava uma jovem mulher de cabelos negros e lisos, num corte channel. Era baixa e magra, e vestia-se como um garoto de 16 anos. Sorria de forma provocativa enquanto rodava o pingente de Selinsa em uma das mãos.
– Giocca!
Ao exclamar o nome da moça, ela pulou do galho direto para o colo de Manigold, o abraçando. Selinsa ficou boquiaberta. Aquela coisa descuidada e quase adolescente era a rainha? Esperava muito mais da líder de um lugar como a Ilha da Rainha da Morte. Talvez um vestido longo e vermelho, jóias no estilo asteca, com uma coroa de penas e uma lança dourada banhada em ouro, para combinar com todo aquele cenário infernal.
Mas não. Era só uma jovem comum, despretensiosa e ladra. Era para isso que viajara por semanas. Para ter seu colar e seu cavaleiro de ouro roubados. Quando percebeu este pensamento passando pela sua cabeça, Selinsa quis gritar de novo.
– Você realmente ficou bonita, garota.
– Ah, me poupe disso. Tenho mais o que fazer nesse buraco do que cuidar da vaidade.
Selinsa ficou observando os dois conversarem animados e saudosos, e sua antipatia por Giocca só aumentava a cada giro que ela dava com seu colar na mão.
– Dá pra devolver o que é meu? – sibila, interrompendo os dois.
– Ah, essa coisinha sem valor? – pergunta, assim como quem não quer nada – Pode ficar. – e então arremessa o pingente para ela, que pega desajeitada.
– Eu não acredito que me fez sair do Santuário para vir atrás dessa mal-educada! – exclama Selinsa revoltada.
– Ei! Você que é toda esquentadinha. Prazer, Giocca! – diz, estendendo a mão. Selinsa a afasta.
– Prazer uma pinóia. Vamos embora daqui logo. Já está com as suas coisas prontas, princesinha?
Manigold riu. Aquelas duas seriam como gato e rato no Santuário. Talvez Alexia pudesse ser uma boa mediadora, agora que andava com os nervos mais controlados.
– Minha bagagem está no palácio.
– Então nos mostre logo o caminho.
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O quarto era apenas o suficiente para caber uma cama e uma pessoa de pé. O vai-vem da água contra o barco fazia Selinsa se sentir ainda mais estressada. Desde que saíram do porto, Giocca e Manigold simplesmente não calaram a boca um minuto, sorrindo bobos e alegres enquanto tomavam vinho juntos no convés. Ouviu mais uma gargalhada alta do cavaleiro.
Queria empurrar a rainha no mar.
Se virou na cama pequena, no escuro. Aquilo não podia estar acontecendo com ela, era inadmissível. Se apaixonar era enlouquecedor. As conexões de seus neurônios só eram capazes de reproduzir o sorriso de Manigold, e relembrar de seu cheiro amadeirado, e do som de sua voz e seus braços fortes. Seu coração só fazia bater acelerado quando estava perto dele. E suas mãos queriam esganar Giocca por estar ocupando seu lugar e sendo totalmente inconveniente (ao seus olhos ciumentos).
– Mi fiore, já está dormindo?
A voz rouca de Manigold fez um arrepio percorrer sua coluna. Ele estava ali, mas ela não se virou para vê-lo.
– Não consigo, com esses gritos e essa maresia nauseante.
– Venha aqui fora com a gente. – pede ele. Pelo tom de sua voz, poderia se convencer de que ele realmente queria sua companhia.
– Estamos em missão Manigold, estou cansada.
Manigold suspirou e sentou-se ao lado dela na cama, passando uma das mãos por seus cabelos curtos e azulados. Selinsa congelou, nunca havia sido tocada carinhosamente por um homem. Não queria demonstrar que estava afetada, então apenas ficou parada como um animal que se finge de morto.
– O que aconteceu com "Mani"? – pergunta ele.
– Sua princesinha não está fazendo companhia o suficiente?
– Eu não acredito, você está realmente morrendo de ciúme dela! – exclama Manigold, se agitando na cama.
Selinsa não responde, e então ele se deita ao lado dela, envolvendo o corpo magro da aprendiza em uma conchinha. Continua mexendo em seus cabelos, e ela continua sem conseguir se mexer, embora a sensação do torso quente e rijo dele junto às suas costas seja maravilhosa.
– Achei que estávamos nos entendendo. Formando uma dupla imbatível, a estressadinha e o engraçadinho.
– Estou só cumprindo ordens.
– Olhe para mim, fiore.
Ela não o obedeceu. Manigold suspirou, e apertou o braço em torno da cintura dela.
– Tudo bem. Ficarei aqui até você pegar no sono. Quem sabe seu humor melhora com uma boa noite de descanso. – ele solta uma risada baixa.
– Você é um saco, Mani. – ela sussurra.
Selinsa aperta a mão dele que está por cima de sua barriga, entrelaçando os dedos. Para ela, sempre era mais fácil fazer do que tentar falar. E também foi muito mais fácil pegar no sono embalada pelo calor e pelo cheiro de Manigold.
Olá a todosss, como estão por aqui?
Vocês se lembram de Giocca, dos gaidens de Manigold? Ela se vestia de menino e roubava para sobreviver, até descobrir que [spoiler] é descendente do clã da Ilha da Rainha da Morte e consegue controlar os cavaleiros negros.
Eu a trouxe simplesmente por simpatizar com ela, e gosto de complementar a fanfic com o universo canonico o máximo que consigo. Talvez Giocca não tenha tanta participação, porque sua função é mais de personagem suporte mesmo, então não precisa criar expectativas muito grandes quanto à ela.
Vejo vocês em breve!
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A Nova Rosa
FanfictionAlexia Cattelan é uma jovem adulta moradora do vilarejo de Rodorio, que ocupa seus dias ajudando os pais com o trabalho de costura, numa rotina interminável. Porém tudo passa a mudar drasticamente após uma entrega na décima segunda casa do Santuário...