Golpe final

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Pés, não me falhem agora
Me levem até a linha de chegada
Oh, o meu coração se parte a cada passo que dou
Mas espero que nos portões
Eles me digam que você é meu

(Born to die - Lana Del Rey)

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A madrugada seguia longa, se arrastando a cada minuto. O corpo de Alexia descansava na cama de seu quarto, como que embalsamado. Albafica velava seu coma, sentado em uma poltrona no canto do quarto. Mal conseguia pregar os olhos. Havia se apegado com todas as forças à pífia esperança que Degél e Manigold haviam lhe dado.

O cavaleiro de Aquário dormia no quarto de Albafica, e acordava de hora em hora para verificar os sinais vitais. Fazia isso por essa noite por compaixão ao amigo de Peixes, pois como médico sabia que não mudaria muita coisa em pouco tempo. Porém sabia que a cada hora que checava os sinais vitais e dizia ao amigo que Alexia ainda estava ali, conseguia acalmá-lo.

Manigold estava na sala, junto de Selinsa. Ele não usava mais sua armadura, e os dois se espremiam no sofá, tentando cochilar um sono que não vinha.

— Você acha que ela volta? — pergunta a veterana, que usava o peito dele como travesseiro. Manigold a aperta em seu abraço.

— Temos que confiar que sim. Deixei um amuleto de Atena com ela, que era do velho. Assim a alma dela demorará mais para ser consumida por aquele lugar.

Selinsa sentiu um calafrio. Não conseguiria imaginar como era o inferno, e como deveria estar sendo uma experiência horrível para sua amiga passar uma noite que fosse vagando por lá, sem saber se conseguiria retornar.

— É muito estranho isso. Ela estava bem, Mani. Estava se recuperando.

— Dégel disse que isso pode acontecer. Uma melhora súbita antes da morte.

— Não consigo acreditar.

— Mas qual outra explicação nós temos, Seli? — ele se remexe, ajeitando o corpo com o dela e puxando um pouco a coberta sob os pés gelados — Só podemos torcer para que fique tudo bem. Ela estava com um olhar tão assustado...

— Você irá voltar para vê-la amanhã? E se ela se perder, Manigold...

— Fique calma, Seli. Não pira. É claro que vou voltar, quantas vezes forem necessárias. Vamos ajudar a babbuchi a voltar. — ele começa a fazer cafuné na aprendiz — Agora tenta dormir, está bem?

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A manhã chegou, mas nada parecia iluminado e o sol não esquentava o interior da casa de Peixes, que mais lembrava um mausoléu. Albafica, que mal havia fechado os olhos, saiu do lado de Alexia apenas para buscar água e café, alternadamente. Fazia uma boa meia hora desde que Degél viera conferir o estado da aprendiz pela última vez, e então avisou que iria para sua casa, mas que estaria disponível ao chamado.

Neste momento, Albafica segurava sua mão e conversava com ela. Não tinha certeza se ela o ouviria ou sentiria sua presença, mas tentava mostrar que estava ali, esperando por ela.

— Quando você voltar, nós não continuaremos com essa loucura de Elo Carmesim — dizia, numa voz sussurrante — Vamos encontrar outro jeito de ficar juntos.

Na sala, o casal que dormia foi despertado pela chegada de Giocca e Agathia. A última não conseguiu esconder tão bem sua expressão de julgamento ao ver os dois juntos no sofá. O que era aquilo, desde quando as pessoas tinham tanta liberdade naquele Santuário? Porque tinha a sensação de que todos podiam fazer o que quisessem sem ser punidos – exceto ela mesma?

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