capítulo 3

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Joaquim

Percorro meus dedos pelo meu cabelo recém-tingido de escuro e tenho vontade de rir depois de me enfiar no uniforme de garçom. Isso me deixa meio estranho, mas ignoro a sensação antes de acompanhar os outros garçons pelo longo corredor que leva ao salão de festas.

Disfarço a surpresa pelo tamanho e luxo do espaço, prosseguindo em meu caminho.

Eu já sou capaz de ouvir a música calma antes de entrar no salão preenchido por vozes e pessoas influentes de São Paulo.

Sinto um leve impacto no meu ombro e me viro, encarando o cara que me recebeu quando procurei a vaga ontem de manhã.

— Ei, garoto! — diz com aborrecimento. — Apresse-se ou não receberá seu pagamento!

Claro, filho da puta!

— Sim, senhor. — tenho que engolir minha raiva antes de servir os convidados.

São muitos e tenho que me revezar com os outros garçons para tentar acompanhar quem ainda não foi servido. Os sapatos caros e apertados estão me incomodando, mas ignoro o desconforto antes de continuar meu trabalho. Eu ainda tenho que retornar várias vezes à cozinha, para preencher as taças com bebidas.

Minutos depois um cara acena para mim e me aproximo de uma roda de jovens. O convidado puxa uma taça, enquanto duas garotas ao seu lado não tiram os olhos de mim. São bonitas, e uma delas sussurra algo no ouvido da outra, sorrindo logo depois. Ouço algo como "ele é um gato", mas decido ignorar.

— Com licença. — eu me afasto, ocupando-me em servir outros convidados.

Isso se prolonga por mais alguns minutos, até eu ouvir um ruído.

A música continua tocando, mas sou capaz de ouvir os cochichos surpresos ao meu redor.

Decido me virar e verificar o que está acontecendo e é aí que eu a vejo.

Minha boca se abre ligeiramente, e eu provavelmente estou parecendo um retardado.

Meus olhos seguem para a linda garota que desce as escadas naquele exato momento. Ela está usando um vestido lilás delicado e a áurea de delicadeza ao seu redor chama minha atenção. Aquela é a garota mais bonita que eu já vi e parece não notar a atenção que atraiu ao entrar na sala.

Engulo em seco quando seus olhos escuros encontram os meus.

O sorriso que ela tinha nos lábios desaparece e sou capaz de perceber a coloração avermelhada que toma suas bochechas.

Por que ela está corando?

E por que eu me sinto tão estranho enquanto olho para ela?

As pessoas ao redor parecem ter desaparecido quando ela volta a sorrir delicadamente.

Para mim.

— Maitê, você está tão bonita! — uma garota se aproxima, prendendo o anjo em um abraço.

— Obrigada. — sua voz é tão agradável quanto ela.

Decido afastar o olhar, incomodado, então tudo volta ao normal; com o mesmo ruído anterior de música e conversas. Eu ainda lanço olhares furtivos em direção à garota, e, ao ouvir algumas conversas próximas, descubro que ela é a filha mais velha de Murilo Campos.

E diferente das outras pessoas na festa, ela é educada com os funcionários que circulam por ali e sorri de maneira agradável, ao contrário do seu pai e mãe que apenas parecem forçados. Maitê é um contraste enorme naquele evento entediante e confesso que é difícil manter os olhos longe dela.

— Bonita, certo? — outro garçom se aproxima. — Mas não é para você. Quer um conselho sincero, garoto? Tira os olhos dela antes que o prefeito perceba ou será dispensado antes da noite acabar. — ele não parecia querer me ofender; era como se apenas estivesse expondo um fato.

— Hm, eu não estava olhando para ela. — minto, percebendo que ele não acredita. — É melhor eu continuar servindo os convidados. Com licença.

Eu me afasto dali. De propósito, passo longe da garota de cabelos castanhos, mas ainda sou capaz de sentir o magnetismo que ela provoca.

Conforme trabalho, sou capaz de sentir certo olhar em minha direção. E, sem poder controlar, olho para o outro lado do salão enorme, encontrando o anjo de cabelos castanhos com os olhos fixos em mim.

Acanhada, ela coloca alguns fios do cabelo atrás da orelha sem nunca afastar os olhos.

Por que ela continua me olhando? Por acaso não teme o seu pai?

Vejo quando ela sussurra algo para a garota ao seu lado, que sorri até fazer algo que eu não esperava.

— Ei, você aí! — ela acena para mim e me aproximo de forma relutante. Continuo com a cara fechada, disfarçando como realmente estou me sentindo.

Eu me xingo por estar nervoso antes de parar em frente às duas.

Maitê parece ansiosa quando finalmente olho para ela. A garota ao seu lado puxa uma taça da bandeja antes de sorrir.

— Como se chama? — questiona enquanto o anjo continua em silêncio.

— Joaquim. — murmuro apenas, os olhos pregados na outra garota.

— Bom, Joaquim, eu me chamo Beatriz. Posso pedir um favor?

— Claro.

— Você pode ir até o jardim? Esqueci algo muito importante lá e preciso que alguém vá buscar. Pode fazer este favor? Não encontrei ninguém que quisesse.

Fico meio desconfiado, não vou negar, sobretudo quando percebo a troca de olhares entre as duas garotas.

O que estavam tramando?

Não sou estúpido ou tão inocente ao ponto de acreditar em Beatriz, mas também estou curioso para o que encontrarei. E como meu horário de trabalho já acabou não custa nada checar antes de receber meu dinheiro e voltar para casa.

— Claro. — ela sorri e Maitê desvia o olhar para as próprias mãos cruzadas contra a barriga. Parece envergonhada. Estreito meus olhos. — O que preciso buscar?

— Hm... meu... — a ruiva fica sem palavras. — Meu celular. Acho que deixei sobre o quinto banco à direita. Você precisa andar um pouco, mas o encontrará com facilidade.

Celular? Ela pensava que eu era idiota? Que tipo de pessoa esqueceria o celular no jardim durante um evento como aquele?

— Ok.

— Obrigada, Joaquim. — percebo que Maitê sorri disfarçadamente, ainda olhando para as mãos. Beatriz a encara rapidamente antes de voltar os olhos para mim. — Pode ir agora. Quando encontrar meu celular, estarei nesse exato lugar esperando.

Assinto e, em silêncio, sigo na direção indicada, ouvindo seus cochichos atrás de mim.



🤍



O que essas duas estão aprontando, hein?

O próximo capítulo tá 🔥

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