capítulo 22

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Paro de caminhar e é engraçado ver o choque e a felicidade estampados no rosto de Beatriz assim que ela vê Gustavo.

Como é amigo de alguns conhecidos do Joaquim, nem me surpreendo com a sua presença no lugar. Ele parece o mesmo de sempre: sério e pouco sociável.

Ele me encara assim que apareço e eu o ignoro quando sento ao redor da pequena fogueira, onde a maioria dos presentes bebe e conversa alto.

Estremeço assim que Joaquim aparece com outros caras e tento não olhar para ele. Ainda continuo com muita raiva pelo que ele fez comigo minutos atrás e dói lembrar de tudo.

— Ei, você quer Vodca? — Beatriz agarra o braço do Lucas e coloca a cabeça em seu ombro enquanto encara Gustavo.

Eu sei o que ela está tentando fazer. Lamento pelo seu descontrole e creio que parte do seu comportamento tem relação com o fato de ela querer enciumar Gustavo a qualquer custo.

Droga, ela precisa parar com isso!

— Ei, você quer ir pra casa? — sussurro em seu ouvido, e ela me encara com certo de aborrecimento.

— Não, quero ficar aqui... com o Lucaassss. — sorri para o garoto que retribui o gesto, também bêbado. De repente, ela fica de pé. — Vem comigo, Lucas. Vamos para um lugar mais reservado.

— Ok. — ele fica de pé com ela e penso em alertá-la, mas Joaquim diz:

— Ele é de confiança. Não vai machucar sua amiga.

Decido ignorá-lo, chamando Beatriz, mas ela simplesmente me manda deixá-la em paz e informa que voltará logo. Ela provavelmente só quer agir como uma garota ousada na frente do Gustavo. Há poucos segundos, estava muito bem e, de um instante para o outro, assim que viu o garoto, começou a agir assim. Ela sabe o que está fazendo e vou dar um pouco de espaço pra ela. Só espero que ela não se arrependa.

Encaro minhas mãos ao invés disso, sentindo-me horrível nesse lugar. O que eu mais quero agora era ir embora e finalmente poder chorar contra meus travesseiros até adormecer. Eu ainda estou bem chateada depois de tudo e estar tão perto de Joaquim só piora as coisas.

Os garotos começam a conversar, incluindo Gustavo, e encaro as brasas na fogueira, tentando distrair meus pensamentos caóticos.

Logo percebo que a rodinha na minha frente consiste apenas nos amigos de Joaquim. Eu estou prestes a me afastar quando ouço:

— Foi bem arriscado, mas o Joaquim foi lá e jogou uma pedra enorme contra a vidraça da loja.

Meus ouvidos entram em alerta ao ouvir a conversa e finjo está com a atenção em outra coisa.

Do que eles estão falando?

Meu celular vibra e tenho que tocar na tela, deparando-me com uma mensagem de Beatriz.

— Lucas está me levando para um lugar reservado. Acho que vou dormir em outro lugar essa madrugada. Pega um táxi ou uma carona para a minha casa. A governanta vai abrir a porta para você.

Meus olhos se ampliam.

O que ela fez? Como ela pôde me deixar ali, assim?!

Droga!

— De toda forma, ontem foi pura adrenalina. — Jefferson, que até então estava calado, diz: – Depois de participarmos de uma racha, onde Joaquim ganhou de primeira, pichamos alguns muros e invadimos uma loja de madrugada, onde pegamos bebidas e cigarros antes de irmos embora. Foi divertido, mas eu não faria de novo.

Entro em choque.

Eles roubaram uma loja? Participaram de um racha e picharam muros? Joaquim estava envolvido nisso?

Não consigo controlar o espanto e levo minha mão à boca, abafando meu suspiro de choque.

Meus olhos encontram os de Joaquim e o seu sorriso desaparece quando ele se dá conta de que ouvi.

O garoto que me encara naquele momento não se parece com o meu antigo Joaquim. É apenas um garoto muito mau, que me machuca com palavras e ajudou a arrombar uma loja para conseguir bebidas e cigarros. Eu me enganei com ele esse tempo todo!

Sem conseguir suportar isso por mais tempo, fico de pé e saio dali, correndo em direção à saída.

Eu preciso de ar.

Ouço a voz masculina atrás de mim, mas o ignoro, enquanto as lágrimas molham meu rosto e embaçam a minha visão. Os soluços vêm em seguida e meu peito arde com a percepção de que tudo foi uma mentira esse tempo todo.

Alguém me faz parar ao puxar meu braço e suspiro de alívio por não ser Joaquim. É apenas Gustavo.

E ele está encarando minhas lágrimas nesse instante.

Por que ele me seguiu?

— Maitê! — ouço o grito do Joaquim e o vejo abrir caminho entre a multidão para me encontrar.

— Me leva para longe daqui. Por favor. — imploro para o Gustavo e ele não pensa duas vezes antes de dizer:

— Entra no carro!

Abro a porta e me sento no banco de trás enquanto ele rodea o carro até o banco de motorista. Atrás do volante, ele aciona o motor, e vejo quando Joaquim se aproxima do veículo e começa a esmurrar o vidro fechado. Ele parece transtornado e arrependido enquanto tenta chamar minha atenção, mas não cedo a isso. Ele foi longe demais!

E então o carro sai dali em alta velocidade e ainda tenho tempo de ver Joaquim encarando o carro em choque, antes de Gustavo se afastar e dobrar uma rua.

Naquele momento acho que Gustavo entende porque escolhi o banco de trás, ao invés de sentar ao lado dele.

Dessa forma eu posso chorar em paz.

Meu celular vibra em seguida e checo as diversas mensagens de Joaquim.

Leio a primeira.

Joaquim: — Por que entrou na porra do carro dele? Eu vou matar esse cara por te levar pra longe de mim.

Joaquim: Eu não queria que você ouvisse aquilo.

Maitê: — Me esquece. — consegui digitar.

Joaquim: — Eu te amo. Me perdoa, por favor. Sei que fui um lixo.

Logo meu celular começa a vibrar com sua ligação e, sem hesitar, bloqueio o seu número antes de recostar minha cabeça no encosto do banco, deixando a dor tomar conta dos meus sentidos.






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