capítulo 19

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Maitê

Duas semanas depois...

— E aí, vai ficar com essa cara pra sempre? — Beatriz me abordou no almoço.

Ela me seguiu para o refeitório após as aulas e é claro que não me questionou sobre meu comportamento taciturno. Até agora.

— Eu só... estou sem ânimo. — coloco o queixo sobre minhas mãos cruzadas encima da mesa.

Eu estou me sentindo péssima e esses últimos dias foram uma tortura. Confesso que Joaquim vem ocupando boa parte dos meus pensamentos, e suas palavras não saem da minha cabeça. Talvez no fundo eu realmente o tenha cansado e ele só achou uma oportunidade para jogar isso na minha cara. Mas ele foi tão mau comigo!

— Ainda é pelo que ele disse? — sussurra ao meu lado. Digamos que Beatriz sabe de tudo porque já contei. Não vi motivos para esconder isso dela.

Assinto e ela solta um suspiro.

— Esqueça isso.

— Parece fácil, mas não é. Isso fica me remoendo a cada dia.

— Ele te ligou alguma vez?

Nego com a cabeça.

— Olha só! Assim fica até mais fácil esquecê-lo. Deixe-o para lá. Não fique triste por ele, afinal Joaquim é um idiota e não merece, mesmo sendo bonito.

— Sim, ele não merece. — tento me convencer.

— Tenho uma ideia para acabar com essa tristeza. — ela murmura de repente. — Marcela me falou sobre isso de manhã.

— Quem é Marcela?

— A garota popular do terceiro ano. Eu a ouvi comentando com as amigas sobre uma festa. Aproximei-me e ela me disse que vai ser sábado à noite aqui mesmo em Vinhedo. Inclusive me deu as coordenadas, vai ser bem fácil chegar lá.

— Uma festa?

— Isso. Que tal você ir comigo? Vai ser divertido. Você pode dizer pros seus pais que vai dormir lá em casa. Os meus estão viajando.

— E se ele estiver lá?

— Joaquim? Acho pouco provável.

— Mas essa cidade é pequena, então é bem provável.

— Creio que não. Seria muita coincidência.

— Você acha?

— Sim. E então? Vamos? Vai ser divertido.

— Ok.

Ela amplia os olhos.

— Você está mesmo dizendo que aceita?

— Claro.

Não é nada mal espairecer um pouco, afinal esse isolamento só está me deixando pior. Preciso respirar ares novos.

— Oh, que bom! Só não se esqueça de dizer para os seus pais que vai dormir lá em casa. Sobre a roupa, a gente dá um jeito.

Assinto um pouco mais animada.


#*#



Joaquim

— Essa é minha arte! — zombo alto ao manchar a parede de uma via pública com spray vermelho.

Ouço a risada dos caras atrás de mim.

Acabamos de voltar de um racha ali perto, onde participei e ganhei uma grana ao vencer em primeiro lugar.

Foi adrenalina pura, mas eu ainda queria mais. Muito mais.

— É melhor a gente se apressar, cara. Antes que a polícia apareça. — Vitor disse divertido.

— Só um momento. — escrevo uma ofensa na parede antes de seguir os caras em nosso "tour" pela cidade.

#*#

— Que merda a gente acabou de fazer? — Igor está ofegante depois que invadimos a loja.

Checo se há câmera de segurança e logo tenho certeza que não. O estabelecimento está localizado em um bairro caído e a arquitetura do lugar é precária. Estamos com as máscaras escuras que Vitor conseguiu, além de camiseta com capuz, então ninguém irá nos reconhecer.

Além disso, já passa da meia noite.

— Nunca fiz isso antes. Que adrenalina! — Jefferson diz sem fôlego, puxando duas garrafas de bebida de uma prateleira.

Eu também nunca agi assim antes, mas pego outras garrafas e jogo na mochila enquanto os caras passeiam pela loja escura. Apenas algumas lanternas iluminam o caminho.

— Minha mochila está cheia. Temos bebidas suficientes para a festa de sábado. – Vitor sorri. — Se a polícia nos pegar, diremos que o plano foi do Joaquim.

Sorrio sem humor. — Que bom amigo você é.

O plano de roubar não foi meu, mas de Vitor. Mesmo assim eu estava ali e não fui obrigado. A adrenalina me fez agir sem pensar e quando me dei conta já estávamos depredando a loja e entrando. Nunca fiz algo do tipo antes, mas o caos ocasionado pela raiva do meu pai e pela distância de Maitê me impulsionou a isso.

Eu era um babaca impulsivo, mas não me importava.

Não naquele momento.

— Isso é arriscado pra caralho! — Igor lembra mais uma vez.

— Mas está sendo divertido, não é? — esboço um sorriso sob a máscara.

A maioria concorda.

Igor balança a cabeça e é nítido que ele está odiando a situação.

Então por que ele veio? Apenas para me vigiar como um irmão mais velho protetor?

— Esse não se parece você. Isso não combina contigo, cara. — Igor me encara com decepção. — Deixem as bebidas aí, e vamos embora.

Ele é o único com bom senso ali. Não me importo de qualquer forma.

— Igor está certo. — Lucas finalmente decide falar.

— Sim, ele está certo, mas vamos embora com as bebidas e alguns cigarros. — murmuro, apontando minha mochila e logo tomo a frente do caminho.

Ouço o suspiro frustrado de Igor e não me importo.

Nós nos reunimos do lado de fora e logo estamos seguindo em direção ao carro velho do Vitor e à moto ali perto. Ele aciona o motor do veículo e sai cantando pneu enquanto eu monto na moto com Igor e piloto em alta velocidade, seguindo o carro.

É uma viajem bem arriscada, considerando a velocidade, mas estou tão entorpecido que não dou a mínima.

Certo peso de consciência ganhar forma, no entanto eu o empurro para longe imediatamente.

E em todo o caminho, eu sinto o olhar decepcionado do meu melhor amigo sobre mim.





👀🤍




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