Joaquim
— Onde está meu dinheiro? — Luís exige assim que passo pela porta.
Imaginei que ele apareceria essa noite e essa é uma descoberta desagradável.
Enfio a mão no bolso da calça e puxo algum dinheiro antes de empurrá-lo com relutância nas mãos sujas do meu pai.
Ele sorri satisfeito e posso ver Davi e minha mãe encolhidos em um canto da parede. Provavelmente estão assustados enquanto não tiram os olhos do mais velho.
Eu espero que ele não os tenha machucado ou eu...
— Isso está bom por enquanto. — Luís enfia as notas no bolso. Sou capaz de sentir o cheiro forte de álcool e maconha à distância e isso está me deixando enojado. — Acho bom aumentar minha mesada da próxima vez ou vai sobrar pra eles. — aponta para minha mãe e Davi de forma depreciativa.
Cerro meus punhos.
Assinto, mesmo estando furioso. Não tenho muita opção quando esse idiota decide aparecer atrás de dinheiro para alimentar seus vícios. Eu preciso pagar ou minha mãe e meu irmão podem sair machucados. Eu sei do que Luís é capaz, pois vi com meus próprios olhos as constantes surras infligidas contra minha mãe no passado. E elas começaram assim que ele se tornou um viciado de merda depois dos meus onze anos.
Quando a violência se entendeu para mim, me esforcei para suportar desde que ele não tocasse na minha mãe. Mas assim que meu irmão nasceu, parei de ser o idiota covarde e passei a revidar com toda a força. Claro que o velho ficou com medo, então relaxou por um tempo. Poucos anos depois, entregou-se ao vício de vez e, ao invés de partir para a violência, saiu de casa e passou a ameaçar a própria esposa e o filho mais novo caso eu não o pagasse periodicamente.
E como eu sou o único que trabalha desde muito tempo, em empregos temporários, nem sempre posso ficar em casa fazendo vigília. E, quando eu não estou, meu pai pode fazer o pior e assim eu preciso pagar para mantê-lo à distância.
Eu não faço ideia de por onde ele dorme e não me importo desde que ele deixe minha mãe e meu irmão em paz. Mas, assim que eu tiver condições de alugar um lugar melhor que caiba no meu orçamento, levarei minha família para longe desse cara.
— Certo, seu babaca de merda. Agora você pode ir. — digo entredentes, fazendo-o soltar uma risadinha sem humor.
— Sim, mas voltarei em breve, fedelho. — e depois de dizer essas palavras, ele sai.
Bato a porta atrás dele, trancando-a logo depois.
Solto o suspiro que estava prendendo.
Minha mãe e Davi saem de onde estão e seguem em minha direção, aparentemente aliviados.
— Irmão! — o garotinho me abraça e eu o ergo em meus braços.
— Você está bem? — questiono.
— Sim. E estou feliz que você já está em casa.
Beijo seu rosto antes de colocá-lo no chão.
Abraço minha mãe. — Como ele entrou?
— Fiquei preocupada com sua demora e decidi abrir a porta e verificar se estava por perto. Nesse momento, seu pai já estava do lado de fora e entrou quando não fui rápida o suficiente para trancar a porta outra vez.
— Ele machucou vocês?
— Graças a Deus que não. — percebo que ela está visivelmente abalada e até imagino que o bosta do meu pai pode ter dito alguma coisa ruim para ela. — Sinto muito que precise entregar seu dinheiro suado nas mãos sujas de Luís. Sinto muito por ter deixado os estudos apenas para trabalhar mais do que trabalhava antes. É tudo culpa minha.
— Não repita isso, mãe. Vou cuidar de você e do Davi mesmo que precise dar a vida por isso. Nunca mais repita que é a culpada. Nenhum de nos é; apenas o miserável do Luís. Ele deveria nos deixar em paz, mas sempre encontra uma maneira de tornar nossas vidas um inferno.
— Espero que ele demore a nos procurar. — suspira, então decide mudar de assuntos. — Está com fome? Preparei macarronada. Sei que você adora isso.
— Sim. Não comi nada, então vou tomar um banho e trocar de roupa antes de jantar. — esboço um sorriso antes de seguir para o cômodo pequeno que divido com meu irmão. É um espaço quase minúsculo, mas conseguimos nos virar.
Nossa casa tem apenas quatro cômodos: a sala e a cozinha foram adaptadas em um único espaço; Temos um banheiro. Eu divido o quarto com Davi, enquanto minha mãe dorme em outro.
#*#
— Você é inegavelmente maluco. — Igor me encara depois que saio da casa.
A noite está razoavelmente fria, e alongo meus braços brevemente dentro da camisa moletom.
Está tarde e minha mãe já foi dormir assim como meu irmão. Sem sono, respondi a mensagem de Igor sobre encontrá-lo aqui fora. Ele tinha acabado de voltar da casa da namorada.
Como moro no quarto e último andar do prédio, eu posso ver as outras casas abaixo, com suas ruas estreitas e escuras. Seria uma visão tenebrosa para alguém novo na área, mas para quem já está acostumado, não é nada.
— Maluco por quê?
Eu acabei de relatar minha noite proveitosa na mansão do prefeito e as lembranças me fazem sorrir discretamente.
— Você quase transou com a filha do prefeito! — murmura, chocado com minha calma. — E bem embaixo do nariz dele. Sua coragem é admirável.
— Na verdade, não chegamos a nada mais íntimo. Apenas nos beijamos. Além disso, ela teve a iniciativa de me procurar; não o contrário.
— Garota corajosa. — comenta. — Depois que ela entrou na mansão, ainda se encontraram?
— Não. Decidi pegar meu pagamento e voltar para casa. Fiquei preocupado, pensando que Luís poderia aparecer. E infelizmente adivinhei.
— Por que esse merda não os deixa em paz? Ele já não causou danos o suficiente? — Igor sabe do meu relacionamento conturbado com meu pai; se é que ele pode ser chamado assim.
— Ele provavelmente se diverte ao assustar Davi e minha mãe. É um maldito covarde!
— Não tenho dúvidas disso. — ele coloca o capuz de sua camiseta na cabeça e faço o mesmo com o meu.
#*#
Depois que Igor vai para sua casa, eu me afundo no colchão macio estendido no chão. Meu irmão está ao meu lado, e faço cálculos mentais sobre comprar uma cama em breve. Pelo menos minha mãe tem uma e até pensou em cedê-la para mim, mas neguei. Ela merece muito mais do que eu, e o colchão grande é suficiente enquanto eu não compro algo melhor.
Davi acaba deitando a cabeça em meu torso durante o sono, e tento não me mexer muito enquanto observo a tela do meu celular.
Eu me sinto um perseguidor quando fotos de Maitê Campos começam a ser carregadas. Nem sei como fui parar em um site biográfico.
Acabo descobrindo que o anjo tem dezesseis anos, uma irmã e pais aparentemente distantes. Além disso, ela é estrela de muitas campanhas publicitárias desde criança. Estuda em uma escola de elite localizada em Campinas e não tem namorado. Pelo menos é o que o site diz.
Não passa de uma princesinha da alta sociedade, mas não me pareceu esnobe quando conversamos. Na verdade, percebi sua gentileza com os funcionários durante o evento. Mesmo assim, continua sendo a filha do prefeito e sua vida social não tem qualquer relação com a minha.
Embora eu pense isso, não consigo afastar Maitê da cabeça assim que me lembro do contato dos seus lábios macios contra os meus. Foi uma experiência marcante. Além disso, não sei o que ela viu em mim ao ponto de arriscar sua reputação.
Ao mesmo tempo, eu me julgo interiormente quando me dou conta de que salvei diversas fotos da garota na galeria do celular.
👀🔥
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Romance Proibido
RomansaMaitê Campos é filha do atual prefeito de Vinhedo e tem apenas dezesseis anos, mas uma vida cheia de regras e responsabilidades. Quando a adolescente conhece Joaquim Almeida em uma festa na mansão de sua família e toma uma decisão brusca, ela não im...