Fazia calor na noite de sexta-feira, enquanto Benjamin ajudava Lis a se arrumar para a difícil tarefa que tinham pela frente.
Todas as sextas Augusto ia até um dos seus cassinos clandestinos para perder algum dinheiro. Um vício da juventude que ele nunca tinha conseguido largar.
Era em meio a cartas e fumaça de cigarro que ele também fechava a maior parte das suas negociações.
- Chama-se Cor de Marte. – Lis disse sobre seu vestido em um chamativo tom de vermelho, enquanto Ben o fechava a suas costas.
- Poderia ter o seu nome. Você está estonteante.
A voz de Benjamin demonstrava o fascínio que Elisabete exercia sobre ele naquele instante.
- Mesmo com todos esses hematomas e cortes? Estou parecendo algum tipo de zumbi, tenho certeza.
Ele deixou escapar uma risada com a decepção dela em se arrumar em um dia em que seu rosto estava bastante comprometido. Não que fizesse diferença, ela estaria belíssima de todas as maneiras.
- A melhor dentre todos os zumbis!
Ben parou atrás dela, diante do espelho. Os dois tinham se arrumado o bastante para passarem despercebidos em um cassino luxuoso, mas, a expressão dele era de preocupação. Só ficaria tranquilo quando tudo aquilo acabasse, porque até então todo passo que davam se mostrava o caminho para uma armadilha.
- Quero que você fique com isso. – Disse, deslizando a mão sobre a dela, deixando ali algo que imediatamente foi reconhecido.
- Você guardou por todos esses anos? – Lis não pode esconder o choque. Nunca imaginou que aquilo ainda existia.
- Era meu amuleto da sorte. Eu acreditava que nada aconteceria comigo enquanto estivesse com ele.
- E por que está me dando agora?
- Porque não importa o que aconteça comigo, desde que você fique bem. Não, Lis, eu não vou aceita-lo de volta.
Ela encarou o item em sua mão. Era seu laço de cabelo, o mesmo que Ben tinha roubado dela há tantos anos atrás.
Ainda que seus olhos tenham ficado marejados, ela teve mais certeza do que nunca que precisava continuar com o plano. Precisava prender Augusto e livrar Benjamin desse peso para sempre.
Não havia outro modo de alcançar a tão sonhada paz.
- Apenas os seguranças da porta, você tem certeza?
- E o da sala administrativa, onde ficam as câmeras. Aqui. – Benjamin apontou para Flávio na planta da casa de aparência comum. Podia se tratar da casa de qualquer família daquele bairro.
- Aguardem o meu sinal. – O investigador respondeu, apontando para o próprio ponto eletrônico em seu ouvido.
- De quanto tempo você precisa? – Lis questionou, tentando esconder uma arma em algum lugar do seu vestido colado ao corpo.
- Enrolem ele por uns dez minutos.
- Seja rápido, Flávio. Não tenho mais lugar para receber machucados.
- Lis... Tome cuidado. – Ele pediu, seriamente. Sem poder conter a preocupação com sua parceira e amiga. Ela era quase uma filha para ele e ideia de que ela se ferisse era inconcebível demais para ser pensada.
Sorrindo para ele, Lis saiu do carro de vidros escuros junto de Benjamin e percorreram a pé a curta distância até a casa.
A equipe de Flávio daria conta dos seguranças e de assumir o controle das câmeras de vigilância. Ben tinha passado todas as informações necessárias para que eles adentrassem ao local e, de posse dos vídeos, teriam as provas finais do envolvimento de Augusto com o Flor de Copas, além de outros crimes.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas entre nós
RomanceElisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar. Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam. Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...