Vinte e três

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Lis mordiscava um pedaço de pimentão da pizza que estava largada sobre a bancada. Tinha tomado banho com Benjamin e agora vestia um felpudo roupão branco.

- Quem pede pizza vegetariana? – Ela perguntou, sorrindo para ele.

A indagação o fez dar uma pequena gargalhada. Para ele, era o melhor sabor que poderia existir.

O clima era mais leve agora. Ainda não tinham conversado muito, não houvera tempo para isso. Mas, Lis já não estava mais inexpressiva e Ben sentia um prazer que há muito estava adormecido.

Servindo-se de uma generosa fatia, ele sentou-se ao lado dela. Era bom estar ali. Se parasse de pensar um pouco até se esquecia que tanto tempo tinha se passado.

O som do celular de Lis chamou atenção deles. Só então ela se lembrou que Rafael queria conversar. Tudo parecia ter acontecido há muito tempo atrás e era ainda mais descabido naquele instante.

- Trabalho? – Benjamin questionou, indicando o telefone, quando ela o silenciou. Ainda estava um pouco preocupado com a possibilidade de ser preso, e agora somava que tinha colocado Lis em sua confusão.

- Não, mas tão chato quanto.

- Vai me dizer que eu tenho um concorrente? – O sorriso dele brilhava, como se a perspectiva de competir com alguém por Lis o divertisse. Talvez porque, no fundo, sabia que ocupava um lugar que nunca seria de outra pessoa.

- Há vinte e quatro horas atrás, sim. – Ela respondeu, sorrindo também e pescando mais um vegetal na pizza. - Terminamos ontem. Quer dizer, eu terminei...

- Pobre alma.

- Se você está tão compadecido eu posso atender e ir encontra-lo. – Lis brincou, tentando cutuca-lo, e viu que atingiu o objetivo quando o sorriso sumiu do rosto dele. – Inclusive, ele ia gostar de encontrar você. É o promotor do caso Flor de Copas.

- Puta que o pariu, Lis! – Benjamin não sabia se ria ou se desesperava com seu azar. Se antes Rafael já queria prendê-lo, agora então... – Não havia outras opções? Tinha que ser justamente o homem que quer me ver morto?

- Morto não, preso. Na época nós nem estávamos investigando o Flor de Copas, não seja tão egocêntrico. Sinto informar, Benjamin, mas eu não escolhia meus namorados pensando em você.

A frase pareceu atingi-lo em cheio, mas, ao invés de ficar indignado, ele se aproximou dela o suficiente para alcançar seu pescoço e deixar alguns beijos ali.

- Tem certeza?

O gesto era suficiente para que Lis amolecesse e ele sabia disso. Esperta, ela pulou da banqueta onde estava sentada e se afastou.

- Não comece de novo, Benjamin! – Ela tentava parecer séria, mas falhava e ria. – Deixe esse assunto para lá, eu não perguntei sobre as pessoas com quem você se envolveu, perguntei?

- Nada que fosse suficientemente memorável. – Ele respondeu, displicente.

- Quer dizer, então, que eu sou a única? – Tentando esconder sua empolgação juvenil com isso, Lis o encarava divertida.

Benjamin suspirou, sorrindo, e balançou a cabeça. Tinha vontade apenas de sorrir, tamanha felicidade que sentia. Como podia ter vivido todos esses anos sem isso? Lentamente ele se levantou e foi até ela, deixando que seus dedos percorrem alguns fios soltos de seus cabelos bagunçados.

- Você nunca se perguntou sobre o nome Flor de Copas?

Lis o encarou, e memórias de quando eram apenas jovens despreocupados tomou sua mente.

Cartas entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora