Elisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar.
Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam.
Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...
Lis aguardava a resposta para sua pergunta, mas Benjamin não parecia disposto a dá-la. Agora, era ele quem olhava fixamente para a quadra.
Era difícil imaginar que aquele era o mesmo Ben que ela amou um dia. E, talvez, ainda amasse, ao menos quando pensava naquela imagem. Mas, não o estava reconhecendo agora. Ele estava mais forte e sua postura era diferente, mas não era só isso.
Não havia nenhum sinal do Benjamin divertido, impulsivo e irônico que ele foi um dia. No máximo o que estava ali era uma cópia desbotada do antigo Ben. Já não se via mais o garoto impetuoso, mas sim um homem calculista.
Ele não a assustava. Fazia muito tempo que precisava mais do que essa pose para assusta-la. Mas, a machucava um pouco, mesmo que não quisesse admitir. Sonhou várias vezes em reencontra-lo e em nenhuma das opções seria assim. Imaginava qualquer coisa absurda e romântica para que ele voltasse para ela e recomeçassem de onde tinham parado.
Sabia que era uma ilusão. Com tanto tempo que havia se passado, era impossível encontrar a mesma pessoa de antes, mas... A tristeza vinha do pensamento de que nunca mais encontraria o Benjamin que tinha perdido.
- Você está atrapalhando os nossos negócios, Elisabete.
Nossos. Então, era isso. Benjamin tinha se rendido e assumido os negócios do pai, provavelmente sob a desculpa de protege-la.
O raciocínio dela ligou os pontos rapidamente. Tudo tinha acontecido muito depressa, porém só podia ser isso. Não havia outra opção.
- O Flor de Copas foi ideia sua? – Perguntou, sem meias palavras.
Isso atraiu a atenção dele, que entendeu, de repente, porque ela estava preocupando seu pai. Benjamin sorriu, mas não respondeu.
- Vamos, me diga, Benjamin. É você o Ás?
Ao invés de elucidar alguma coisa, a fala de Lis o deixou confuso. Elisabete revirou os olhos, porque ninguém entendia o que ela estava querendo dizer?
- A carta mais alta, o dono de tudo.
Sem entender, assistiu Benjamin rir. Sentiu uma pontada com o som de sua risada, era a primeira coisa vinda dele que a lembrava dos velhos tempos.
- Ás? Você acha mesmo que eu que mando nessa porra? Eu estou mais para curinga, se você quer saber.
- Eu devia prender você agora. – Lis respondeu, suspirando, enquanto reorganizava as próprias ideias.
- Eu estou aqui, por que não faz logo? – Benjamin repetiu a frase de Lis, que sorriu com a petulância dele. Ele podia ter mudado o quanto fosse, mas ainda era irritante.
- Por que me chamou? Por que só não me matou em algum momento qualquer? Eu sei que você poderia ter feito, Ben.
Passou pela cabeça de Lis a loucura que tinha sido vir para esse encontro. Em meio as muitas mensagens que Rafael tinha enviado, uma não era dele. Uma mensagem de um número anônimo tinha chegado logo antes de Flávio entrar em sua sala para chama-la para ir ao aeroporto e mais ninguém, a não ser Benjamin, poderia ter dito aquelas palavras.
"Bolo de chocolate, mímica e vôlei? Pracinha, hoje às 19."
Ele sabia que Lis arriscaria. Benjamin sempre seria um ponto fraco para ela, pelo menos até agora.
Os dois se encararam enquanto ela esperava uma resposta. Não era fácil para Ben olha-la assim. Era como uma difícil expedição ao passado, que se tornou ainda mais dura por ela chama-lo de Bem, seu velho apelido. Trouxe tantas lembranças de uma só vez... Ao mesmo tempo deixava evidente o abismo que os separava agora.
Sabia que, nesse momento, ele era o oposto de Lis. Mesmo que não tivesse nas mãos a missão de matá-la, ainda seria impossível ficarem juntos. Mesmo que pudesse inventar uma história qualquer, Benjamin decidiu ser sincero dessa vez, ao responder à pergunta de Elisabete. E, talvez, fosse a primeira vez que estava dizendo a verdade em dez anos.
- Eu queria ver você uma última vez.
Isso pareceu desestabilizar Lis, um fato inédito desde que chegaram ali. Viu quando ela piscou mais de uma vez, tentando não demonstrar o quanto essa frase significava para ela.
Sabendo que estava perdendo as forças, Lis voltou a fitar o jogo à sua frente.
- Vá embora, Benjamin, suma daqui.
Encontra-lo já iria custar para Lis toda uma confusão em sua investigação. Não fazia ideia de como daria os próximos passos agora que sabia quem estava por trás do Flor de Copas. Principalmente, porque se o entregasse teria que explicar por que o deixou fugir. Ela fechou os olhos com força, tentando voltar a raciocinar. Quando os abriu, Benjamin já não estava mais lá.
Lis ainda esperou um pouco mais para ir embora. Em partes porque não tinha certeza de que conseguia caminhar com naturalidade e em partes porque tentava assimilar tudo que tinha acontecido.
Todo o seu desejo desses dez anos tinha se materializado à sua frente... Da pior forma possível.
Levantou-se tentando focar seus pensamentos na simples tarefa de voltar para sua casa em segurança. Sua cabeça rodava, mas ela fazia um esforço para empurrar o assunto Benjamin para longe.
Sua mão tremia tanto que ela errou por diversas vezes o botão que destravaria as portas de seu carro, fazendo o alarme disparar. Isso denunciava o estado em que se encontrava.
Não podia dirigir assim, não até sua casa, pelo menos.
- Já vou! – Haro exclamou ao ouvir sua campainha tocar. – Quem pode ser a uma hora dessas? Silêncio, Pitoco, pare de latir! – Houve um momento de silêncio quando ele viu que era Lis quem estava em seu portão. - Elisabete? O que aconteceu?
Haro nem precisava dizer que a expressão de Lis deixava estampada todo o sofrimento pelo qual estava passando. Poucas vezes tinham visto ela assim, principalmente depois que se tornou uma policial.
Mas, ali, Lis sentia-se segura. Era um dos únicos lugares em que ela se sentia confortável em deixar cair sua armadura. Não pensou duas vezes em jogar seus braços sobre ele, que a amparou gentilmente, ainda sem entender o que a estava afligindo.
- Eu vi ele, Haro. Eu encontrei Benjamin.
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