Sete

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Lis imaginava que mais cedo ou mais tarde a paz de sua amizade com Ben terminaria. E isso não demorou a acontecer, mesmo que meses tivessem se passado até que seus pais descobrissem a amizade entre os dois.

- Eu estou falando que vi... Não foi ninguém que me contou. Eu vi os dois juntos! – Celeste parecia preocupada enquanto conversava com Antonio, pai de Lis, ambos sentados à mesa da cozinha.

- Ela já tem 12 anos, Celeste. Dê algum crédito...

- Você sabe de quem estou falando, Antonio? – A mãe perguntou, exasperada. – Ela se tornou amiga daquele menino que tem uma história de origem duvidosa. Ontem, conversei com a Maria Madalena e faz meses que as duas não se falam mais! Onde você acha que Elisabete estava quando dizia que ia para a casa dela?

Houve um silêncio quando Celeste levantou esse ponto e Lis, que eles não sabiam, mas ouvia tudo escondida após ter chegado mais cedo do colégio, deixou seu corpo deslizar pela parede que unia a cozinha e a sala. Lágrimas começavam a se formar em seus olhos e ela sabia que estava muito, muito encrencada. Tinha prometido que não encontraria mais Haro e Ben, e agora fora descoberto que mentiu o tempo todo.

- Sim, você tem razão... – Antonio respondeu, por fim. – Nós precisamos conversar com ela, principalmente em relação às mentiras. Mas... Você acha que é uma boa ideia tentar afasta-la do rapaz? Acho que quanto mais nós falarmos, mais ela vai fazer tudo escondido e piorar a situação. Você sabe como Lis pode ser teimosa. Talvez, se deixarmos que eles mantenham a amizade as coisas esfriem, e ela acabe se afastando sozinha...

Celeste olhou em dúvida para seu marido, ponderando se ele tinha razão no que dizia.

- Podemos tentar. Vou conversar com Elisabete hoje, quando ela chegar da escola... Mas, se isso não funcionar nós tomaremos medidas drásticas!

- Ok, ok. Faça isso. Se precisar, posso conversar com ela também. O que acha de chamar o garoto para vir até aqui?

A sugestão de Antonio fez Celeste erguer os olhos, assustada com o que ele estava sugerindo.

- Do que está falando? Eu acabei de falar que não a quero perto dele...

- Celeste, quanto mais próximo ficarmos desse garoto, menos interesse Lis terá. – Ele respondeu, como se estivesse explicando algo para uma criança. - Você se esqueceu de como é ser adolescente e sentir prazer nas coisas proibidas?

- Elisabete é só uma criança...

- Não, Celeste, ela não é mais uma criança... – Antonio disse, rindo com a maneira como a esposa se prendeu a Lis como se ela ainda fosse um bebê.

Achando que já tinha ouvido o suficiente, Lis levantou-se, decidida a sumir em seu quarto o mais rápido possível.

- Oi, gente! Cheguei! – Ela gritou da escada que sobe para os quartos, tentando dar a impressão de ter acabado de chegar e controlando sua voz para que parecesse alegre como todos os outros dias.

Subindo rapidamente, ela correu para o banheiro e lavou seu rosto das lágrimas que derramou há pouco. Seu pai dera alguma esperança de que ela pudesse manter a amizade com Ben, mas se eles achavam que havia alguma chance deles se afastarem, estavam muito enganados. Se antes já seria impossível ser afastada de Benjamin, agora a chance tinha diminuído ainda mais.

Não demorou muito para que Celeste entrasse no quarto da filha, surpresa por ela ter vindo mais cedo para casa.

A bronca que veio a seguir foi a maior da vida de Lis até então. E mesmo que tentasse contar sua versão da história, omitindo apenas fatos estratégicos, sua mãe ainda estava muito brava pelas mentiras que tinha contado.

Tudo piorou ainda mais quando ela deixou escapar que encontrava Benjamin na casa de Haroldo, mas Lis conseguiu amenizar a conversa quando a lembrou de como Haro tinha salvado os dois e a deixado em casa em segurança no dia que conhecera Ben.

Ao ver que tinha conseguido deixar a mãe sem argumentos, ela conseguiu tomar a palavra. Mesmo assim, se policiou completamente e escondeu a parte que saía escondido de casa à noite algumas vezes. Não sabia o que sobraria dela caso contasse sobre isso.

A contragosto, sua mãe por fim seguiu o conselho de seu pai e pediu para que Lis trouxesse Ben para uma visita em sua casa, mas só após a semana que ela ficaria de castigo por mentir.

Semana, é claro, em que Lis saiu escondida muitas vezes quando os pais estavam dormindo.



- Isso não vai dar certo, Lis. – Ben dizia para a garota enquanto eles caminhavam até a casa dela. – Seus pais vão me odiar, você vai ver.

- Não vão, Ben... – Ela tentava tranquiliza-lo, mas no fundo estava com tanto medo quanto ele. – Não teriam porquê não gostar de você...

Quando entraram na casa de Elisabete, Benjamin parecia o exemplo de um perfeito mini cavalheiro. Extremamente educado, sentou-se no sofá e quase não se moveu um centímetro sequer por todo o tempo em que ali ficou.

Os dois jogaram vídeo game na sala, sob o olhar atento de Celeste, que a cada pouco arrumava uma desculpa para pegar alguma coisa no cômodo em que eles ocupavam.

No fim, não tinha sido tão ruim assim, e a mãe de Lis não achou um motivo bom o suficiente para continuar implicando com Benjamin. A garota nem precisou insistir para que os pais permitissem que Benjamin a visitasse novamente.

No fundo, tinham até simpatizado com ele. Isso ficou evidente quando, da segunda vez que foi até a casa de Elisabete, sua mãe fez questão de fazer um bolo de chocolate.

Após perguntar para Lis sobre as coisas que Benjamin gostava de comer, Celeste descobriu que bolo de chocolate era um de seus favoritos. Faze-lo para Ben era um sinal de que a paz estava selada.

Por coincidência, era o mesmo bolo que ele tinha roubado da lancheira de Lis, tempos atrás.

Quando o doce foi servido, os dois sorriam confidentes. Apenas eles e Haro sabiam do roubo do bolo de Lis, e esse seria um segredo que estavam dispostos a guardar para sempre.

Era o primeiro de muitos segredos que eles compartilhariam com o passar do tempo, até que nada mais restasse.

Era o primeiro de muitos segredos que eles compartilhariam com o passar do tempo, até que nada mais restasse

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