Elisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar.
Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam.
Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...
O dia do jogo chegou chuvoso, um clima fechado, oposto de como Lis estava se sentindo. Eufórica, ela teve dificuldades para dormir e só conseguiu pegar no sono tarde da noite. Mesmo assim, acordou de manhã cedo com a disposição de uma verdadeira atleta.
Desceu correndo as escadas após tomar banho e se trocar. Encontrou seus pais na cozinha e sua mãe já tinha servido o café da manhã para ela. Ainda que seu estômago estivesse praticamente travado, ela insistiu em comer alguma coisa.
- Nossa jogadora favorita chegou! – Seu pai exclamou, assim que ela adentrou ao cômodo, recebendo um beijo de sua mãe em seguida.
- Está preparada, Lis? Quer comer algo especial? Fiz o pão na chapa que você adora!
- Não, mãe, obrigada. Estou bem, eu acho...
- Vai dar tudo certo! Sairemos assim que você terminar o café, ok?
Lis acenou positivamente para seu pai, tentando engolir o pedaço do pão que tinha mordido. Tinha que chegar cedo no colégio para se reunir com o time e ouvir as últimas instruções do seu professor.
Pensou em Benjamin e seu estômago deu outra volta. Será que tinha sonhado com tudo que aconteceu? Não via a hora de encontra-lo, ao mesmo tempo que o pensamento de o ver novamente a deixava automaticamente vermelha.
Não fazia a menor ideia do que falar para ele. Na verdade, a única coisa em que pensava era em beija-lo mais uma vez.
Sacudiu a cabeça, tentando fazer esses pensamentos desaparecerem. Precisava se focar no jogo. Era a primeira vez que o Pracinha chegava a final e o jogo com o Colégio Horto não seria nada fácil.
Terminando de tomar seu café, Lis arrumou suas coisas o mais rápido que pode e conferiu ao menos cinco vezes se tinha pegado tudo que precisava.
Foram de carro até o colégio a fim de evitar a chuva, ainda que a distância fosse curta, e Lis agradeceu porque assim sua ansiedade seria abrandada mais rapidamente.
Logo que viu seu time e o professor, ela sentiu-se recarregada com aquela energia que aparecia sempre que entrava em quadra, quando a ansiedade dava lugar para a determinação.
Ouvindo seu professor falar enquanto arrumava seu tênis, não havia mais medo, apenas foco.
Mas, uma coisa a estava incomodando bem lá no fundo: não tinha visto Benjamin ou Haroldo ainda.
A torcida do Pracinha cantava alguma música trocando o nome Horto por Morto, mas Lis não conseguia prestar atenção.
O jogo estava disputado e a garota tentava não desviar seus olhos da quadra. As poucas vezes em que fez isso, seus olhos buscaram Ben e não o encontraram, sendo motivo de segundos de hesitação que poderiam ser essenciais para o jogo.
A ideia de que Ben não tinha aparecido para vê-la jogar dava a Lis muitas ideias sobre o motivo, e todas elas pareciam ruins. A vontade era largar tudo como estava e ir atrás dele para descobrir o que tinha, de fato, acontecido. Mas, é claro, não podia fazer isso.
Tudo parecia robótico e Lis fazia exatamente o que estava programada para fazer. Nem mais, nem menos. Sua precisão ajudava o Pracinha a não perder pontos em demasia e, quando o juiz apitou o fim do jogo, Lis mal pode acreditar que tinham vencido.
Suas colegas correram até ela e todas se abraçaram. Conseguiram. Estava feito. O Pracinha tinha ganho pela primeira fez o campeonato estudantil.
O resto da comemoração passou como um borrão para Lis. Porém, não avistou Ben em nenhum momento. Ele não tinha vindo vê-la jogar e Lis não queria encarar o significado desse fato.
- Parabéns, amor! – Seus pais vinham até ela e a abraçavam, sorridentes. – Você foi um fenômeno!
- Exagerados! Você viu o Benjamin por aí, mãe?
- Não, não vi ele hoje... – Vendo que Lis tinha se abatido com a informação, completou: - Tenho certeza que ele tem um bom motivo, Lis. Podemos passar lá depois, o que acha?
- Sim, pode ser... Obrigada!
Sua mãe não sabia o que tinha acontecido no dia anterior, então achava que a tristeza de Lis era só pelo seu amigo não ter visto seu jogo final.
A entrega de medalhas foi uma mistura de emoções difíceis de descrever. Parecia algo surreal. De um lado, o que ela mais queria no último ano estava ali, em suas mãos. De outro, seu amor platônico por Benjamin parecia ser só isso mesmo. Platônico.
Queria chorar, e não sabia dizer se era de alegria ou tristeza. Talvez os dois sentimentos estivessem tão misturados que ficava difícil saber qual era qual.
Quando foi com seus pais até o carro, ponderou se realmente queria ir atrás de Benjamin. Tinha combinado que comemoraria a vitória com as meninas mais tarde e estava em dúvida se falar com ele não a deixaria ainda mais triste.
Mas, não saber o que tinha acontecido a consumia, não podia passar o dia inteiro pensando nisso sem ter certeza de nada. Afinal, eles eram amigos há tantos anos, será que Ben faria algo assim com ela?
Seu pai parou o carro na porta da casa de Haroldo e Lis pediu para que ele a esperasse por um momento, para caso Ben estivesse ocupado ou algo assim.
Caso ele tenha me dado um fora. Foi o que ela pensou, mas não quis dizer isso para seus pais.
Desceu do carro de forma temerosa e tocou a campainha. Esperou longos segundos e ninguém atendeu. Lançou um rápido olhar para seus pais e, dando de ombros, tentou abrir o portão, que cedeu com sua investida.
Na porta de entrada, aconteceu a mesma coisa. Bateu uma, duas, três vezes e não houve resposta. O carro de Haro estava ali e os cachorros estavam eufóricos no quintal, felizes por vê-la.
- Ei, meninos, já vou até aí ver vocês. Deixem-me só resolver isso antes...
Girou a maçaneta e a porta abriu, um silêncio tomava conta da casa.
- Haro? Oi? É a Lis! Estou entrando!
Ela não soube responder, quando foi perguntado várias vezes depois disso, por que se sentiu impelida a continuar entrando, mas, continuou.
E, quando chegou à cozinha, o que viu a fez gritar.
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