Seis

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Como o previsto por Haroldo, Lis voltou. E não só uma vez, mas sim quase todos os dias que ainda restavam de suas férias.

Na maioria das vezes ia durante o dia, quando fingia ir para a casa de Maria Madalena, mas, não era possível negar que algumas vezes ela escapuliu a noite novamente, mesmo sob os protestos de Haroldo, que sempre a lembrava dos perigos dessa atitude.

Elisabete e Benjamin criaram e dividiram várias brincadeiras, principalmente depois que ele passou a andar sem dificuldades, já curado dos ferimentos e sem dores.

Não eram poucas as vezes que passavam a tarde brincando de esconde-esconde ou perseguindo um ao outro pelo ferro velho, para desespero de Haro.

- Vocês vão se machucar e eu não quero nem saber! – Exclamava o homem para eles, quase o dia inteiro, mas, nunca era ouvido. No fim, sempre acabava rindo das brincadeiras atrapalhadas das duas crianças, porque era tudo que restava fazer.

Nas tardes chuvosas, Benjamin mostrou para Lis sua precoce habilidade com cartas de baralho.

- Essa é a que mais gosto. – Ela disse, apontando para as cartas que tinham corações vermelhos.

- Copas? A mais sem graça. Você só gosta porque é um coraçãozinho.

Benjamin sorria, propositalmente provocando-a e fazendo a menina revirar os olhos, aceitando as cartas que ele lhe entregava para iniciarem mais uma partida.

- Sem roubar dessa vez, Benjamin!

- Eu nunca roubo! – Ele respondeu com uma indignação incisiva demais para ser sincera.



Quando as aulas voltaram, Lis descobriu que a partir de então os preconceitos rondariam seu mundo. A primeira mostra dessa condição foi quando Madá parou de falar com ela ao descobrir sua amizade com Benjamin, alegando que não se misturaria com esse tipo de gente. Isso fez dele o único amigo verdadeiro de Lis.

As outras crianças pareciam teme-lo, ou então, assim como Maria Madalena, não queriam ser vistos com alguém que anteriormente era tão esquisito.

Lis não ligava, nunca tinha se divertido tanto!

- Elisabete! Benjamin! Silêncio! – Clara repreendeu-os com um sorriso mal disfarçado em seu rosto. Sua maior surpresa foi, após a volta as aulas, ver que Benjamin fizera uma amizade e, pela primeira vez, parecia verdadeiramente feliz. Eles mal tinham obedecido a professora quando a sineta do intervalo tocou e ela abriu a porta para todos saírem. – Benjamin, posso falar com você um minuto?

O garoto parou, dando de ombros para Lis, que tinha ficado junto a ele quando a professora chamou.

- Espero você nos jardins! – A menina disse, vendo que a professora queria falar unicamente com Benjamin. Ele observou ela dar-lhe as costas e correr para o novo lugar preferido dos dois. O jardim perto da quadra esportiva.

Benjamin aguardava o que a professora falaria com uma ansiedade crescente, que mal podia controlar. Não tinha feito nada de errado recentemente, qual má notícia ele receberia agora?

- Como você está? – Diante do silêncio do garoto, ela apenas continuou falando: - Seu pai conversou com a direção e – a menção a Augusto atraiu a atenção de Benjamin, que arregalou os olhos, amedrontado – disse que você está passando uma temporada com um parente, é isso mesmo? Fomos orientados a direcionar tudo sobre você para o... seu tio?

A cabeça do garoto parecia girar com a informação. Não sabia se ficava aliviado ou triste pelo abandono total de seu pai. Com medo de que a professora pudesse entrar em contato com ele novamente, tratou de confirmar a informação o mais rápido que pode.

Cartas entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora