Elisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar.
Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam.
Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...
Dez anos antes, naquele fatídico dia da final do jogo de voleibol no Pracinha, Ben acordou sentindo-se animado. Mal podia acreditar que Lis gostava dele! Não só como amigo, mas, talvez, como namorado também!
As férias estavam chegando e Benjamin já começava a fazer planos dos lugares que gostaria de visitar com Lis e, claro, beija-la.
Será que um dia a garota aceitaria namora-lo? Ben pensava em descobrir isso muito em breve. Ele não queria demorar ainda mais para dar esse passo, já tinha levado anos para o primeiro beijo.
Se antes já não conseguia tirar Lis da cabeça, agora parecia impossível. Tomou banho e se arrumou pensando em qual camiseta a agradaria mais. Azul ou preta? Droga, não sabia as cores favoritas de Lis para suas roupas!
Foi só quando já estava pronto, decidindo-se pela camiseta azul, que percebeu o silêncio que estava na casa. Será que Haro ainda não tinha levantado? Eles iriam se atrasar desse jeito!
- Haro? Você já está pronto? – Ben chamava enquanto se dirigia para a cozinha, esperando encontrar o homem ali, tomando café. - Não quero me atrasar para ver o jogo...
- Olá, Benjamin. Há quanto tempo não nos vemos.
Seus braços foram imobilizados por alguém muito maior que ele, antes mesmo que pudesse entender o que estava acontecendo. Mas, reconheceu a voz. A reconheceria mesmo que duzentos anos tivessem se passado.
Seu pai estava ali, na cozinha de Haro, acompanhado de homens que estavam dispostos a executar qualquer ação com apenas um estalar de dedos de Augusto.
Como se todo o sangue tivesse sido drenado de seu corpo, Benjamin sentiu-se gelado. Principalmente quando encarou Haroldo, amarrado e amordaçado em uma cadeira.
- Não adianta se debater, Benjamin, você só irá se machucar. – A voz de Augusto era suave como um veludo, enquanto brincava com algumas migalhas de pão que estavam sobre a mesa. Provavelmente Haro estava preparando o café da manhã quando foi dominado.
Apesar da postura tranquila, Ben sabia do que seu pai era capaz. Podia ver que o rosto de Haro já estava machucado e, pelo olhar que lançava para o garoto, ele suplicava silenciosamente para que Benjamin não tomasse nenhuma decisão absurda.
- O que você está fazendo aqui? – Ben cuspiu as palavras, tentando colocar toda a raiva que sentia nelas.
- Vim buscar você, meu filho. Senti saudades. – O sorriso irônico de Augusto traía as próprias palavras. Ele nunca sentiria saudades de ninguém, mas faria qualquer coisa por seus próprios caprichos.
- Eu não vou para lugar algum com você!
- Eu diria que você vai, quer apostar comigo? – Augusto ainda sorria e puxou uma cadeira para sentar-se, os olhos fixos em Benjamin. Lentamente, serviu-se de um pouco de leite puro e bebeu como se fosse a melhor bebida do mundo.
- Nunca! – Benjamin exclamou, mas já havia uma incerteza em sua voz, seu pai parecia muito seguro de si mesmo.
- Sabe, Benjamin, nunca aceitei bem ter me afastado de você, mas... Você estava me dando trabalho demais. Porém, sangue é sangue, e eu sei que você tem a inteligência de um verdadeiro Ramos. Preciso de alguém para dar continuidade aos meus negócios e não confiaria em mais ninguém que não fosse da família.
Agora era a vez de Benjamin sorrir. Seu pai estava ficando maluco se pensava que ele iria trabalhar com os negócios obscuros da família.
- Enquanto pensava sobre como poderia convencer você, descobri algumas coisas muito interessantes. Por favor...
Sinalizando para um dos homens que estava ao seu lado, ele se aproximou e colocou uma foto sobre a mesa.
Foi o suficiente para que o mundo de Benjamin desabasse.
Não, não, não. Ela não.
A foto de Elisabete estava ali, entre eles. Ela sorria para alguém. Talvez para ele mesmo.
- Não! Ela não! – Ele gritou, com fúria.
- Acalme-se, aceita um pouco de leite? O café ainda não ficou pronto. Eu ainda nem falei nada. Primeiro, vou demonstrar para você o que vai acontecer com ela se você se negar a me acompanhar.
Sem aviso, como se soubessem exatamente o que fazer, os dois homens que acompanhavam Augusto começaram a agredir Haroldo.
- Não! Parem! Por favor! – Benjamin se debatia contra os braços que o seguravam, mas não era forte o suficiente para se livrar. – Parem com isso, por favor! Pai!
- Definitivamente, eu não gostaria de ver a garota Elisabete passando por algo assim. Só depende de você, Benjamin. – Augusto voltou a tomar seu leite com uma expressão de prazer. Sabia que tinha vencido.
- Faça eles pararem, por favor! – Sentindo-se derrotado e responsável pelo estado de Haroldo, somado a ameaça sobre Lis, Benjamin sabia que só havia um caminho a seguir. – Por favor, pai... Pare com isso!
- Responda o meu convite, Benjamin. Você irá comigo e assumirá os negócios da família? Lembre-se, se voltar atrás em qualquer momento, eu a buscarei.
- Sim! Eu vou com você, faço o que for preciso... Só pare com isso, por favor! – O desespero de Benjamin sobrepunha qualquer outro sentimento que pudesse estar passando por ele. Nunca antes tinha se sentido tão fraco e humilhado, nem quando era ele que apanhava de Augusto.
Aliás, preferia que fosse ele no lugar de Haroldo. A dor de ver alguém que ele amava sendo machucado por sua culpa era mais do que ele podia suportar.
Benjamin iria embora. Partiria para nunca mais voltar, se isso significasse colocar em risco a vida das pessoas que ele amava. Seu coração doeu ainda mais ao pensar em Lis, mas precisava fazer isso. Precisava mantê-la em segurança.
- Eu preciso matar você.
A frase não teve o efeito que ele esperava. Ao invés de ficar assustada, Lis sorriu. Mais do que isso, ela riu e pela primeira vez desde que ele tinha chegado ali, virou-se para ele e o encarou.
- Você vai me matar? Estou aqui, por que não faz logo?
Os frios olhos de Benjamin ganharam algum calor quando encarados por Lis, que agora não ousava desviar o olhar. Mas, ele não respondeu. Como poderia? Achava que depois de tantos anos seria fácil. Foram anos mantendo-se afastado de qualquer tipo de emoção que o desestabilizasse. O mundo dele era composto por violência e dor. Não havia espaço para qualquer sentimento ou apego.
Mas, ali estava. Elisabete já não era mais a mesma, assim como ele. Porém, ele via um vislumbre da antiga Lis. O que será que ela enxergava ao encara-lo? Ainda existiria algum vestígio do velho Ben?
Diante da falta de resposta, Elisabete fez a pergunta que a assombrou nos últimos dez anos:
- O que aconteceu, Benjamin? Por onde você esteve todos esses anos?
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