A casa de Augusto, distante do centro da cidade, era tão escura e fria quanto ele. Benjamin odiava aquele lugar, principalmente por ter passado tanto tempo sendo obrigado a morar ali, até que fosse possível se mudar.
Se não fosse a ameaça a vida de Lis, ele não pretendia pisar naquela casa nem tão cedo. O plano era convence-lo o mais rápido possível de que ter Lis viva era uma boa ideia, afinal ela tinha acesso a informações que poderiam ser bastante úteis para os negócios.
Já era quase fim de tarde quando ele subiu as escadas que davam na entrada principal da grande casa branca. Seguranças apenas o olhavam de canto de olhos, não tendo coragem suficiente para encara-lo.
- Ora, ora, Benjamin. Espero que tenha vindo com boas notícias para mim. Apesar que não o vejo carregar nenhum corpo.
- Andei pensando...
- Não sei se você é um bom pensador.
- ... e acho que matar Elisabete só atrairia ainda mais a atenção da polícia. – Ben ignorou o comentário pejorativo do pai. Há tempos preferia desconsiderar as coisas ruins que ele dizia. – Ela seria muito mais útil nos passando informações.
- E como você pretende tirar essas informações dela? Na cama?
- Se for necessário...
Augusto gargalhou e Benjamin começou a ficar aflito com o rumo que a história estava tomando. Não demonstrou nenhum tipo de alteração, mas sentia-se gelado por dentro.
- Você diria que ontem houve necessidade?
As fotos foram jogadas na mesa e embrulharam o estômago de Ben. Eram fotos de Lis entrando no hotel, dos dois saindo no carro dela mais tarde, havia até mesmo uma sequência de Benjamin saindo pela manhã, pouco antes de Lis.
Ele continuou impassível. Não podia dar o gostinho para Augusto de saber que o desestabilizara.
- Eu precisava saber até onde ela sabia. – Deu de ombros, com uma falsa indiferença.
- Imagino que ela deve saber muitas coisas. Ah, a pequena Lis.
Em um movimento despretensioso, seu pai ligou a enorme televisão que ficava em seu escritório e a visão do que a tela mostrava fez, pela primeira vez, com que Benjamin vacilasse.
Ela estava ali. Amarrada em uma cadeira e Benjamin sabia exatamente onde era. Quantas vezes tinha sido espancado naquela sala quando Augusto o levou para morar naquela casa?
Lis estava machucada, seu olho estava inchado e um pequeno fio de sangue saía de seus lábios. Mas, ela não demonstrava dor ou medo. Estava inacessível, distante e enrijecida como uma rocha.
- Por que? Nós podemos ter muito mais sucesso com ela viva do que morta. – Benjamin tentou mais uma vez dissuadir Augusto, esforçando-se para não demonstrar que se importava, e nem que estava a ponto de arrancar a cabeça de Augusto naquele momento mesmo.
- Deixa eu te contar uma coisa, Benjamin. Eu não preciso dela para nos livrar de nenhuma investigação. A polícia nunca chegará até nós. Mas, eu precisava saber até onde iria sua lealdade.
- Em momento algum eu fui desleal. Eu estava buscando informações!
- Sim? Então, vamos até ela e você a mata diante dos meus olhos. Pode ser assim? Vamos?
Fechando as mãos sobre os braços da cadeira, Benjamin sabia que nunca conseguiria tocar em um só fio do cabelo de Lis. Mas, precisava ir até ela. Colocou-se de pé e aguardou que Augusto fizesse o mesmo, com aquele maldito sorriso irônico nos lábios.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas entre nós
RomanceElisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar. Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam. Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...