Cinco

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Já estavam na segunda semana desde o acontecido com Benjamin e todos os dias, sem faltar um sequer, Lis ligava para Haro perguntando sobre ele.

Agora, o homem acabara de desligar o telefone mais uma vez, olhando inconformado para Benjamin.

- Ela é persistente, Benjamin. Você deveria ceder de uma vez. Já vão fazer duas semanas que ela me liga todos os dias!

- Eu não quero vê-la! – O garoto respondeu, ficando furioso com a insistência.

- Abaixe o tom e venha aqui para trocarmos esses curativos. – Haro passou para a cozinha e Benjamin o seguiu, obediente. – Isso é tudo para que ela não veja seu rosto inchado ou tem alguma coisa a ver com um pedaço de bolo roubado?

Benjamin foi pego de surpresa pela pergunta e sentou-se desconfortavelmente em uma das cadeiras da cozinha. Não que alguma posição fosse melhor, já que todo o seu corpo ainda doía.

- Ela descobriu? – Ele perguntou, encarando o chão sujo da cozinha de Haro.

- Sim... A pequena Lis está longe de ser boba, como talvez você pense. E, a parte mais incrível, é que ela não está chateada com você. Talvez fosse legal da sua parte recebe-la, já que ela não contou para ninguém sobre o bolo e ainda salvou sua vida.

O silêncio de Benjamin era categórico e, assim que finalizou seus curativos, Haro o deixou sozinho na cozinha, com a esperança de que ele refletisse sobre as próprias atitudes.



Lis precisou se comportar perfeitamente por vários dias para que conseguisse de seus pais a liberação para sair de casa sozinha novamente.

Prometendo que não se desviaria do caminho por nada e nem ninguém, conseguiu ir para a casa de Madá sem que os pais a acompanhassem.

Sua mãe não viu quando Lis cruzou os dedos em suas costas ao prometer, o que a deixava livre de cumprir qualquer promessa.

Ela foi de verdade para a casa de Madá. O que ela não contou foi que saiu de lá muito mais cedo que o previsto e fez um pequeno desvio no caminho de volta para sua casa.

- Haro? Ei, Haro! – Lis já tinha tocado a campainha algumas vezes, mas ninguém atendera. O carro de Haro estava ali e havia movimento na casa, o que a levava a pensar que talvez ele não estivesse ouvindo-a, por isso chamava por seu nome.

Já estava desistindo e pensando no que dizer para sua mãe por voltar tão cedo para casa, quando a porta se abriu com violência e Lis se assustou ao se pegar encarando Benjamin.



Alguns momentos antes a campainha da casa de Haro tinha tocado e, espiando por uma fresta da janela, ele viu que se tratava de Lis.

- Atenda a porta, Benjamin. – Disse, tentando não por emoção nenhuma em sua voz.

- Não vou atender. – O garoto parecia emburrado, provavelmente percebendo a armadilha para onde estava sendo levado. – Sei quem é e não vou atender.

- Ah, não? Pois você vai sim! É a minha casa e são minhas regras! Pule dessa cama agora e vá atender a droga da porta!

Benjamin se encolheu por um instante, com os olhos brilhando de raiva ao encarar Haro. Vencido por não ter argumentos para não fazê-lo, levantou-se resignado.

Foi só Benjamin passar, andando desajeitadamente por conta das dores que sentia, que um sorriso estampou o rosto de Haro.

Garotos...

Cartas entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora